terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | ‘Matilda: O Musical’ é uma ótima adaptação e uma grata surpresa da Netflix

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Assinada por Roald Dahl, Matilda é uma das histórias mais conhecidas de todos os tempos. A trama acompanha uma jovem e inteligente garota apaixonada por livros e com uma visão de mundo única – confinada em uma família que não a compreende e que a trata como uma aberração. Quando começa a estudar em uma escola comandada por uma tirânica diretora, Matilda descobre que tem poderes telecinéticos e que pode usar suas habilidades para colocar um fim nesse reino de caos e desespero e ajudar seus amigos. A narrativa ganhou uma aclamada versão cinematográfica em 1996 e, anos depois, migrou para os palcos londrinos e nova-iorquinos em forma de musical. Agora, está na hora de revisitarmos esse atemporal conto com mais uma adaptação fílmica, lançada recentemente na Netflix.

Considerando o desequilibrado histórico de estreias de uma das maiores plataformas de streaming da atualidade, era apenas normal que ficássemos com um pé atrás com a releitura. Afinal, o longa-metragem original conquistou o coração do público e da crítica, enquanto o musical levou para casa diversos prêmios – incluindo estatuetas do Tony Awards e do Laurence Olivier Awards. Felizmente (e contrariando as expectativas de boa parte do público), o resultado é muito superior ao imaginado, consagrando-se como uma belíssima entrada de final de ano – cortesia de uma equipe muito talentosa, desde os nomes atrás das câmeras a um elenco estelar e explosivo.

Aqui, a estreante Alisha Weir interpreta a protagonista titular, oferecendo não só paralelos óbvios com as atrizes que já viveram Matilda, mas apresentado sua própria perspectiva e tornando o título ainda mais excepcional. Nascida em uma família disfuncional, Matilda não estava nos planos dos supérfluos e coniventes Wormwood (interpretados por Stephen Graham e Andrea Riseborough) – motivo pelo qual é vista como uma “pedra no sapato”. Não é surpresa, pois, que ela tenha mergulhado de cabeça no infinito universo literário, deliciando-se com histórias como ‘Moby Dick’, ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘Crime e Castigo’, ajudando-a a formar um caráter de justiça e de enfrentamento do status quo. Mas as coisas mudam quando ela ingressa na Crunchem Hall, uma escola preparatória administrada a rédeas curtas por Agatha Trunchbull (Emma Thompson).

Desiludida com o que o colégio significaria para sua vida, Matilda chama a atenção da cândida Srta. Honey (Lashana Lynch), uma das poucas professoras que tem o gosto de ensinar e que não enxerga as crianças como pirralhas que não devem fazer nada além de obedecer. Juntas, elas começam a perceber as condenáveis atitudes de Trunchbull e a lutar para que as coisas mudem – livrando os alunos de um regime opressor que preza pela subserviência cega. A jovem, inclusive, utiliza seus poderes recém-descobertos para lidar com a nova realidade e com o prospecto de que é diferente dos outros e que não há nada de errado com isso.

O maior mérito do filme é, sem dúvida alguma, o time de mentes contratado para levar a história ao streaming. Matthew Warchus, que comandou a primeira versão do musical, foi escalado para encabeçar o projeto e consegue quebrar as barreiras entre o teatro e o cinema de forma mística, charmosa e bastante peculiar – com certos elementos que podem causar estranhamento nos espectadores. Warchus preza pela obra-prima que criou para os palcos e aposta fichas em uma simetria excessiva em contraste com a personalidade urgente de Matilda, delineando os pontos de conflito que serão explorados ao longo do filme. As coreografias partem de um princípio similar, emulando a marcha incessante de um exército militar e, eventualmente, transmutando-se em uma caótica e vibrante insurgência contra Trunchbull.

E isso não é tudo: Dennis Kelly, responsável pelo roteiro do musical, volta para assinar a história, aliando-se ao compositor Tim Minchin para garantir que nada de importante fosse perdido. Não bastasse o talento já conhecido do trio supracitado, Warchus, Kelly e Minchin conseguem transformar a jornada coming-of-age de Matilda em um tributo aplaudível que se estende por quase duas horas de pura diversão. Desde a minuciosa paleta de cores, regada a cores conflitantes, a uma química espetacular do elenco protagonista e coadjuvante, as engrenagens dessa complexa maquinaria se encaixam com perfeição, mesmo com momentâneos deslizes aqui e ali.

De fato, é Thompson quem rouba os holofotes – não apenas quando dá as caras pela primeira vez, mas em antecipação por aqueles que já conhecem a narrativa. A atriz, que eternizou papéis memoráveis no cinema e na televisão e foi condecorada com dois prêmios do Oscar, está irreconhecível em cena, adotando todas as camadas de uma irascível mulher que não admite indisciplina e trata qualquer um que a enfrente com as mais duras punições. Em destaque, menciono a espetacular e irretocável sequência em que Thompson solta a voz com a antêmica “The Smell of Rebellion”.

