Uma escritora best-seller que fez sua carreira em cima da sua série protagonizada por Lizzie Larck – personagem que luta contra a entidade demoníaca Marianne. Esta é a vida de Emma Larsimon (Victoire Du Bois, de ‘Me Chame Pelo Seu Nome’), uma arrogante autora de histórias de terror com pouca boa vontade com os fãs. Um dia, durante uma sessão de autógrafos, ela recebe a visita de Carol, uma sinistra amiga de infância que a ameaça: se ela não continuar a escrever as histórias de Lizzie Larck e voltar à sua cidade natal – Elden –, coisas ruins irão acontecer.
Assustada, Emma convence sua assistente, Camille (Lucie Boujenah) a ir com ela de volta à casa de seus pais, de onde saiu há quinze anos e nunca mais voltou. Só que voltar a Elden trará muitas lembranças desagradáveis, e significará reencontrar os amigos que deixou para trás. Acima de tudo, significa para Emma encarar seus piores pesadelos, inclusive aqueles que a inspiraram a escrever suas famosas histórias de terror.
Com apenas oito episódios e uma média de 40 minutos de duração cada, a série original francesa da Netflix propõe uma história essencialmente dramática, conduzida por um suspense raso e salpicadas de terror raiz. Isso significa que a maior parte do tempo o espectador fica acompanhando as questões particulares de Emma e suas tentativas de solução para um passado mal resolvido, e, por vezes, somos presenteados com alguma criatura/cena de terror (assombrações, aparições, invocações, maldições, ocultismo, bruxaria, exorcismo etc).
Sem mencionar que cada episódio abre com uma epígrafe de um famoso escritor, dentre os quais James Barrie, Montaigne, Hemingway e Victor Hugo.
A direção do jovem Samuel Bodin faz uma bela homenagem aos clássicos do gênero que se tornaram referência para os fãs do terror. Há desde um evidente pôster de Edgar Allan Poe, há até seu corvo preso em uma gaiola, e uma menção direta a um possível emparedamento vivo; há, ainda, contorcionismo a la ‘O Exorcista’, ambientação sonora que lembra Hitchcock e até mesmo a bizarra história verídica de Lizzie Borden, que possivelmente inspirou o nome da protagonista criada por Emma Larsimon.
Com um bom argumento, ‘Marianne’ se constrói a partir de dois pilares fundamentais para os fãs do gênero: Edgar Allan Poe (terror) e Agatha Christie (policial). O resultado é que temos elementos do horror macabro e um investigador, que tenta conectar todas as informações e resolver sozinho o caso, mesmo que todos sejam suspeitos. Em contrapartida, justamente por se basear nessas duas grandes referências, a história é contada de maneira plana e constante, sem grandes reviravoltas ou jump scares.
Para quem não gosta de ficar montando quebra-cabeças, recomenda-se pular direto para o 4º episódio, que explica o passado sombrio de Emma e o final no 3º, quando há uma boa reviravolta. E, sinceramente, a primeira temporada acaba mesmo no 7º episódio – o último serve apenas de gancho para uma possível continuação.
O maior incômodo da série é, porém, o ritmo. Com episódios longos (alguns chegam a 50 minutos) e muita cena arrastada (carrinho dirigindo pra lá, carrinho dirigindo pra cá, flashbacks etc), a sensação é que o episódio não passa nunca. Para tentar aplacar a possível angústia que o ritmo possa causar, recomenda-se não maratonar a série, e sim assistir um episódio por dia. Assim, você consegue saborear melhor uma boa história de terror policial, sem pressa.