sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | Mandy: Sede de Vingaça – Ópera Trash? Terror Artístico? Tudo isso e Nicolas Cage!

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Sangue nos Olhos

Tido como o melhor filme de Nicolas Cage nesta nova fase de sua carreira, Mandy: Sede de Vingança marca absurdos 91% de aprovação da imprensa especializada no agregador Rotten Tomatoes – chegando agora ao Brasil diretamente no mercado de vídeo e streaming. Caído em desgraça em sua carreira (e vendo todos os seu lançamentos saírem direto em vídeo), o talentoso ex-astro duas vezes indicado ao Oscar, e vencedor por Despedida em Las Vegas (1995), pode até não estar em seu período criativo mais fértil, mas vem fazendo escolhas inusitadas como de costume, desde a época de seu início de carreira – vide Um Estranho Vampiro (1988).

Uma das melhores maneiras de definir Mandy seria: uma fusão entre os cinemas de Terrence Malick, Nicolas Winding-Refn e Eli Roth. Escrito e dirigido por Panos Cosmatos, filho do lendário George P. Cosmatos (diretor de Rambo 2 – A Missão e Stallone Cobra), o longa traz uma história simples, mas foca nas entrelinhas das diversas possibilidades inquisitivas. Fala sobre temas universais como vida e morte, mas o faz com estilão do cinema de arte – onde pouco é dito e muito é sentido e percebido. Ah, sim. Sem esquecer uma ou outra chacina violenta entre suas ponderações.

Na trama, Cage vive Red Miller, um sujeito humilde, que trabalha como lenhador para uma empresa. Sua rotina é básica e até enfadonha. Ele vive numa isolada cabana na floresta ao lado da companheira Mandy Bloom (papel de uma camaleônica Andrea Riseborough) – que cita a proximidade da moradia com o famoso Crystal Lake. A moça é chegada em esquisitices, como ocultismo, e adora ler livros sobre bruxaria. Entre os hobbies do casal, está assistir a filmes trash de ficção. Só na estranha interação da dupla, Mandy já renderiam uma obra sinistra, remetendo a Anticristo (2009), de Lars von Trier.

Com capítulos dividindo o longa por subtítulos (Mandy seria o terceiro), todos com fontes de letras mais do que estilosas, a forma, a sua embalagem, é uma luz de neon forte saída diretamente da Times Square. Ficamos entorpecidos por tamanha beleza visual. O problema é que o diretor Cosmatos parece tentar demais ser cool e cult, soando over, exagerado e artificial. Todas as cenas são extravagantes, ao ponto de nos deixar cansados. A proposta, porém, é louvável.

De luzes berrantes em tons de vermelho e azul – na fotografia de Benjamin Loeb -, passando por elementos que nos trazem para a época favorita dos nerds oldschool (a década de 1980), chegando até a ultraviolência excessiva e estilizada, e a trilha hipnótica incessante do saudoso Jóhann Jóhannsson (em um de seus últimos trabalhos), Mandy força a barra para que o amemos, sendo na realidade difícil resistir a seus encantos. Uma vez dito isso, vale frisar também que o filme está longe de ser acessível a todos os gostos, uma vez que aqui temos a forma sobrepujando o conteúdo. Esta é uma obra para aqueles que têm gosto pelo inusitado, pelo incomum, pelo estranho, pelo bizarro e pelo trash, principalmente.

Como diz o título, logo o protagonista entra em rota de colisão com um grupo de fanáticos religiosos, meio satanistas, meio cristãos. A crítica aqui é ao fanatismo, mas Cosmatos não dá nome aos bois – misturando tudo no mesmo pacote, o que até faz sentido. Assim, temos uma seita libertina, que promove o amor livre, mata, trucida, invoca demônios, mas fala em Deus e se reúne em uma igreja. Seu maior erro foi mexer com um Cage encapetado, com sangue nos olhos, que irá até as últimas consequências para completar sua vingança. Literalmente.

Não fosse por seu estilo visual, que chega chutando a porta e explodindo a casa, Mandy seria apenas mais um filme de vingança, com elementos sobrenaturais – do tipo que o próprio Cage já explorou no mais comercial, mas ainda assim divertido, Fúria Sobre Rodas (2011). O novo filme tem a pompa de ser “mais artístico”, talvez por isso a maior parte da imprensa tenha comido o longa com farinha.  Por outro lado, é compreensível todos os que o acusarem de ser pretensioso demais.

Os pontos de Mandy vão para o elenco. Andrea Riseborough mostra que é uma atriz corajosa, e com uma grande cicatriz no rosto, mais magra, pupilas ultradilatadas e uma estranheza inerente, fica a par com Cage entrando de cabeça na brincadeira. Já seu colega de cena, entrega um desempenho insano como esperaríamos dele num projeto como este – o ponto alto é sua surtação no banheiro, de cueca, após o maior choque de sua vida.

No saldo final, Mandy acerta mais do que erra. Acredito que se for para fazer um terror trash, tentado à exaustão, por que não fazê-lo assim, em grande estilo, no nível de uma ópera? Ao menos podemos dizer que não é algo que se vê sempre. O visual, sem dúvida, ficará em nossas mentes por um bom tempo (ou quem sabe eternamente). No entanto, se você não tem o mínimo apreço para o estilo, não pense que Mandy é a reinvenção da roda, aberto a todo tipo de espectador. Ou se espera uma produção mais convencional, dona de maiores explicações sobre o que ocorre em tela, este não é o lugar para você. Aqui, adentramos o sétimo nível do inferno, com Cage inteiramente coberto de sangue, dirigindo seu carro e sorrindo para você de forma mais perturbadora impossível, enquanto a luz de neon vermelha nos cega. Bem-vindo.

