quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | Millenium: A Garota na Teia de Aranha – Novo filme mantém um bom nível

Uma James Bond feminina

Nestes tempos de representatividade, nos quais personagens icônicos ou marcas estabelecidas ganham novas roupagens, temos recebido uma enxurrada de mudanças étnicas e sexuais – a maioria, bem-vinda (mesmo que seus filmes não as acompanhem). Um dos itens mais pedidos é a versão feminina de James Bond. Bem, se vai acontecer ou não ninguém sabe – mas não precisa, pois já temos aqui um exemplar do agente secreto bem mais subversivo.

Desde sua edição norte-americana, dirigida por David Fincher em 2011, o universo criado pelo falecido autor Stieg Larsson se aproximava das formas de 007. Ou melhor, a uma versão “modernoza” dele. Banhada pela atemporal Immigrant Song (de Led Zeppelin), cantada nas cordas vocais de Karen O, o longa ganhava uma introdução de créditos xerocada dos filmes do espião criado por Ian Fleming. Era o recado de que Lisbeth Salander é a espiã dos novos tempos e seus casos – mesmo mais voltados ao suspense (e donos de temáticas hardcore) – repletos de potenciais intrigas internacionais.

Nada, no entanto, escalado ao nível do que temos aqui, agora com este quarto exemplar. Vale contextualizar a carreira da protagonista, pelas folhas e telas. Nos livros, Larsson tinha planos para uma série em 9 capítulos. Faleceu no terceiro – os três transpostos para o cinema, em versões suecas estreladas por Noomi Rapace (que fez seu nome graças à suntuosa performance). Já no ano seguinte, Fincher lançaria sua aprimorada versão da mesma história, com planos para a segunda e terceira partes. Que nunca viriam graças ao desempenho abaixo do esperado nas bilheterias.

No papel, a história de Salander continuou com David Lagercrantz, o autor designado para dar seguimento às aventuras da hacker. No cinema, a Sony também não estava pronta para desistir. O caminho optado, no entanto, foi o reboot (palavra de ordem na Hollywood atual – se algo não funcionou da forma que deveria, se reinicia). Assim, sai Fincher e Rooney Mara (mesmo com indicação ao Oscar debaixo do braço e tudo) e entram Fede Alvarez (A Morte do Demônio e O Homem nas Trevas) e Claire Foy (The Crown e O Primeiro Homem). Assim, novo autor, novo livro, nova protagonista e novo diretor se encontram harmoniosamente.

Bem, e como dito de início, Lisbeth Salander nunca foi tão James Bond quanto em A Garota na Teia de Aranha. Sim, a trama ainda carrega muitas tintas de subversão, e a protagonista exala seu ar de justiceira, personificando a essência de nossa lei Maria da Penha com unhas e dentes. Se a lei ganhasse vida e assumisse a forma feminina, ela seria Salander. E sim, ainda existe muitas ligações com seu passado, o que continua tornando Millenium uma trama pessoal para a protagonista. Mas aqui também adentramos o terreno da espionagem internacional como nunca anteriormente, com direito a agente especial dos EUA interferindo em território sueco (papel de Lakeith Stanfield), planos de armas nucleares roubados de um cientista (Stephen Merchant), organizações terroristas e uma vilã tipicamente bondiana (Sylvia Hoeks).

Claire Foy não desaponta como Lisbeth, e consegue entregar uma atuação sólida – atingindo a nota certa, inclusive do sotaque sueco, sem soar forçado. De fato, sua Lisbeth ecoa a de Mara, e compramos logo de cara a substituição. O problema nem de perto é a performance dedicada da britânica. Também não se encontra na direção lúcida de Alvarez, abraçando com vontade seu trabalho mais ambicioso. O diretor uruguaio cria momentos estéticos belíssimos, imagens inspiradas, e uma edição dinâmica. A dupla encontra perfeita sintonia e entrega um novo filme digno da franquia.

Não deixe de assistir:

O problema é a sanitarização pela qual o novo longa passa. A jogada da Sony para o reboot, foi tirar os 18 anos da censura do longa de Fincher, e jogar aqui – ao menos no Brasil – a censura 12 anos. O fato é perceptível ao repararmos num filme mais comportado, sem a mesma intensidade (especialmente sexual) dos anteriores – ou qualquer relação entre os personagens Lisbeth e Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnasson). Esta pegada menos impactante, embora notável, não cria barreira ou atrapalha o andamento da obra. É apenas a versão que não necessitará de cortes ao passar na TV aberta.

No elenco, destacam-se ainda Vicky Krieps (de Trama Fantasma) como a editora Erika Berger e Synnove Macody Lund (de Headhunters) no papel de uma oficial do alto escalão.

Millenium: A Garota na Teia de Aranha é um bom entretenimento, longe da significância da obra de Fincher ou das originais. Por outro lado, se mostra exatamente o que era necessário para uma longeva e mais acessível incursão a este universo. E na outra palavra de ordem em Hollywood: franquia. Foy e Alvarez estão aprovados para seguirem nesta trajetória.

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