sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | ‘Love, Victor’ se despede com uma 3ª temporada recheada de reviravoltas e emoções

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Em 2018, a comédia romântica ‘Com Amor, Simon’ foi lançada nos cinemas e se consagrou como um dos melhores filmes do ano ao usar as fórmulas do gênero para construir uma narrativa bastante divertida e destinada a um público específico que, até então, não tinha muita representatividade considerável nas telonas. O sucesso gigantesco do longa-metragem levou Isaac Aptaker e Elizabeth Berger a expandir esse universo com uma série despretensiosa intitulada ‘Love, Victor’. É claro que, apesar de nutrir de similaridades com o filme original, a produção conseguiu encontrar uma clara linha narrativa que não servisse como uma cópia barata, mas lidasse com outros problemas além da identidade de gênero e a orientação sexual de seu protagonista.

Dois anos depois da estreia oficial da série, o público retorna uma última vez para Creekwood e dá adeus a personagens que aprenderam a amar, despedindo-se com um instigante, ainda que um pouco desequilibrado finale que, de fato, irá deixar saudades. Nos oito episódios finais, acompanhamos Victor (Michael Cimino) completando sua jornada de autodescoberta e percebendo que deve tomar decisões complexas sobre como seguir com a vida em meio a turbulências amorosas, realizações impactantes e uma constante evolução que não diz respeito apenas a ele, mas também a sua família e a seus amigos.



O aspecto mais emblemático da série talvez seja a multiplicidade de importantes temas trazidos às telinhas: obviamente, temos a força-motriz de Victor se descobrindo como um garoto gay e tendo a oportunidade única de encontrar um amor verdadeiro no colégio, porém, lidamos com um enfrentamento cultural e tradicionalista das origens da família do protagonista. Diferente de Simon, que cresceu em um ambiente de mentalidade aberta, Victor provém de um núcleo latino e conservador que vê as estruturas seculares de sua criação se desmantelarem quando o personagem revela quem realmente é e propulsiona seus entes queridos a se desvencilhar de crenças que podem ameaçar um sólido relacionamento. Na terceira temporada, Armando (James Martinez) e Isabel (Ana Ortiz) entram em paz consigo mesmos e com Victor, e procuram reestabelecer as conexões que perderam brevemente – com destaque a Ortiz fazendo um trabalho magnânimo e complexo de redenção.

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Mais do que isso, mergulhamos em outros assuntos que auxiliam a manter o dinâmico ritmo dos episódios: Pilar (Isabella Ferreira) e Felix (Anthony Turpel) começam a se relacionar a enfrentar problemas que, a princípio, parecem superficiais, mas denotam uma necessária discussão sobre o conceito de família e a responsabilidade afetiva; Lake (Bebe Wood), depois de terminar com Felix, passa por um processo difícil de transição em que encontra conforto com a adorável e despreocupada Lucy (Ava Capri), além de enfrentar a personalidade tóxica e passiva-agressiva da mãe (Leslie Grossman); Rahim (Anthony Keyvan) passa por uma decepção amorosa e demonstra um outro lado do preconceito sofrido pela comunidade LGBTQIA+, considerando que é muçulmano, iraniano e afeminado dentro de uma sociedade que o pinta como pária; e Benji (George Sear) se vê numa espiral de emoções que o arrasta de volta para o alcoolismo que quase tirou sua vida no passado.

É notável como a série permite se afastar do teor bonançoso da temporada inicial, em que a ingenuidade de começar uma vida nova e se aventurar pelo medo de encarar a verdade era o principal mote; aqui, até mesmo os escapes cômicos insurgem através de uma dura compreensão do mundo, como se as quebras de expectativas estivessem atreladas intrinsecamente a um melodrama coming-of-age, prenunciando as várias resoluções do último episódio. Essa mesma ousadia construtiva é o que, de modo inadvertido, se acumula em uma profusão desregulada de subtramas que devem correr para se concretizar antes dos minutos finais: como revelado nos parágrafos anteriores, os diversos eventos nos mantém presos às telinhas para saber o que vai acontecer, mas são infundidos em um frenesi de causas e consequências que apostam numa simbiose à la deus ex machina para solucionar os problemas apresentados.

Enquanto o desbalanceamento rítmico posa como o principal obstáculo enfrentado pela temporada final, as boas intenções e a performance do elenco são elementos fortes o suficiente para nos esquecermos dos deslizes: Cimino rouba os holofotes, como vinha fazendo nos episódios anteriores, mas permite que seus companheiros de tela tenham seus respectivos momentos de glória. Ademais, é sempre reconfortante assistir a uma produção que promova uma fuga da realidade e nos convide a uma simples e funcional caminhada pelo explosivo universo adolescente e por um cosmos marcado pelo conflito intergeracional e ideológico.

‘Love, Victor’ termina de forma consideravelmente aprazível, fazendo o possível para se esquivar das limitações criativas e técnicas a fim de se manter fiel à premissa apresentada lá na primeira temporada. Mesmo com os tropeços, os episódios finais se consagram como uma sólida conclusão que amarra as pontas soltas e nos deixa com o conhecido gostinho agridoce de despedida e saudade.  

