domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Madres: Mães de Ninguém – Blumhouse lança sonolento terror com terrível crítica social

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Desde o lançamento de ‘Corra!’, de Jordan Peele, as produtoras de filmes de terror passaram a voltar a prestar atenção nos horrores da realidade como motes para criação dos horrores da ficção. Não é novidade, mas esse resgate tem dado muito certo na maioria dos casos. Nessa pegada, a Blumhouse estreia nesse final de semana o seu longa ‘Madres: Mães de Ninguém’ na Amazon Prime, porém, com um resultado que confunde os fãs da produtora queridinha do momento.



O ano é 1977. Diana (Ariana Guerra) e Beto (Tenoch Huerta) acabam de se mudar para a pequena cidade de Golden Valley, no interior do estado da Califórnia, que recém completou 100 anos de sua fundação. O casal de ascendência mexicana se muda para lá às vésperas de ter seu primeiro bebê porque Beto conseguiu um emprego como gerente de pessoal numa plantação que emprega mão de obra de imigrantes, dos quais a maioria é ilegal. Apesar da nova casa precisar de muita reforma, o casal se empenha na construção da nova vida, entretanto, apesar de ter nome e cara de descendente de mexicanos, Diana não fala espanhol e começa a ter dificuldades para se relacionar com os moradores da nova cidade. Quando descobre segredos da antiga moradora da casa, Diana se dá conta de que nem ela nem seu bebê estão seguros nesta cidade.

O principal problema de ‘Madres: Mães de Ninguém’ é estar sendo comercializado como um filme de terror. Não é. Com uma hora e vinte minutos de duração a história só começa a se desenrolar de verdade a partir do minuto 50, o que significa que mais da metade do roteiro de Mario Miscione e Marcella Ochoa se gasta em o casal protagonista se ambientando na casa e tentando socializar com outros personagens, cujos panos de fundo não são apresentados, e os vínculos destes com os protagonistas são construídos de maneira breve e frágil.

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O pouco que se propõe de terror na produção tem a ver com uma porta que se fecha, uns amuletos suspeitos pendurados nas árvores e uma aparição cuja entrada na trama se dá de maneira mal explicada – e, posteriormente, descartável. Isso nos faz refletir que ‘Madres: Mães de Ninguém’, apesar da terrível história baseada em fatos, funcionaria muito melhor como um filme de crítica social ou como um drama do que tentar se vender como um filme de terror – e, para tal, recorrendo no misticismo das religiões mexicanas estranhas ao cidadão branco estadunidense centrado no próprio umbigo,  tentando, assim, desviar a atenção do espectador para outros fatores não relevantes para o desenrolar da trama. Uma pena, pois a história era forte.

Em se tratando da Blumhouse –  e, considerando que é um lançamento no mês de outubro –, não dá para ver ‘Madres: Mães de Ninguém’ de outra forma que não como um filme de terror; uma vez que não é, a decepção é inevitável e compreensível. A resolução da trama é boa, traumática, cruel – posto que é baseado numa história real. Mas não funciona neste filme, não da forma como foi feito.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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O ano é 1977. Diana (Ariana Guerra) e Beto (Tenoch Huerta) acabam de se mudar para a pequena cidade de Golden Valley, no interior do estado da Califórnia, que recém completou 100 anos de sua fundação. O casal de ascendência mexicana se muda para lá às vésperas de ter seu primeiro bebê porque Beto conseguiu um emprego como gerente de pessoal numa plantação que emprega mão de obra de imigrantes, dos quais a maioria é ilegal. Apesar da nova casa precisar de muita reforma, o casal se empenha na construção da nova vida, entretanto, apesar de ter nome e cara de descendente de mexicanos, Diana não fala espanhol e começa a ter dificuldades para se relacionar com os moradores da nova cidade. Quando descobre segredos da antiga moradora da casa, Diana se dá conta de que nem ela nem seu bebê estão seguros nesta cidade.

O principal problema de ‘Madres: Mães de Ninguém’ é estar sendo comercializado como um filme de terror. Não é. Com uma hora e vinte minutos de duração a história só começa a se desenrolar de verdade a partir do minuto 50, o que significa que mais da metade do roteiro de Mario Miscione e Marcella Ochoa se gasta em o casal protagonista se ambientando na casa e tentando socializar com outros personagens, cujos panos de fundo não são apresentados, e os vínculos destes com os protagonistas são construídos de maneira breve e frágil.

O pouco que se propõe de terror na produção tem a ver com uma porta que se fecha, uns amuletos suspeitos pendurados nas árvores e uma aparição cuja entrada na trama se dá de maneira mal explicada – e, posteriormente, descartável. Isso nos faz refletir que ‘Madres: Mães de Ninguém’, apesar da terrível história baseada em fatos, funcionaria muito melhor como um filme de crítica social ou como um drama do que tentar se vender como um filme de terror – e, para tal, recorrendo no misticismo das religiões mexicanas estranhas ao cidadão branco estadunidense centrado no próprio umbigo,  tentando, assim, desviar a atenção do espectador para outros fatores não relevantes para o desenrolar da trama. Uma pena, pois a história era forte.

Em se tratando da Blumhouse –  e, considerando que é um lançamento no mês de outubro –, não dá para ver ‘Madres: Mães de Ninguém’ de outra forma que não como um filme de terror; uma vez que não é, a decepção é inevitável e compreensível. A resolução da trama é boa, traumática, cruel – posto que é baseado numa história real. Mas não funciona neste filme, não da forma como foi feito.

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