Em 2005, o apresentador Marcos Mion foi pai pela primeira vez. Era para ser apenas uma notícia feliz, mas a paternidade trouxe um desafio a mais para a família: Romeo, o primogênito, nascera sob o espectro autista. Enquanto os papais buscavam entender como parentar esse filho que trazia consigo um mundo todo novo, a mídia e os fãs de Mion tentavam entender como o apresentador lidaria com o novo papel. Mas, nesses anos todos que se passaram, Mion, ao contrário de muitos, abraçou seu filho e se tornou um grande porta-voz em defesa dos direitos das pessoas autistas. São anos e anos de luta pela visibilidade da causa, e agora Mion vem com sua mais nova ferramenta de luta: o longa ‘MMA – Meu Melhor Amigo’, que teve uma única sessão de exibição no Festival do Rio 2024 e que chega aos cinemas brasileiros em março de 2025, com distribuição da Star Distribution/Disney.
Max Machadada (Marcos Mion) era um dos maiores expoentes do MMA, até o dia em que machucou o ombro e nunca mais conseguiu voltar ao octógono. Desde então, Max passa os dias praticando o esporte sem muita vontade na academia, e passa as noites com mulheres e muita bebedeira. Até o dia em que Laís (Andréia Horta, de ‘Cidade de Deus: A Luta Não Para’) aparece em sua vida, contando-lhe que ele tivera um filho com sua amiga (Vanessa Giácomo) oito anos atrás. Essa notícia já seria uma surpresa e tanto para Max, mas então ele descobre que seu filho, Bruno (Guilherme Tavares), vive no espectro autista, e Max não faz a menor ideia de como tratar a criança. No meio disso tudo, Max está com uma luta superimportante marcada, que poderá colocar sua carreira de volta aos eixos, e agora ele precisará entender quais são as verdadeiras prioridades em sua vida.
Escrito por Paulo Cursino (que já escreveu sucessos como ‘Os Farofeiros’) e Daniel Belmonte (de ‘B.O.’), com supervisão e argumento do próprio Mion, o filme parte da ideia/vida de Marcos para construir uma base de ficção na qual tanto o apresentador se encaixe, quanto o público se identifique. Assim, temos dois cernes que andam em paralelo – a vida de lutador e a convivência com pessoas autistas – nas duas horas de produção, que se entrelaçam com outros acontecimentos (o treino, o romance, os problemas pessoais do passado etc).
O primeiro cerne, o do lutador, claramente bebe na fonte do maior clássico desse gênero, ‘Rocky’, com literalmente cenas (exageradas na caricatura) de Mion lutando/treinando tal qual Stallone o fez décadas atrás. Apesar de partirmos desse universo de luta e (certa) violência, esse é o núcleo que tenta atrair o grande público, com participação de Antônio Fagundes e trazendo um protagonista solto na vida, mulherengo, super rico, e num shape sensacional. Aliás, o esforço de Mion em entrar no físico de um lutador é realmente impressionante, e não são poucas as cenas do ator sem camisa!
Mas o núcleo que realmente engata o filme de José Alvarenga Jr. (da série ‘Supermax’) é o do drama, do pai que se descobre pai – e pai de um filho especial. Ali vemos Mion muito mais natural e com o brilho impressionante do jovem Guilherme Tavares, que dá um show de atuação como um menino autista com dificuldades de socialização. Guilherme é o centro de todas as cenas em que aparece, roubando toda a nossa atenção e conquistando o público com seu carisma.
‘MMA – Meu Melhor Amigo’ é um filme surpreendente e que presta um ótimo serviço em mostrar (principalmente ao público que não tem contato com pessoas autistas) como a sociedade pode conviver em harmonia com pessoas no espectro. Didático, direto e afetuoso, ‘MMA – Meu Melhor Amigo’ é ótima ferramenta para o debate da inclusão social.