[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS]
Se você ainda não assistiu o último episódio da segunda temporada de Loki, evite esta matéria, pois ela contém spoilers
A segunda temporada de Loki chega ao fim com um momento arrebatador e grandioso até mesmo para os padrões megalomaníacos do MCU. E isso é fenomenal, porque é extremamente bem conduzido, criando o auge de um personagem para muitos já desgastado e sem serventia. Em “Glorioso Propósito”, o antigo Deus da Trapaça mostra que nunca é tarde para realmente mudar seu destino e ser aquilo que você quiser.
O episódio final começa exatamente de onde o anterior parou, com as linhas do tempo colapsando e Loki voltando no tempo para tentar reescrever a história. Porém, ter a passagem pra onde e quando quiser é apenas um dos desafios de se tentar salvar as múltiplas realidades que não param de surgir. E se quiser realmente salvar o dia, Loki precisa estar disposto a colocar a perder tudo e todos em sua vida. Nesse ponto, o sacrifício poderia até não ser tão difícil, já que Loki está acostumado a perder. Só que essa versão conseguiu amigos, conseguiu um propósito. E abrir mão disso não é fácil. Do outro lado da balança, são as vidas de todos os seres existentes em todas as dimensões que estão em risco, incluindo a de seus amigos. Então, para salvar quem ama, ele vai precisar deixar o egoísmo de lado.
E cá entre nós, ele não precisava disso. Mesmo sabendo do fim próximo, Loki poderia apenas ter voltado no tempo para aproveitar a vida ao lado de quem ama, sempre voltando no tempo quando o fim estivesse próximo, mas se tem algo que a série mostrou é que ele entende agora ter um papel maior nessa existência.
O episódio é todo conduzido como uma grande despedida. Os coadjuvantes aparecem para ter uma última interação com Loki, enquanto ele viaja pelo tempo e espaço atrás de literalmente todas as alternativas para salvar a existência. O momento mais icônico é justamente quando ele enxerga que não adianta ficar viajando sem ter o conhecimento para resolver os problemas. Ele pergunta a Ouroboros (Ke Huy Quan) quanto tempo demoraria para aprender tudo que ele sabe. E mesmo com ele dizendo que tomaria séculos de sua vida, Loki passa literalmente séculos estudando para salvar quem ama. É muito impactante, mesmo sabendo que ele é um Deus com pelo menos 1.505 anos. Ele passa praticamente toda a sua existência com a cara nos livros para estar pronto caso o Tear Temporal volte a colapsar. E pasme: ele colapsa.
Diante do entendimento de que o Tear nunca vai conseguir comportar a quantidade infinita de linhas temporais que surgem a todo momento, Loki compreende que não adianta insistir na máquina. Se ele quiser salvar a todos, vai precisar abrir mão de estar com eles. Assim, no mais grandioso momento do Universo Cinematográfico Marvel, ele abre mão de sua própria existência para se tornar um tipo de Tear vivo. Dessa forma, Loki abdica de seu direito de ir e vir para se tornar uma entidade, o elo vivo que garante a existência de tudo e todos em todo lugar. Demorou, mas o menino destinado a ser rei, sequestrado de seu lar e impedido de governar, forjou seu próprio trono. Não de um reino, mas da realidade em si. Loki se tornou o próprio tempo.
Com o dia salvo, a AVT passou a trabalhar para impedir que Kang e suas variantes voltem a tomar o controle, para impedir uma guerra Multiversal.
Por se tratar de uma despedida, a direção apostou bastante no uso do primeiríssimo plano, com muitos diálogos conduzidos rosto a rosto, dando a impressão de que Loki e os coadjuvantes falavam diretamente com o público. E diante da falta de confirmação de uma terceira temporada, parece que foi mesmo uma despedida. Ah sim, a decisão de colocar o Loki manejando as linhas do tempo ao seu redor, formando uma gigantesca Yggdrasil, o centro do universo na mitologia nórdica, foi um toque de mestre. Mérito também do excelente texto de Eric Martin, que direcionou essa temporada por caminhos e desenvolvimentos que a primeira jamais sonhou. Além, claro, de conseguir surpreender até os mais “experientes” no storytelling da Marvel.
Mas o grande destaque mesmo é a atuação de Tom Hiddleston. Há 12 anos no personagem, o britânico não para de surpreender, explorando nuances e zonas que o público jamais imaginou. Passando a emoção necessária de forma magistral. Ele é o rosto e a alma do show.
Por fim, ao longo de quase 1h, “Glorioso Propósito” fecha com chave de ouro a série, mas deixando caminhos muito promissores para os próximos filmes. E agora fica a curiosidade para saber como será a próxima visita ao Loki, porque definitivamente não foi um adeus, mas um até logo.