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Uma das melhores maneiras de definir Mandy seria: uma fusão entre os cinemas de Terrence Malick, Nicolas Winding-Refn e Eli Roth. Escrito e dirigido por Panos Cosmatos, filho do lendário George P. Cosmatos (diretor de Rambo 2 – A Missão e Stallone Cobra), o longa traz uma história simples, mas foca nas entrelinhas das diversas possibilidades inquisitivas. Fala sobre temas universais como vida e morte, mas o faz com estilão do cinema de arte – onde pouco é dito e muito é sentido e percebido. Ah, sim. Sem esquecer uma ou outra chacina violenta entre suas ponderações.

Na trama, Cage vive Red Miller, um sujeito humilde, que trabalha como lenhador para uma empresa. Sua rotina é básica e até enfadonha. Ele vive numa isolada cabana na floresta ao lado da companheira Mandy Bloom (papel de uma camaleônica Andrea Riseborough) – que cita a proximidade da moradia com o famoso Crystal Lake. A moça é chegada em esquisitices, como ocultismo, e adora ler livros sobre bruxaria. Entre os hobbies do casal, está assistir a filmes trash de ficção. Só na estranha interação da dupla, Mandy já renderiam uma obra sinistra, remetendo a Anticristo (2009), de Lars von Trier.

Com capítulos dividindo o longa por subtítulos (Mandy seria o terceiro), todos com fontes de letras mais do que estilosas, a forma, a sua embalagem, é uma luz de neon forte saída diretamente da Times Square. Ficamos entorpecidos por tamanha beleza visual. O problema é que o diretor Cosmatos parece tentar demais ser cool e cult, soando over, exagerado e artificial. Todas as cenas são extravagantes, ao ponto de nos deixar cansados. A proposta, porém, é louvável.

De luzes berrantes em tons de vermelho e azul – na fotografia de Benjamin Loeb -, passando por elementos que nos trazem para a época favorita dos nerds oldschool (a década de 1980), chegando até a ultraviolência excessiva e estilizada, e a trilha hipnótica incessante do saudoso Jóhann Jóhannsson (em um de seus últimos trabalhos), Mandy força a barra para que o amemos, sendo na realidade difícil resistir a seus encantos. Uma vez dito isso, vale frisar também que o filme está longe de ser acessível a todos os gostos, uma vez que aqui temos a forma sobrepujando o conteúdo. Esta é uma obra para aqueles que têm gosto pelo inusitado, pelo incomum, pelo estranho, pelo bizarro e pelo trash, principalmente.

Como diz o título, logo o protagonista entra em rota de colisão com um grupo de fanáticos religiosos, meio satanistas, meio cristãos. A crítica aqui é ao fanatismo, mas Cosmatos não dá nome aos bois – misturando tudo no mesmo pacote, o que até faz sentido. Assim, temos uma seita libertina, que promove o amor livre, mata, trucida, invoca demônios, mas fala em Deus e se reúne em uma igreja. Seu maior erro foi mexer com um Cage encapetado, com sangue nos olhos, que irá até as últimas consequências para completar sua vingança. Literalmente.

Não fosse por seu estilo visual, que chega chutando a porta e explodindo a casa, Mandy seria apenas mais um filme de vingança, com elementos sobrenaturais – do tipo que o próprio Cage já explorou no mais comercial, mas ainda assim divertido, Fúria Sobre Rodas (2011). O novo filme tem a pompa de ser “mais artístico”, talvez por isso a maior parte da imprensa tenha comido o longa com farinha.  Por outro lado, é compreensível todos os que o acusarem de ser pretensioso demais.

Os pontos de Mandy vão para o elenco. Andrea Riseborough mostra que é uma atriz corajosa, e com uma grande cicatriz no rosto, mais magra, pupilas ultradilatadas e uma estranheza inerente, fica a par com Cage entrando de cabeça na brincadeira. Já seu colega de cena, entrega um desempenho insano como esperaríamos dele num projeto como este – o ponto alto é sua surtação no banheiro, de cueca, após o maior choque de sua vida.

No saldo final, Mandy acerta mais do que erra. Acredito que se for para fazer um terror trash, tentado à exaustão, por que não fazê-lo assim, em grande estilo, no nível de uma ópera? Ao menos podemos dizer que não é algo que se vê sempre. O visual, sem dúvida, ficará em nossas mentes por um bom tempo (ou quem sabe eternamente). No entanto, se você não tem o mínimo apreço para o estilo, não pense que Mandy é a reinvenção da roda, aberto a todo tipo de espectador. Ou se espera uma produção mais convencional, dona de maiores explicações sobre o que ocorre em tela, este não é o lugar para você. Aqui, adentramos o sétimo nível do inferno, com Cage inteiramente coberto de sangue, dirigindo seu carro e sorrindo para você de forma mais perturbadora impossível, enquanto a luz de neon vermelha nos cega. Bem-vindo.

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