Uma família disfuncional, com uma mãe e duas filhas adolescentes. Então, Shannan, a filha mais velha e distante liga, a mãe pede dinheiro emprestado e a filha diz que vem jantar no dia seguinte. Shannan não aparece. Passam-se alguns dias, a mãe tenta contactá-la, mas a jovem não responde o celular e ninguém sabe dela. Começa assim o drama de Mari Gilbert.
Baseado numa história real – retratada no livro escrito por Robert Kolker -, o suspense dramático da Netflix constrói uma atmosfera mais dramática do que investigativa, porque boa parte do longa acompanha a angústia da família por notícias da filha desaparecida, seu envolvimento com outras famílias que aparecem na trama e o carrossel de emoções que Mari passa perante a incompetência da polícia local, incapaz de seguir uma linha de investigação reta, precisa e imparcial.
Embora o filme tenha Gabriel Byrne (no papel do comissionário Dommer), um dos pontos interessantes do longa é que ele tem um elenco quase todo composto por mulheres: Mari Gilbert (Amy Ryan), Sherre (Thomasin McKenzie), Sarra (Oona Laurence), além das mães e irmãs que aparecem na trama. Isso não é por acaso: ao rechear seu elenco com mulheres, o filme dirigido por Liz Garbus faz uma escolha sobre o ponto de vista que quer contar: o delas.
Ao optar por acompanhar o lado da família Gilbert na história, o roteiro de Michael Werwie constrói uma crítica social relevante, que é o fato da polícia ser seletiva com quem da sociedade tem a preferência no socorro e quais são os cidadãos que, pelo viés da força maior, não são contemplados com o socorro policial com a mesma eficiência. A crítica também vale para a imprensa, que, ao tratar de casos de feminicídio, tende a escolher palavras que colocam as mulheres como as causadoras dos próprios crimes sofridos por elas, julgando-as pela sua condição social, de trabalho, suas origens etc.
A bem da verdade, a crítica social é o ponto mais interessante desse ‘Lost Girls – Os Crimes de Long Island’ (aliás, por que não deixaram apenas o subtítulo né?), que, com dissemos, se inclina mais pro drama do que pro suspense policial. É um filme interessante, baseado numa terrível tragédia real, que ajuda a refletir sobre como e porque crimes assim continuam a acontecer em todos os locais – até mesmo nos paraísos que parecem perfeitos, como Long Island.