sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | Lovecraft Country – 01×08: Jig-a-Bobo

Depois de algumas semanas tropeçando nas próprias metáforas e numa ousadia desmedida que ia de lugar nenhum a nenhum lugar, Lovecraft Country voltou aos trilhos nesta última semana com o melhor episódio da série até agora. Intitulado “Jig-a-Bobo”, o oitavo e antepenúltimo episódio transformou-se em uma ode ao drama racial e ao terror slasher de modo impecável, conseguindo atribuir a cada um dos personagens apresentados um foco em específico sem se valer de alegorias complexas – e até mesmo investindo em certas respostas que há muito deveriam ter sido entregues ao público. E, em companhia de atuações de tirar o fôlego e uma atmosfera movida pela tensão e por reviravoltas aplaudíveis, Misha Green se reencontrou consigo mesma e aumentou nossas expectativas para os capítulos finais da temporada de estreia.

Depois do desaparecimento metafísico de Hippolyta (Aunjanue Ellis), a relação entre a jovem Diana (Jada Harris) e o mundo começa a se complicar ainda mais. Afinal, não fazia muito tempo que ela perdera o pai, George (Courtney B. Vance) sob circunstâncias misteriosas e, agora, não tem ideia de onde a mãe está – visto que ela partiu numa jornada para continuar os escritos do guia de viagem para negros do marido, mas não deu as caras até agora. Como se não bastasse, ela também lida com o brutal assassinato do melhor amigo, que reúne toda a comunidade negra do bairro onde mora para protestar contra a violência policial e o contínuo movimento racista que insiste em retomar as ideias supremacistas da Era Jim Crow. Perdida e desamparada, ela não sabe mais em quem confiar e, quando resolve tirar um tempo para si mesma, é abordada pelo Capitão Seamus Lancaster (Mac Brandt), que lhe faz perguntas estranhas sobre magia e lança sobre ela uma perigosa maldição.



Diana é o âmago dessa mais nova narrativa, ao redor da qual os outros personagens gravitam. A jovem parece não saber exatamente como lidar com as incessantes tragédias que pincelam sua vida e, dessa forma, começa a duvidar de sua própria sanidade e das pessoas que convivem com ela, como Tic (Jonathan Majors), que esteve presente no momento em que Hippolyta desapareceu – e faz uma revelação incrível que esperamos ser utilizada nos próximos episódios: ao ser sugado pelo portal multidimensional, ele viajou para o futuro e tomou posse de um romance escrito por seu filho ainda não nascido (que leva o nome da própria série) e que conta eventos estranhamente similares aos que os protagonistas vivem – o que leva Tic a questionar sobre suas atitudes e o que o aguarda nessa incerteza nebulosa.

Leti (Jurnee Smollett), por sua vez, permanece atada ao arco de Tic – ainda mais por estar grávida de seu filho, sem que ele saiba -, mas ergue-se em sua independência e no prospecto de que algo ruim e maligno está prestes a acontecer. Afinal, Tic deseja lançar um dos feitiços de proteção em virtude de ameaças mundanas e sobrenaturais que ele e as pessoas que ama vêm recebendo – mas não sabe o que isso pode acarretar. É por essa razão que Leti entra em contato com a misteriosa e poderosa Christina (Abbey Lee) para que o torne invulnerável a quaisquer forças que tentem destruí-lo e, como já poderíamos esperar, nada é exatamente o que parece ser e, em vez de protegê-lo diretamente, dá a Leti o poder da Marca de Caim para que ela possa curá-lo como bem entenda.

Essa talvez seja a primeira vez em várias semanas que o espectro antológico dos episódios deixa de existir para gerar uma amálgama narrativa convergente para cada persona até então apresentada. George e Hippolyta, ambos mencionados com um negativismo póstumo, auxiliam Diana a entender que é dona da própria vida e que tem o poder de se postar perante as adversidades – enfrentando seus algozes e fazendo com que sua voz seja ouvida. Leti e Tic, por sua vez, são drenados para um cosmos povoado pelas criaturas mais perigosas do mundo: o próprio homem. É interessante ver como Green, que também assume a cadeira de direção pela primeira vez, funde o útil ao agradável no que podemos apenas compreender como a iteração mais coesa e envolvente da produção. E, como a cereja do bolo, as questões raciais ganham uma camada de exímia profundidade, afastando-se do panfletarismo político visto em “I Am.” ou em “Holy Ghost” e abrindo portas para uma crua simbologia que nutre forças do discurso de Naomi Wadler sobre a violência contra mulheres negras.

