Do Fundo do Mar
Foi na década de 1950 que a ficção científica deu origem ao cinema B – filmes que tinham boas ideias e boas intenções, mas pouco dinheiro. É claro que os orçamentos mais folgados iam para as produções tidas como “sérias”, já que tal subgênero era visto como item para poucos e uma aposta verdadeiramente arriscada.
Corta para 2018, era onde o conceito “é cool ser trash” está mais do que cimentado na cultura popular e a ficção científica, terror, ação, super-heróis e tudo que for absurdo é exatamente o tipo de material mais consumido pelo grande público.
Dentro deste contexto, filmes como Megatubarão deixam o ceticismo de lado para se consagrarem como produção indispensável. Devo mencionar também que o longa usa um quesito muito adorado pelos fãs que compram este tipo de produto: tubarões.
Desde Tubarão (1975), de Steven Spielberg, as ferozes criaturas marinhas nunca mais abandonaram seu status no audiovisual. Tudo bem que os peixes assassinos atualmente figuram muito mais em projetos filmados para canais de TV, vide SyFy, onde estrelam filmes de baixo orçamento e alto índice de valor culposo.
Agora, a Warner joga os holofotes numa grandiosa produção estrelada pelo bicho pré-histórico. Com o orçamento em torno de US$150 milhões, Megatubarão é um filme gigante dentro e fora das telas, digno dos maiores e mais caros blockbusters da atualidade.
Curiosamente, durante muito tempo o longa era apenas uma ideia insana, muito similar ao que se teve em Serpentes a Bordo (2006). Pense no conceito mais alucinado e absurdo, e desenvolva uma premissa. Ela pode ser: cobras soltas em um avião ou um tubarão de 25 metros aterrorizando pessoas. Tais conceitos esdrúxulos vieram a se concretizar de forma empenhada.
Na verdade, Megatubarão é mais do que apenas uma ideia inacreditável para um filme, é baseado em um livro (acredita se quiser), escrito por Steve Alten. O roteiro escrito a três mãos (e precisa de tanto?) por Dean Georgaris (Sob o Domínio do Mal), Jon Hoeber (Battleship) e Erich Hoeber (Red – Aposentados e Perigosos) vai direto ao ponto sem perder muito tempo. No processo, porém, esquece de criar bons personagens e cenas emblemáticas. O humor até existe e satisfaz, embora para este tipo de filme escalafobético, quanto mais comicidade intencional, melhor.
Por outro lado, é preciso ser justo. E na proposta de tensão, suspense e momentos nervosos, Megatubarão se sai bem. Existe uma sensação inquietante permeando cada momento do filme. O sentimento de falsa quietude é constante e o diretor Jon Turteltaub (A Lenda do Tesouro Perdido) mostra o que aprendeu na escola Spielberg de esconder a criatura até o momento certo.
Na trama, Jason Statham é o líder de uma equipe de resgate e é o melhor no que faz. Sua imagem fica manchada após uma operação na qual algumas pessoas terminam mortas. É durante este momento, que serve de abertura ao filme, que o protagonista tem seu primeiro contato com o monstro. Traumatizado, ele se exila. Mas logo é encontrado e trazido novamente para a ação quando sua ex-mulher necessita de ajuda.
O elenco de rostos reconhecíveis dá vida a papeis estereotipados, caprichando nas tintas simplistas que as produções do gênero costumam usar. Temos o herói destemido (Statham), o ricaço ambicioso (Rainn Wilson), a mocinha honrada (Li Bingbing), o alívio cômico (Page Kennedy), o melhor amigo (Cliff Curtis), o desafeto (Robert Taylor), a técnica em informática estilosa (Ruby Rose) e a criança (Sophia Cai) – que a menos não se encontra em perigo.
Megatubarão tem um ponto de partida interessante, com certo embasamento científico ao focar no desbravamento e mapeamento de territórios inexplorados nas profundezas do oceano. Depois, entrega justamente o que quem paga para assistir a um filme com este título deseja: adrenalina, tensão, medo, ação e bons efeitos. Além disso, os realizadores, por diversas vezes, planejam puxar o tapete debaixo de nossos pés, atingindo o objetivo na maioria.
Pronto para o consumo no mercado asiático – onde o público verdadeiramente vibra com tal tipo de produção, Megatubarão é satisfatório em sua proposta, cumprindo o prometido com honestidade e sem grandes desvios. A galhofa até consegue ser levada a sério (dentro do possível), tratado mais como os filmes de monstros no estilo Godzilla, do que algo como seu primo pobre, Sharknado, por exemplo. O único deslize que o longa poderia ter aprimorado seria criar personagens melhores para maior identificação com o público. É um bom passatempo, porém esquecível.
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