sexta-feira , 7 março , 2025

Crítica | ‘MAYHEM’ é o melhor álbum de Lady Gaga desde ‘Born This Way’


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Lady Gaga não se tornou uma das principais titãs da música por qualquer motivo.

Desde sua estreia lá em 2008 com o icônico ‘The Fame’, Gaga mostrou que veio para ficar e se reinventou era após era ao trazer elementos novos e nostálgicos em uma roupagem a seu bel-prazer. Não é surpresa que a artista seja conhecida em literalmente qualquer país, utilizando sua plataforma e sua arte para encantar fãs ao redor do mundo e para discorrer sobre pautas importantes, mesmo dezessete anos depois do início oficial de sua carreira. Agora, cinco anos depois de seu último compilado de originais (por mais que tenha passado por trilhas sonoras e uma incrível colaboração com o saudoso Tony Bennett), ela está de volta com o antecipadíssimo ‘MAYHEM’.



Logo de cara, sabemos que essa jornada trará o melhor da cantora e compositora à tona: afinal, a tradução para o português de mayhem é caos, algo que Gaga sempre abraçou na construção de sua arte – e que deu origem a produções muito subestimadas, como o próprio ‘ARTPOP’. E, através de três singles promocionais, ela apenas estava nos dando um gostinho breve do que esperar. Tivemos a balada soft-rock “Die With a Smile” em uma descomunal parceria com o incrível Bruno Mars (que já lhes rendeu uma estatueta do Grammy), a profusão electro-clash da potente “Disease” e a amálgama impecável de house, dance-pop e synth-pop de “Abracadabra”. Confesso que estava com medo que o ápice do álbum estivesse destinado a essas três canções, mas fico feliz em dizer que Gaga guardou o melhor para o lançamento definitivo do disco.

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Convidando-nos em uma jornada explosiva e frenética de catorze faixas (na versão padrão), a performer singra por inúmeros gêneros e, diferente do que imaginávamos, controla o caos como se essa entidade intangível pudesse ser materializada, construindo uma clara narrativa que culmina em uma espécie de libertação criativa e estética – mostrando que, de fato, Gaga está em pleno domínio do que deseja fazer. “Garden of Eden”, que sucede “Abracadabra”, traz uma teatralidade conhecida aos nossos ouvidos, pegando elementos do pop-rock de The Veronicas e da famosa sonoridade de Prince, em especial do álbum ‘Purple Rain’, para contar uma sensual história de paixão que usa e abusa dos sintetizadores e de um electro-rock delicioso, cortesia das habilidosas mãos do produtor francês Gesaffelstein.


É notável como a faixa mantém-se fiel à identidade das predecessoras e, ao mesmo tempo, afasta-se em um grito próprio – e isso não acontece apenas aqui. “Perfect Celebrity” traz Andrew Watt e Cirkut de volta à estrutura e mergulha em um delicioso pop-rock que nos arremessa de volta aos anos 2000 e pega uma veia mais dark que a própria Madonna explorara no final dos anos 1990 e no começo deste século; “Vanish Into You” dá ares de uma balada melódica antes de se render às incursões dos anos 1970 e 1980, apostando em um envolvente baixo que traz funk e disco pincelando versos impecáveis como “uma vez em uma lua azul, eu me esqueço de você; e, uma vez na sua vida, você será meu”; “Zombieboy” permanece na estética mencionada acima em um arranjo instrumental de tirar o fôlego e que dialoga com as faixas mais despojadas da discografia de Gaga, da maneira mais elogiosa possível.

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Um dos elementos de maior sucesso do álbum é o modo como ele progride, atingindo seu ápice inúmeras vezes em uma montanha-russa de emoções e de anseios para ir direto à pista de dança. “LoveDrug” volta ao synth-pop de forma gloriosa e extremamente sofisticada, como se Gaga estivesse prestando homenagens a si própria e às suas maiores inspirações do cenário fonográfico; “How Bad Do U Want Me” utiliza de maneira sagaz e envolvente a progressão da clássica “Only You”, do grupo Yazoo, transmutando os acordes em uma investida contemporânea que irrompe em um refrão caprichoso, sólido e cativante – da maneira que apenas ela consegue fazer; e “Don’t Call Tonight”, de longe a melhor entrada do álbum, vibra no encontro entre a Gaga do início da carreira e seu aplaudível amadurecimento, colocando a bateria e o baixo em perfeita sincronia com sintetizadores ao mesmo tempo potentes e retraídos, deixando que os vocais irretocáveis da artista roubem os holofotes em uma rendição arrepiante.

Assista também: 
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Talvez a única faixa que venha a dividir os ouvintes, principalmente os little monsters, seja “Killah”. Trazendo Gesaffelstein como colaborador direto da track, a faixa traz um bassline marcante e um apoio total no funk norte-americano – algo que traz uma quebra significativa, ainda mais considerando a posição em que se localiza no álbum -, mas nada que seja repudiável (afinal, a qualidade técnica permanece sem muitos deslizes chamativos). De qualquer maneira, os meros equívocos não são fortes para ofuscar a beleza da obra – e a trindade de encerramento formada por “The Beast”, “Blade of Grass” e “Die With a Smile” é perfeita da maneira como foi posta.

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‘MAYHEM’ não apenas é um retorno glorioso de Lady Gaga às suas raízes, e sim uma celebração de sua carreira em uma explosão vibrante de remodelações e de originalidade que coloca o álbum em um espectro atemporal – sagrando-se, ao menos até agora, como o melhor lançamento de 2025.

