quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Medida Provisória – Lázaro Ramos dirige brilhante filme que critica o governo brasileiro

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O público brasileiro está acostumado a ver o rostinho de Lázaro Ramos nas telinhas da TV aberta. Sucesso cravado desde a série ‘Sexo Frágil’, lá nos idos 2003, aos poucos Lázaro foi conquistando seu espaço nas telas, partindo para novelas, depois para o protagonismo de programas próprios, seguidos por programa de audiência. Então, o ator enveredou para uma longa temporada no teatro e anunciou sua saída da Rede Globo, com consequente contratação pela Prime Video. No meio disso tudo, dirigiu seu primeiro longa-metragem, em 2019, intitulado ‘Medida Provisória’, cuja pré-estreia em território nacional aconteceu em acalorada e disputadíssima sessão do Festival do Rio 2021 – e com estreia nos cinemas hoje (14), apesar das tentativas de embargo.



Em um futuro distópico, o governo federal brasileiro decide decretar uma ‘Medida Provisória’ para reparar o passado escravocrata do país: a medida prevê enviar de volta à África todos os negros brasileiros que assim o desejarem, no intuito de fazer com que essas pessoas se reconectem com suas raízes. Diante da baixa adesão e da possibilidade de se livrar de boa parte da população, os funcionários Isabel (Adriana Esteves) e Santiago (Pablo Sanábio) não pouparão esforços para realizar a higienização social do país através da manutenção exclusiva das pessoas brancas. Mas, do outro lado, haverá resistência, e muita, à essa absurda imposição governamental. Encabeçadas pelo casal Capitu (Taís Araújo) e Antônio (Alfred Enoch, de ‘Harry Potter’), e pelo melhor amigo André (Seu Jorge), que contarão com a rede de apoio de pessoas brancas contrárias à MP, como a jovem Sara (Mariana Xavier), namorada de André.

Em uma hora e quarenta e três de duração, ‘Medida Provisória’ é um filme extremamente emocionante, até mesmo nos créditos, que rola montagens que mesclam os atores do longa com grandes referências pretas do mundo. Inspirado na peça ‘Namíbia, não!’ escrita por Aldri Anunciação – que Lázaro dirigiu em 2011 –, o longa intercala os gêneros do drama com a ficção científica conduzidos por pinceladas cômicas (encabeçadas caricaturescamente por Seu Jorge) para abordar um tema seríssimo e infelizmente atual, e o faz de maneira intensa, profunda e verdadeira, com o devido respeito e revolta que o argumento pede.

A carga emocional inserida na trama é o fio condutor que embala o espectador a entender, realmente entender, do quê o filme está falando, especialmente daquilo que não é falado abertamente: o racismo estrutural que molda nosso país há 522 anos. E para isso embala seu enredo nas atuações comoventes de um elenco de peso, que inclui ainda Renata Sorrah e quase todas as grandes referências negras da atualidade, como Lua Xavier, Hilton Cobra, Emicida, Jéssica Ellen, Diva Guimarães, entre outros. Só por reunir um elenco desses o filme já está de parabéns.

Medida Provisória’ é desses filmes catárticos que nem é bom contar muito porque o grande lance é ser conduzido por essa terrível ficção, que se aproxima muitíssimo do comportamento da nossa realidade. Apesar de ser o primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, já é, sem dúvida, um filme que se tornará referência para muitos artistas e estudantes de cinema no futuro. Porque ‘Medida Provisória’ não é um filme, é um grito entalado na garganta de milhões de brasileiros que não vão mais se calar sobre sua cor de pele. É pra lotar as salas de cinema quando estrear.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Em um futuro distópico, o governo federal brasileiro decide decretar uma ‘Medida Provisória’ para reparar o passado escravocrata do país: a medida prevê enviar de volta à África todos os negros brasileiros que assim o desejarem, no intuito de fazer com que essas pessoas se reconectem com suas raízes. Diante da baixa adesão e da possibilidade de se livrar de boa parte da população, os funcionários Isabel (Adriana Esteves) e Santiago (Pablo Sanábio) não pouparão esforços para realizar a higienização social do país através da manutenção exclusiva das pessoas brancas. Mas, do outro lado, haverá resistência, e muita, à essa absurda imposição governamental. Encabeçadas pelo casal Capitu (Taís Araújo) e Antônio (Alfred Enoch, de ‘Harry Potter’), e pelo melhor amigo André (Seu Jorge), que contarão com a rede de apoio de pessoas brancas contrárias à MP, como a jovem Sara (Mariana Xavier), namorada de André.

Em uma hora e quarenta e três de duração, ‘Medida Provisória’ é um filme extremamente emocionante, até mesmo nos créditos, que rola montagens que mesclam os atores do longa com grandes referências pretas do mundo. Inspirado na peça ‘Namíbia, não!’ escrita por Aldri Anunciação – que Lázaro dirigiu em 2011 –, o longa intercala os gêneros do drama com a ficção científica conduzidos por pinceladas cômicas (encabeçadas caricaturescamente por Seu Jorge) para abordar um tema seríssimo e infelizmente atual, e o faz de maneira intensa, profunda e verdadeira, com o devido respeito e revolta que o argumento pede.

A carga emocional inserida na trama é o fio condutor que embala o espectador a entender, realmente entender, do quê o filme está falando, especialmente daquilo que não é falado abertamente: o racismo estrutural que molda nosso país há 522 anos. E para isso embala seu enredo nas atuações comoventes de um elenco de peso, que inclui ainda Renata Sorrah e quase todas as grandes referências negras da atualidade, como Lua Xavier, Hilton Cobra, Emicida, Jéssica Ellen, Diva Guimarães, entre outros. Só por reunir um elenco desses o filme já está de parabéns.

Medida Provisória’ é desses filmes catárticos que nem é bom contar muito porque o grande lance é ser conduzido por essa terrível ficção, que se aproxima muitíssimo do comportamento da nossa realidade. Apesar de ser o primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, já é, sem dúvida, um filme que se tornará referência para muitos artistas e estudantes de cinema no futuro. Porque ‘Medida Provisória’ não é um filme, é um grito entalado na garganta de milhões de brasileiros que não vão mais se calar sobre sua cor de pele. É pra lotar as salas de cinema quando estrear.

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