É impressionante como o mundo do cinema entrega inúmeras possibilidades e, a partir de uma ideia relativamente simples, pode nascer uma obra grandiosa que fortalece os vínculos familiares. Escrito e dirigido por Michel Gondry, o média-metragem Maya, Me Dê um Título explora uma técnica específica de animação com enorme criatividade, construindo uma narrativa deliciosa que insere histórias dentro de histórias a partir da relação de um pai cineasta e a saudade da filha.
Por conta da distância, um diretor de cinema resolve criar uma dinâmica com a filha, Maya: pedindo a ela que envie ideias para curtas-metragens de animação nos quais ela será a personagem principal. Ao longo do tempo, de um inusitado terremoto a criação de um avião-pássaro, passando por situações em que ela diminui tamanho, ou se torna uma sereia, ou mesmo em um oceano destruído por ketchup chegando nas incertezas da pandemia, um alegre e contagiante vínculo é criado.
Jogando ao mundo muitas formas de amor – tanto pela família quanto pelo cinema -, o experiente cineasta francês Michel Gondry convida o público a conhecer elementos pessoais de sua vida inseridos numa cerimônia imaginativa que criou com a filha. Longe de ser uma biografia, a obra tem caráter ficcional, mas com pitadas de inspirações na realidade: com a mamãe, a vovó, o vovô e o próprio papai sendo inseridos como coadjuvantes das histórias onde quem brilha é Maya.
Com sua estética artesanal onde cada pequena alteração é fotografada em movimentos quadro a quadro, essa animação de recorte de papel – um tipo específico de Stop Motion – busca a partir da interatividade de uma próxima ligação afetiva (batendo na tecla da identidade e continuidade) alcançar a espontaneidade que se transformam em descobertas, trazendo o lúdico para simplificar reflexões sobre desastres ecológicos, a geopolítica, a relação dos seres humanos com as famílias, entre outras questões.
Conforme Maya vai crescendo, a pergunta sobre até quando vai existir essa dinâmica se torna iminente – algo que também ganha espaço entre as histórias apresentadas. Nessa forma contagiante de aproximar a família ao rico universo da sétima arte da qual faz parte, Gondry mais uma vez brinda os cinéfilos transformando em poesia seu amor por tudo que o cerca.