Nota por faixa:

1. Disease – 5/5
2. Abracadabra – 5/5
3. Garden of Eden – 5/5
4. Perfect Celebrity – 4,5/5
5. Vanish Into You – 5/5
6. Killah ft. Gesaffelstein – 4/5
7. Zombieboy – 4/5
8. LoveDrug – 4,5/5
9. How Bad Do U Want Me – 5/5
10. Don’t Call Tonight – 5/5
11. Shadow Of A Man – 5/5
12. The Beast – 5/5
13. Blade of Grass – 5/5
14. Die With A Smile com Bruno Mars – 5/5


Assista:
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Lady Gaga não se tornou uma das principais titãs da música por qualquer motivo.

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Logo de cara, sabemos que essa jornada trará o melhor da cantora e compositora à tona: afinal, a tradução para o português de mayhem é caos, algo que Gaga sempre abraçou na construção de sua arte – e que deu origem a produções muito subestimadas, como o próprio ‘ARTPOP’. E, através de três singles promocionais, ela apenas estava nos dando um gostinho breve do que esperar. Tivemos a balada soft-rock “Die With a Smile” em uma descomunal parceria com o incrível Bruno Mars (que já lhes rendeu uma estatueta do Grammy), a profusão electro-clash da potente “Disease” e a amálgama impecável de house, dance-pop e synth-pop de “Abracadabra”. Confesso que estava com medo que o ápice do álbum estivesse destinado a essas três canções, mas fico feliz em dizer que Gaga guardou o melhor para o lançamento definitivo do disco.

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Convidando-nos em uma jornada explosiva e frenética de catorze faixas (na versão padrão), a performer singra por inúmeros gêneros e, diferente do que imaginávamos, controla o caos como se essa entidade intangível pudesse ser materializada, construindo uma clara narrativa que culmina em uma espécie de libertação criativa e estética – mostrando que, de fato, Gaga está em pleno domínio do que deseja fazer. “Garden of Eden”, que sucede “Abracadabra”, traz uma teatralidade conhecida aos nossos ouvidos, pegando elementos do pop-rock de The Veronicas e da famosa sonoridade de Prince, em especial do álbum ‘Purple Rain’, para contar uma sensual história de paixão que usa e abusa dos sintetizadores e de um electro-rock delicioso, cortesia das habilidosas mãos do produtor francês Gesaffelstein.

É notável como a faixa mantém-se fiel à identidade das predecessoras e, ao mesmo tempo, afasta-se em um grito próprio – e isso não acontece apenas aqui. “Perfect Celebrity” traz Andrew Watt e Cirkut de volta à estrutura e mergulha em um delicioso pop-rock que nos arremessa de volta aos anos 2000 e pega uma veia mais dark que a própria Madonna explorara no final dos anos 1990 e no começo deste século; “Vanish Into You” dá ares de uma balada melódica antes de se render às incursões dos anos 1970 e 1980, apostando em um envolvente baixo que traz funk e disco pincelando versos impecáveis como “uma vez em uma lua azul, eu me esqueço de você; e, uma vez na sua vida, você será meu”; “Zombieboy” permanece na estética mencionada acima em um arranjo instrumental de tirar o fôlego e que dialoga com as faixas mais despojadas da discografia de Gaga, da maneira mais elogiosa possível.

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Um dos elementos de maior sucesso do álbum é o modo como ele progride, atingindo seu ápice inúmeras vezes em uma montanha-russa de emoções e de anseios para ir direto à pista de dança. “LoveDrug” volta ao synth-pop de forma gloriosa e extremamente sofisticada, como se Gaga estivesse prestando homenagens a si própria e às suas maiores inspirações do cenário fonográfico; “How Bad Do U Want Me” utiliza de maneira sagaz e envolvente a progressão da clássica “Only You”, do grupo Yazoo, transmutando os acordes em uma investida contemporânea que irrompe em um refrão caprichoso, sólido e cativante – da maneira que apenas ela consegue fazer; e “Don’t Call Tonight”, de longe a melhor entrada do álbum, vibra no encontro entre a Gaga do início da carreira e seu aplaudível amadurecimento, colocando a bateria e o baixo em perfeita sincronia com sintetizadores ao mesmo tempo potentes e retraídos, deixando que os vocais irretocáveis da artista roubem os holofotes em uma rendição arrepiante.

Talvez a única faixa que venha a dividir os ouvintes, principalmente os little monsters, seja “Killah”. Trazendo Gesaffelstein como colaborador direto da track, a faixa traz um bassline marcante e um apoio total no funk norte-americano – algo que traz uma quebra significativa, ainda mais considerando a posição em que se localiza no álbum -, mas nada que seja repudiável (afinal, a qualidade técnica permanece sem muitos deslizes chamativos). De qualquer maneira, os meros equívocos não são fortes para ofuscar a beleza da obra – e a trindade de encerramento formada por “The Beast”, “Blade of Grass” e “Die With a Smile” é perfeita da maneira como foi posta.

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‘MAYHEM’ não apenas é um retorno glorioso de Lady Gaga às suas raízes, e sim uma celebração de sua carreira em uma explosão vibrante de remodelações e de originalidade que coloca o álbum em um espectro atemporal – sagrando-se, ao menos até agora, como o melhor lançamento de 2025.

Nota por faixa:

1. Disease – 5/5
2. Abracadabra – 5/5
3. Garden of Eden – 5/5
4. Perfect Celebrity – 4,5/5
5. Vanish Into You – 5/5
6. Killah ft. Gesaffelstein – 4/5
7. Zombieboy – 4/5
8. LoveDrug – 4,5/5
9. How Bad Do U Want Me – 5/5
10. Don’t Call Tonight – 5/5
11. Shadow Of A Man – 5/5
12. The Beast – 5/5
13. Blade of Grass – 5/5
14. Die With A Smile com Bruno Mars – 5/5

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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