sábado, abril 27, 2024

Crítica | Maestro: Bradley Cooper é uma força da natureza em estupenda cinebiografia original da Netflix

Os corredores de um enorme teatro são tomados pela imensidão de uma orquestra sinfônica, que enchem o ambiente, ecoam em nossos ouvidos e anunciam uma história que hoje reside apenas no campo das memórias. Maestro se intercala entre a fotografia preto e branco e as cores quentes de uma vida presente solar e suave, ainda que marcada pelo eterno sentimento de saudade. E em poucos minutos, já conseguimos decifrar o segredo de Bradley Cooper. A cinebiografia do visionário artista Leonard Bernstein feita para a Netflix não é tanto sobre música – embora ela ressoe em nós a todo momento. De fato, estamos diante de uma história de amor. Um amor imperfeito, custoso, complicado. Mas ainda assim genuíno, honesto, duradouro.

Talvez a maior lição que aprendemos com Maestro seja exatamente o seu amor por sua esposa. Fiel e leal como ele jamais mereceu e uma espécie de bússola moral e afetiva, Felicia Montealerge é uma bela fotografia que ganha vida e cores pela excepcional e impecável performance de Carey Mulligan. Exalando uma beleza à la old Hollywood, com os cabelos alinhados e seu delicado e fino rosto bem maquiado, ela é a exuberância de um amor infindável. E capturando a essência desse casamento onde música regia os passos e compassos, Cooper opta por celebrar a trajetória pessoal e profissional de Bernstein de maneira mais poética, doce e alegórica.

Nos provando que sua identidade artística e criativa como diretor está cada vez mais lapidada e moldada, o cineasta e ator nos convida para um baile sobre a beleza e a imperfeição da vida a dois. Como alguém que inevitavelmente perpassa seus dedos pelo álbum de memórias de toda uma família, ele viaja no tempo para nos presentear com um drama espetaculoso e suntuoso à sua maneira. Entre tomadas em preto e branco lindamente elaboradas, ele transforma o amor de um casal em um sonho delicado, onde o ato de estar presente em um momento, por si só vale uma boa cena. E são nessas miudezas, como trocas profundas de olhares, mãos que se entrelaçam e corpos que se conectam em uma dança lenta, que Maestro ganha vida.

Se entregando a planos sequências bem ritmados e que funcionam como alegorias à passagem do tempo e ao nascimento de um sentimento, Cooper nos embala em uma jornada encantadora e doce sobre um artista à frente de seu tempo. Mostrando suas fragilidades e pecados como quem não os julga, o diretor reforça sua sensibilidade como um exímio e detalhista contador de histórias. Co-assinando o roteiro ao lado de Josh Singer, ele lança na Netflix o melhor filme de sua trajetória – o ‘Roma’ de 2023.

E nessa dança onde as composições de Bernstein nos convidam a celebrar o lirismo em sua pura forma, Cooper ainda nos surpreende com sua transformação física e performática. Enquanto o trabalho de maquiagem do talentoso Kazuhiro Tsuji muda suas feições, ele assume o restante da responsabilidade de se tornar Leonard Bernstein, com uma caracterização poderosa, soberba e admirável. Do vigor da juventude de um músico e regente em ascensão à voz trêmula e cansada da idade avançada, ele percorre os anos como essa singular figura que transformou a arte mundial. Encarnando os trejeitos, a fala e seu comportamento, o astro crava seu imenso talento como um artista multifacetado e já se torna o grande favorito à estatueta do Oscar nas categorias de Melhor Ator e Melhor Diretor.

Como uma catarse intimista sobre música, amor e família, o mais novo original Netflix é uma experiência cinematográfica enriquecedora, tocante e apaixonante. Estampando uma fotografia belíssima marcada por contrastes mais densos e o excelente uso da luz natural, Maestro é um convite aos excessos de Bernstein, seus erros, acertos e sua poderosa capacidade de reger o mundo que o cercava. Com Cooper e Mulligan brilhando em performances icônicas que personificam alguns dos casais mais emblemáticos de Hollywood em sua Era de Ouro – como Clark Gable e Carole Lombard -, a cinebiografia é uma emocionante carta sobre um amor imperfeito – mas real, doloroso – mas incrível, instável – mas eterno.

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