Depois de muitas polêmicas nos bastidores, com direito a novo desentendimento entre Sylvester Stallone e o produtor da franquia, Mercenários 4 correu risco de sequer acontecer ou, mais estranho ainda, ser feito sem seu protagonista, Barney Ross (Stallone). Mas os dois se resolveram e o filme não só foi feito, como também conta com a presença de Sly, naquela que promete ser sua última participação na saga dos soldados de aluguel. E assim chega aos cinemas nesta quinta (21) Mercenários 4, um filme que ninguém pediu, mas ainda assim nunca parece ser demais ver os heróis dos anos 80 descendo tiro, porrada e bomba num monte de capanga por aí.
A franquia Mercenários surgiu lá em 2009 com a proposta de reunir em tela os maiores brucutus do século XX para mostrarem que não estão ultrapassados e ainda sabem descer a porrada cinematográfica como poucos. O primeiro filme fez sucesso de público, mas não foi tão bem nas críticas. Ainda assim, era muito legal ver aqueles dinossauros da ação botando pra quebrar na zona oeste do Rio de Janeiro. Então, no auge dos filmes de super-heróis, chegou Mercenários 2, que decidiu mudar a abordagem, reunindo o maior elenco porradeiro já visto na história do cinema, com Stallone, Arnold Schwarzenegger, Jason Statham, Dolph Lundgren, Bruce Willis, Jet Li e, claro, o lendário Chuck Norris. A seriedade saiu de cena, abrindo espaço para uma abordagem mais bem-humorada, com esses ícones autorreferenciando suas gloriosas carreiras, mas sem abrir mão da ação e violência. O resultado foi um blockbuster espetacular. Com o sucesso do 2, o terceiro filme ganhou sinal verde… E aí as coisas desandaram. Muitos nomes de peso deixaram a franquia e a reposição não ficou a altura. Saíram os atores queridos dos anos 80 e entraram nomes mais ligados a aventuras, como Harrison Ford, Wesley Snipes e Antonio Banderas. E deles não há do que reclamar. Cumpriram seus papéis conforme o esperado. O problema é que tentaram fazer uma passagem de bastão para um elenco mais jovem, formado em sua maiorias por nomes vindos das principais ligas de luta do mundo, como o UFC. Só que absolutamente ninguém poderia ligar menos para eles. Sem contar que não tinham carisma o bastante para sustentar uma franquia. Ou seja, foi terrível.
Neste quarto capítulo, que está sendo vendido como “um filme à moda antiga”, a ideia da direção foi se aproximar novamente do segundo filme da saga, apostando mais no humor e na megalomania, o que poderia ser fantástico, mas acaba sendo bem ruim justamente pelo mesmo problema de Mercenários 3: a reposição não é boa o bastante.
Depois de perder o incomparável Schwarzenegger e o carismático Terry Crews, a aposta da vez é Megan Fox, o rapper 50 Cent e Andy García. No entanto, que acaba roubando a cena mesmo é Tony Jaa, que interpreta um ex-Mercenário que adotou o pacifismo como filosofia de vida e acaba tendo que rever seus conceitos ao encontrar o Christmas de Jason Statham. Apesar dele estar com um visual meio Boneco Josias, lembrando muito o humorista Igor Guimarães, ele consegue criar uma química muito divertida com Statham, e cativa na ação com seus golpes tailandeses perfeitamente executados. Ele acaba sendo umas das melhores coisas do filme.
Infelizmente, o resto do elenco novo não corresponde. 50 Cent não está mal, mas fica reduzido a pequenas participações, que divertem, mas não são marcantes. Agora, García e Megan Fox estão sofríveis! Até para seu histórico, Andy García está num nível de canastrão difícil de levar a sério. Já a Megan Fox… Complicado demais. Faz um tempo que ela disse ter começado a escolher melhor seus filmes, só aceitando papéis que valorizem sua personagem e não apenas seu corpo. Mas a abordagem dela aqui faz o Michael Bay parecer um ícone da luta feminista. Sua primeira cena no filme é ela dando um pití injustificável e que não volta a ser trabalhado posteriormente. Só mostram ela como louca descompensada nesta cena e é isso. E a atuação também tá longe de acontecer. Ela até tenta, mas fica mais artificial que o CGI dos aviões do longa.
Mas o maior erro do filme é justamente reduzir Sylvester Stallone a uma participação especial. Você sente que está vendo um filme da franquia “Mercenários” nas cenas que ele aparece. Quando ele sai de cena, o negócio desanda para um filme do Jason Statham. E nem vai pelo caminho dos filmes bons do careca, vai para os ruins. É uma pena, porque os poucos diálogos 100% babacas entre ele e Sly divertem muito, criando aquele tipo de humor politicamente incorreto que é delicioso de ver em cena. Aí, em vez de explorar isso, eles tentam novamente passar o bastão para uma nova geração não poderia importar menos para o público.
A graça de Mercenários é ver os coroas sendo idiotas uns com os outros, tal qual seu tio encontrando os amigos no bar, e usando a violência como solução para tudo. Enquanto os produtores ficarem tentando transformar o grupo numa galera mais jovem, não vai dar certo.
No fim das contas, Mercenários 4 consegue ser melhor que seu antecessor, mas não é o bastante para ser considerado minimamente um bom filme. É que o 3 foi muito ruim mesmo. Nem mesmo as cenas de ação salvam. Uma pena.
Mercenários 4 está em cartaz nos cinemas.