sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | Maestro – Bradley Cooper cria belíssima cinebiografia sem forte conexão emotiva

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Com uma estética clássica em preto e branco, Bradley Cooper diretor, co-roteirista, produtor e protagonista cria um mágico palco para apresentar ao público a vida do renomado compositor, maestro e pianista Leonard Bernstein. O espetáculo, no entanto, permanece no senso estético e metodizado sem empolgar ou atingir nosso afeto. 

Após o recente e aclamado Tár (2022), de Todd Field, no qual Cate Blanchett expressava a complexidade do pioneirismo feminino em frente a uma grandiosa orquestras alemã, Bradley Cooper ecoa familiar ao homenagear o criador do musical Amor, Sublime Amor (West Side Story), adaptado ao cinema em 1961 por Jerome Robbins e Robert Wise e, recentemente, por Steven Spielberg. Este último é, aliás, um dos produtores da cinebiografia, ao lado de Martin Scorsese, entre outros. 



Para o grande o público a história de um compositor e maestro não é tão evidente, porém narrativas com coração ressoam em qualquer segmento profissional. Existe, por exemplo, uma linha da indústria audiovisual de biopics de empreendedores bastante popular: umas são desapontantes como Flamin’ Hot – O Sabor que Mudou a História (2023), de Eva Longoria   lançada diretamente na Disney+ —, enquanto outras são realmente reveladoras como A Rede Social (2010), de David Fincher, ou apenas corretas como Joy: O Nome do Sucesso (2015), de David O. Russell

Maestro encontra-se neste meio do caminho, conduzido com uma perfeição técnica, mas distante dos pontos de vulnerabilidade do seu personagem principal. A partir de uma ligação num dia de outono de 1973, Leonard Bernstein, como maestro assistente da Filarmônica de Nova York, faz sua estreia ao substituir o condutor principal no último minuto e sem nenhum ensaio. De um dia para o outro, esta apresentação muda a sua vida para sempre. 

Maestro. (L to R) Bradley Cooper as Leonard Bernstein (Director/Writer) and Carey Mulligan as Felicia Montealegre in Maestro. Cr. Jason McDonald/Netflix © 2023.

Embora Bradley Cooper esteja fisicamente caracterizado como Bernstein, os aspectos disruptivos, festivos e criativos do artista estão em segundo plano perante a narrativa amorosa e conflituosa da relação com a esposa Felícia Montealegre (Carey Mulligan), na vida real uma atriz costarriquenha-chilena. Ambos atores são ótimos, no entanto, juntos diante das câmeras são apenas regulares como um casal, uma sensação diferente da química com as ex-parceiras  Lady Gaga e Jennifer Lawrence   por diversas vezes.  

Depois de História de Um Casamento (2019), de Noah Baumbach, e do ganhador da Palma de Ouro Anatomia de uma Queda (2023), de Justine Triet, ambos com cena arrepiantes de discussão e frustrações de um matrimônio guisado a mentiras e decepções, os amantes Leonard e Felícia são como poeira varrida para debaixo do tapete. Embora a minha comparação seja com casais do século XXI, a questão em destaque é a cena mais relevante do embate e dos sentimentos entre os é apresentada em um plano aberto e fixo, ou seja, em palco teatral frio e distante do público. 

Para quem não conhece a história de Leonard Bernstein, o filme o retrata como um artista talentoso e criativo, mas apenas o vemos em grande ação nos momentos finais, quando Leonard/Bradley sobe ao palco e visceralmente toma as rédeas de todas aqueles maravilhoso instrumentistas diante de si, tendo em contraposição a escolhas pessoais descarrilhadas. 

Com uma bela montagem e o aspecto sessentista recriado na primeira parte do enredo, o segundo ato torna-se melodramático e pouco emblemático. Divido em seus casos extraconjugais com homens e diversos rumores, Bernstein decide deixar o casamento normativo com três filhos, mas volta a viver com esposa ao descobrir a luta dela contra o câncer. Consolidado como grande performático, Bernstein tenta manter as aparências e, tristemente, o amor da filha mais velha Jamie, vivida por Maya Hawke

Apesar de diversas tentativas, falta conexão emotiva, mas Maestro não perde o seu mérito de grande produção. Ele não preenche a nossa alma com fortes sensações ou admiração, algo completamente tangível em Nasce Uma Estrela (2018). Por esta razão, as expectativas para o segundo longa de Bradley Cooper eram altas e, no entanto, naufragaram. 

Dono de uma carreira gradativa e surpreendente em Hollywood, Bradley Cooper entrou no panteão dos grandes atores graças à lapidação de David O. Russell, em O Lado Bom da Vida (2012), e aprendeu a criar e conduzir seus próprios projetos sem deixar de ser um ator extraordinário. Maestro poderia explorar um tom mais poético e menos expositivo, tal como a mágica parte inicial do filme, apresentando a transição de um profissional para uma estrela, mas aposta num didatismo biográfico. Esta escolha, entretanto, não impedirá o filme de chegar entre os nomeados a algumas das principais categorias do Oscar 2024.