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2018, a comédia romântica ‘Com Amor, Simon’ foi lançada nos cinemas e se consagrou como um dos melhores filmes do ano ao usar as fórmulas do gênero para construir uma narrativa bastante divertida e destinada a um público específico que, até então, não tinha muita representatividade considerável nas telonas. O sucesso gigantesco do longa-metragem levou Isaac Aptaker e Elizabeth Berger a expandir esse universo com uma série despretensiosa intitulada ‘Love, Victor’. É claro que, apesar de nutrir de similaridades com o filme original, a produção conseguiu encontrar uma clara linha narrativa que não servisse como uma cópia barata, mas lidasse com outros problemas além da identidade de gênero e a orientação sexual de seu protagonista.

Dois anos depois da estreia oficial da série, o público retorna uma última vez para Creekwood e dá adeus a personagens que aprenderam a amar, despedindo-se com um instigante, ainda que um pouco desequilibrado finale que, de fato, irá deixar saudades. Nos oito episódios finais, acompanhamos Victor (Michael Cimino) completando sua jornada de autodescoberta e percebendo que deve tomar decisões complexas sobre como seguir com a vida em meio a turbulências amorosas, realizações impactantes e uma constante evolução que não diz respeito apenas a ele, mas também a sua família e a seus amigos.

O aspecto mais emblemático da série talvez seja a multiplicidade de importantes temas trazidos às telinhas: obviamente, temos a força-motriz de Victor se descobrindo como um garoto gay e tendo a oportunidade única de encontrar um amor verdadeiro no colégio, porém, lidamos com um enfrentamento cultural e tradicionalista das origens da família do protagonista. Diferente de Simon, que cresceu em um ambiente de mentalidade aberta, Victor provém de um núcleo latino e conservador que vê as estruturas seculares de sua criação se desmantelarem quando o personagem revela quem realmente é e propulsiona seus entes queridos a se desvencilhar de crenças que podem ameaçar um sólido relacionamento. Na terceira temporada, Armando (James Martinez) e Isabel (Ana Ortiz) entram em paz consigo mesmos e com Victor, e procuram reestabelecer as conexões que perderam brevemente – com destaque a Ortiz fazendo um trabalho magnânimo e complexo de redenção.

Mais do que isso, mergulhamos em outros assuntos que auxiliam a manter o dinâmico ritmo dos episódios: Pilar (Isabella Ferreira) e Felix (Anthony Turpel) começam a se relacionar a enfrentar problemas que, a princípio, parecem superficiais, mas denotam uma necessária discussão sobre o conceito de família e a responsabilidade afetiva; Lake (Bebe Wood), depois de terminar com Felix, passa por um processo difícil de transição em que encontra conforto com a adorável e despreocupada Lucy (Ava Capri), além de enfrentar a personalidade tóxica e passiva-agressiva da mãe (Leslie Grossman); Rahim (Anthony Keyvan) passa por uma decepção amorosa e demonstra um outro lado do preconceito sofrido pela comunidade LGBTQIA+, considerando que é muçulmano, iraniano e afeminado dentro de uma sociedade que o pinta como pária; e Benji (George Sear) se vê numa espiral de emoções que o arrasta de volta para o alcoolismo que quase tirou sua vida no passado.

É notável como a série permite se afastar do teor bonançoso da temporada inicial, em que a ingenuidade de começar uma vida nova e se aventurar pelo medo de encarar a verdade era o principal mote; aqui, até mesmo os escapes cômicos insurgem através de uma dura compreensão do mundo, como se as quebras de expectativas estivessem atreladas intrinsecamente a um melodrama coming-of-age, prenunciando as várias resoluções do último episódio. Essa mesma ousadia construtiva é o que, de modo inadvertido, se acumula em uma profusão desregulada de subtramas que devem correr para se concretizar antes dos minutos finais: como revelado nos parágrafos anteriores, os diversos eventos nos mantém presos às telinhas para saber o que vai acontecer, mas são infundidos em um frenesi de causas e consequências que apostam numa simbiose à la deus ex machina para solucionar os problemas apresentados.

Enquanto o desbalanceamento rítmico posa como o principal obstáculo enfrentado pela temporada final, as boas intenções e a performance do elenco são elementos fortes o suficiente para nos esquecermos dos deslizes: Cimino rouba os holofotes, como vinha fazendo nos episódios anteriores, mas permite que seus companheiros de tela tenham seus respectivos momentos de glória. Ademais, é sempre reconfortante assistir a uma produção que promova uma fuga da realidade e nos convide a uma simples e funcional caminhada pelo explosivo universo adolescente e por um cosmos marcado pelo conflito intergeracional e ideológico.

‘Love, Victor’ termina de forma consideravelmente aprazível, fazendo o possível para se esquivar das limitações criativas e técnicas a fim de se manter fiel à premissa apresentada lá na primeira temporada. Mesmo com os tropeços, os episódios finais se consagram como uma sólida conclusão que amarra as pontas soltas e nos deixa com o conhecido gostinho agridoce de despedida e saudade.  

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