Ruby (Wunmi Mosaku) não é deixada de lado e volta a se metamorfosear em seu alter-ego branco para fugir da cirúrgica e temerosa realidade em que vive – porém, de um jeito em que acredite retomar o controle. É claro que, manipulada por Christina e pelas oportunidades que a magia pode garantir-lhe, ela não enxerga as peças que faltam e se encontra num beco sem saída. Entretanto, nada se compara ao literalmente explosivo e inesperado finale que, no final das contas, é o que representa o melhor de Lovecraft Country e garante aos fãs desse panteão de terror que ainda há muito a se contar, ainda que o fim seja iminente.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Depois do desaparecimento metafísico de Hippolyta (Aunjanue Ellis), a relação entre a jovem Diana (Jada Harris) e o mundo começa a se complicar ainda mais. Afinal, não fazia muito tempo que ela perdera o pai, George (Courtney B. Vance) sob circunstâncias misteriosas e, agora, não tem ideia de onde a mãe está – visto que ela partiu numa jornada para continuar os escritos do guia de viagem para negros do marido, mas não deu as caras até agora. Como se não bastasse, ela também lida com o brutal assassinato do melhor amigo, que reúne toda a comunidade negra do bairro onde mora para protestar contra a violência policial e o contínuo movimento racista que insiste em retomar as ideias supremacistas da Era Jim Crow. Perdida e desamparada, ela não sabe mais em quem confiar e, quando resolve tirar um tempo para si mesma, é abordada pelo Capitão Seamus Lancaster (Mac Brandt), que lhe faz perguntas estranhas sobre magia e lança sobre ela uma perigosa maldição.

Diana é o âmago dessa mais nova narrativa, ao redor da qual os outros personagens gravitam. A jovem parece não saber exatamente como lidar com as incessantes tragédias que pincelam sua vida e, dessa forma, começa a duvidar de sua própria sanidade e das pessoas que convivem com ela, como Tic (Jonathan Majors), que esteve presente no momento em que Hippolyta desapareceu – e faz uma revelação incrível que esperamos ser utilizada nos próximos episódios: ao ser sugado pelo portal multidimensional, ele viajou para o futuro e tomou posse de um romance escrito por seu filho ainda não nascido (que leva o nome da própria série) e que conta eventos estranhamente similares aos que os protagonistas vivem – o que leva Tic a questionar sobre suas atitudes e o que o aguarda nessa incerteza nebulosa.

Leti (Jurnee Smollett), por sua vez, permanece atada ao arco de Tic – ainda mais por estar grávida de seu filho, sem que ele saiba -, mas ergue-se em sua independência e no prospecto de que algo ruim e maligno está prestes a acontecer. Afinal, Tic deseja lançar um dos feitiços de proteção em virtude de ameaças mundanas e sobrenaturais que ele e as pessoas que ama vêm recebendo – mas não sabe o que isso pode acarretar. É por essa razão que Leti entra em contato com a misteriosa e poderosa Christina (Abbey Lee) para que o torne invulnerável a quaisquer forças que tentem destruí-lo e, como já poderíamos esperar, nada é exatamente o que parece ser e, em vez de protegê-lo diretamente, dá a Leti o poder da Marca de Caim para que ela possa curá-lo como bem entenda.

Essa talvez seja a primeira vez em várias semanas que o espectro antológico dos episódios deixa de existir para gerar uma amálgama narrativa convergente para cada persona até então apresentada. George e Hippolyta, ambos mencionados com um negativismo póstumo, auxiliam Diana a entender que é dona da própria vida e que tem o poder de se postar perante as adversidades – enfrentando seus algozes e fazendo com que sua voz seja ouvida. Leti e Tic, por sua vez, são drenados para um cosmos povoado pelas criaturas mais perigosas do mundo: o próprio homem. É interessante ver como Green, que também assume a cadeira de direção pela primeira vez, funde o útil ao agradável no que podemos apenas compreender como a iteração mais coesa e envolvente da produção. E, como a cereja do bolo, as questões raciais ganham uma camada de exímia profundidade, afastando-se do panfletarismo político visto em “I Am.” ou em “Holy Ghost” e abrindo portas para uma crua simbologia que nutre forças do discurso de Naomi Wadler sobre a violência contra mulheres negras.

Ruby (Wunmi Mosaku) não é deixada de lado e volta a se metamorfosear em seu alter-ego branco para fugir da cirúrgica e temerosa realidade em que vive – porém, de um jeito em que acredite retomar o controle. É claro que, manipulada por Christina e pelas oportunidades que a magia pode garantir-lhe, ela não enxerga as peças que faltam e se encontra num beco sem saída. Entretanto, nada se compara ao literalmente explosivo e inesperado finale que, no final das contas, é o que representa o melhor de Lovecraft Country e garante aos fãs desse panteão de terror que ainda há muito a se contar, ainda que o fim seja iminente.

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