 

Lançado no Festival de Veneza em setembro de 2023, Maestro chega no dia 7 de dezembro aos cinemas do Brasil e 20 de dezembro à plataforma de streaming Netflix

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Após o recente e aclamado Tár (2022), de Todd Field, no qual Cate Blanchett expressava a complexidade do pioneirismo feminino em frente a uma grandiosa orquestras alemã, Bradley Cooper ecoa familiar ao homenagear o criador do musical Amor, Sublime Amor (West Side Story), adaptado ao cinema em 1961 por Jerome Robbins e Robert Wise e, recentemente, por Steven Spielberg. Este último é, aliás, um dos produtores da cinebiografia, ao lado de Martin Scorsese, entre outros. 

Para o grande o público a história de um compositor e maestro não é tão evidente, porém narrativas com coração ressoam em qualquer segmento profissional. Existe, por exemplo, uma linha da indústria audiovisual de biopics de empreendedores bastante popular: umas são desapontantes como Flamin’ Hot – O Sabor que Mudou a História (2023), de Eva Longoria   lançada diretamente na Disney+ —, enquanto outras são realmente reveladoras como A Rede Social (2010), de David Fincher, ou apenas corretas como Joy: O Nome do Sucesso (2015), de David O. Russell

Maestro encontra-se neste meio do caminho, conduzido com uma perfeição técnica, mas distante dos pontos de vulnerabilidade do seu personagem principal. A partir de uma ligação num dia de outono de 1973, Leonard Bernstein, como maestro assistente da Filarmônica de Nova York, faz sua estreia ao substituir o condutor principal no último minuto e sem nenhum ensaio. De um dia para o outro, esta apresentação muda a sua vida para sempre. 

Maestro. (L to R) Bradley Cooper as Leonard Bernstein (Director/Writer) and Carey Mulligan as Felicia Montealegre in Maestro. Cr. Jason McDonald/Netflix © 2023.

Embora Bradley Cooper esteja fisicamente caracterizado como Bernstein, os aspectos disruptivos, festivos e criativos do artista estão em segundo plano perante a narrativa amorosa e conflituosa da relação com a esposa Felícia Montealegre (Carey Mulligan), na vida real uma atriz costarriquenha-chilena. Ambos atores são ótimos, no entanto, juntos diante das câmeras são apenas regulares como um casal, uma sensação diferente da química com as ex-parceiras  Lady Gaga e Jennifer Lawrence   por diversas vezes.  

Depois de História de Um Casamento (2019), de Noah Baumbach, e do ganhador da Palma de Ouro Anatomia de uma Queda (2023), de Justine Triet, ambos com cena arrepiantes de discussão e frustrações de um matrimônio guisado a mentiras e decepções, os amantes Leonard e Felícia são como poeira varrida para debaixo do tapete. Embora a minha comparação seja com casais do século XXI, a questão em destaque é a cena mais relevante do embate e dos sentimentos entre os é apresentada em um plano aberto e fixo, ou seja, em palco teatral frio e distante do público. 

Para quem não conhece a história de Leonard Bernstein, o filme o retrata como um artista talentoso e criativo, mas apenas o vemos em grande ação nos momentos finais, quando Leonard/Bradley sobe ao palco e visceralmente toma as rédeas de todas aqueles maravilhoso instrumentistas diante de si, tendo em contraposição a escolhas pessoais descarrilhadas. 

Com uma bela montagem e o aspecto sessentista recriado na primeira parte do enredo, o segundo ato torna-se melodramático e pouco emblemático. Divido em seus casos extraconjugais com homens e diversos rumores, Bernstein decide deixar o casamento normativo com três filhos, mas volta a viver com esposa ao descobrir a luta dela contra o câncer. Consolidado como grande performático, Bernstein tenta manter as aparências e, tristemente, o amor da filha mais velha Jamie, vivida por Maya Hawke

Apesar de diversas tentativas, falta conexão emotiva, mas Maestro não perde o seu mérito de grande produção. Ele não preenche a nossa alma com fortes sensações ou admiração, algo completamente tangível em Nasce Uma Estrela (2018). Por esta razão, as expectativas para o segundo longa de Bradley Cooper eram altas e, no entanto, naufragaram. 

Dono de uma carreira gradativa e surpreendente em Hollywood, Bradley Cooper entrou no panteão dos grandes atores graças à lapidação de David O. Russell, em O Lado Bom da Vida (2012), e aprendeu a criar e conduzir seus próprios projetos sem deixar de ser um ator extraordinário. Maestro poderia explorar um tom mais poético e menos expositivo, tal como a mágica parte inicial do filme, apresentando a transição de um profissional para uma estrela, mas aposta num didatismo biográfico. Esta escolha, entretanto, não impedirá o filme de chegar entre os nomeados a algumas das principais categorias do Oscar 2024.

 

Lançado no Festival de Veneza em setembro de 2023, Maestro chega no dia 7 de dezembro aos cinemas do Brasil e 20 de dezembro à plataforma de streaming Netflix

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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