Matilda: O Musical’ é uma grata celebração de fim de ano que não se destina apenas às crianças, mas a qualquer um que procure uma boa e inspiradora aventura. Ainda que não seja uma construção perfeita, o saldo é muito positivo e nos deixa prontos para terminar 2022 da melhor maneira possível.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Considerando o desequilibrado histórico de estreias de uma das maiores plataformas de streaming da atualidade, era apenas normal que ficássemos com um pé atrás com a releitura. Afinal, o longa-metragem original conquistou o coração do público e da crítica, enquanto o musical levou para casa diversos prêmios – incluindo estatuetas do Tony Awards e do Laurence Olivier Awards. Felizmente (e contrariando as expectativas de boa parte do público), o resultado é muito superior ao imaginado, consagrando-se como uma belíssima entrada de final de ano – cortesia de uma equipe muito talentosa, desde os nomes atrás das câmeras a um elenco estelar e explosivo.

Aqui, a estreante Alisha Weir interpreta a protagonista titular, oferecendo não só paralelos óbvios com as atrizes que já viveram Matilda, mas apresentado sua própria perspectiva e tornando o título ainda mais excepcional. Nascida em uma família disfuncional, Matilda não estava nos planos dos supérfluos e coniventes Wormwood (interpretados por Stephen Graham e Andrea Riseborough) – motivo pelo qual é vista como uma “pedra no sapato”. Não é surpresa, pois, que ela tenha mergulhado de cabeça no infinito universo literário, deliciando-se com histórias como ‘Moby Dick’, ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘Crime e Castigo’, ajudando-a a formar um caráter de justiça e de enfrentamento do status quo. Mas as coisas mudam quando ela ingressa na Crunchem Hall, uma escola preparatória administrada a rédeas curtas por Agatha Trunchbull (Emma Thompson).

Desiludida com o que o colégio significaria para sua vida, Matilda chama a atenção da cândida Srta. Honey (Lashana Lynch), uma das poucas professoras que tem o gosto de ensinar e que não enxerga as crianças como pirralhas que não devem fazer nada além de obedecer. Juntas, elas começam a perceber as condenáveis atitudes de Trunchbull e a lutar para que as coisas mudem – livrando os alunos de um regime opressor que preza pela subserviência cega. A jovem, inclusive, utiliza seus poderes recém-descobertos para lidar com a nova realidade e com o prospecto de que é diferente dos outros e que não há nada de errado com isso.

O maior mérito do filme é, sem dúvida alguma, o time de mentes contratado para levar a história ao streaming. Matthew Warchus, que comandou a primeira versão do musical, foi escalado para encabeçar o projeto e consegue quebrar as barreiras entre o teatro e o cinema de forma mística, charmosa e bastante peculiar – com certos elementos que podem causar estranhamento nos espectadores. Warchus preza pela obra-prima que criou para os palcos e aposta fichas em uma simetria excessiva em contraste com a personalidade urgente de Matilda, delineando os pontos de conflito que serão explorados ao longo do filme. As coreografias partem de um princípio similar, emulando a marcha incessante de um exército militar e, eventualmente, transmutando-se em uma caótica e vibrante insurgência contra Trunchbull.

E isso não é tudo: Dennis Kelly, responsável pelo roteiro do musical, volta para assinar a história, aliando-se ao compositor Tim Minchin para garantir que nada de importante fosse perdido. Não bastasse o talento já conhecido do trio supracitado, Warchus, Kelly e Minchin conseguem transformar a jornada coming-of-age de Matilda em um tributo aplaudível que se estende por quase duas horas de pura diversão. Desde a minuciosa paleta de cores, regada a cores conflitantes, a uma química espetacular do elenco protagonista e coadjuvante, as engrenagens dessa complexa maquinaria se encaixam com perfeição, mesmo com momentâneos deslizes aqui e ali.

De fato, é Thompson quem rouba os holofotes – não apenas quando dá as caras pela primeira vez, mas em antecipação por aqueles que já conhecem a narrativa. A atriz, que eternizou papéis memoráveis no cinema e na televisão e foi condecorada com dois prêmios do Oscar, está irreconhecível em cena, adotando todas as camadas de uma irascível mulher que não admite indisciplina e trata qualquer um que a enfrente com as mais duras punições. Em destaque, menciono a espetacular e irretocável sequência em que Thompson solta a voz com a antêmica “The Smell of Rebellion”.

Matilda: O Musical’ é uma grata celebração de fim de ano que não se destina apenas às crianças, mas a qualquer um que procure uma boa e inspiradora aventura. Ainda que não seja uma construção perfeita, o saldo é muito positivo e nos deixa prontos para terminar 2022 da melhor maneira possível.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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