terça-feira, dezembro 23, 2025
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Crítica | Minha Mãe é uma Peça 2

Engraçado e Emocionante

Provando que um raio pode sim cair no mesmo lugar duas vezes, Paulo Gustavo e os envolvidos com a produção da comédia Minha Mãe é uma Peça acertam novamente, entregando uma continuação tão boa quanto o filme original.

Surgida como homenagem/sátira de sua própria mãe, a personagem Dona Hermínia, criação do humorista Paulo Gustavo, mostrou-se extremamente popular nos palcos e na TV, realizando uma transição muito bem sucedida para as telonas também. Minha Mãe é uma Peça (2013) foi um dos pontos altos no cinema brasileiro de seu respectivo ano, mostrando antes de qualquer coisa que comédia nacional pode funcionar com inteligência e sem precisar depender exclusivamente do humor de baixo calão.

Sim, grande parte do mérito deve ir para Paulo Gustavo, a espinha dorsal desta empreitada. Afinal, o filme é moldado ao redor dele e de seu alter ego. Dona Hermínia é sem paciência, nervosa, escandalosa, não leva desaforo e vive em função dos filhos. Tem também as melhores tiradas e as profere com a cara de pau de quem se vê indiferente às opiniões alheias. É claro que também precisa existir humanidade, carinho e afeição para a personagem se tornar crível e fazer-nos criar um laço de identificação.

Na trama, Hermínia faz sucesso com seu programa de TV, no qual diz o que pensa sem papas na língua e oferece suas opiniões sempre ácidas sobre os mais variados tópicos. O sucesso a fez inclusive mudar para um apartamento maior. As desavenças com os filhos e o ex-marido seguem do tempo em que pararam, não existe grande evolução narrativa aqui em relação ao filme original em tais quesitos.

As novidades das crias trazem o sonho de ser atriz da rechonchuda Marcelina (Mariana Xavier), criando uma ponte aérea entre Rio e São Paulo, e a mudança de orientação sexual de Juliano (Rodrigo Pandolfo), que de gay decide ser hétero, ou bissexual, dependendo do ponto de vista. Com o ex-marido Carlos Alberto (Herson Capri) velhas faíscas ressurgem. No elenco, ainda as presenças revisitadas da irmã Iesa (Alexandra Richter), a empregada Valdéia (Samantha Schmutz), o filho mais velho Garib (Bruno Bebianno) e a tia Zélia (Suely Franco).

Entre os personagens adicionados, destaca-se Lúcia Helena (Patricya Travassos), a irmã mente aberta, vinda dos EUA para perturbar ainda mais a inexistente serenidade da protagonista.

Mesmo que nem tudo funcione em Minha Mãe é uma Peça 2, como um momento em uma boate de São Paulo, com direito a um número musical em que Hermínia cai na dança, realizando uma coreografia ao lado dos figurantes, o novo longa traz mais acertos do que erros. O foco ainda é em uma mulher que não sabe muito bem o que fazer de sua vida se não estiver se preocupando com os filhos, sua eterna responsabilidade. Sua cruz é também sua válvula de escape.

O que surpreende na sequência é a atenção dada na medida certa ao tom dramático que cerca a subtrama da tia Zélia, cada vez mais senil e exigindo cuidados especiais. Em tais trechos, o diretor César Rodrigues (diretor de Vai que Cola na TV e cinema), substituindo André Pellenz (também escolado na arte de Paulo Gustavo, já que é o diretor da série 220 Volts), acerta o sentimento, sem ser piegas ou sentimentalista, em especial se levarmos em conta que esta é uma comédia escrachada.

Com o desfecho de Minha Mãe é uma Peça 2, as portas ficam abertas para uma nova Hermínia. Agora é torcer para que a personagem mais engraçada do cinema nacional recente não demore muito a voltar para as telonas, em grande estilo e, como sempre, aos berros.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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