domingo , 17 novembro , 2024

Crítica | Motel Destino – Suspense Erótico Brasileiro mistura Voyerismo e Luxúria

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Com tons de gêneros mesclados entre o erótico, o suspense e o policial, Karim Aïnouz volta à sua terra natal nas areias e sol escaldante do Céara em Motel Destino. Apresentado na Competição Oficial do Festival de Cannes 2024, o longa brasileiro esbanja sensualidade e tem como pano de fundo os ruídos das relações sexuais alheias tal como uma sessão de tortura, isto é, o prazer e a dor caminham lado a lado.

Completamente distante da sua última passagem por Cannes em 2023, no qual apresentou o ainda inédito no circuito comercial brasileiro Firebrand, situado na corte britânica do século XVI, o cineasta cearense mergulha no nordeste brasileiro. Desse modo, Karim Aïnouz pinta na tela do cinema suas cores, música e essência através do trio de personagens Heraldo (Iago Xavier), Elias (Fábio Assunção) e Dayana (Nataly Rocha). 

Logo no início somos apresentados a Heraldo, o qual compartilha com seu irmão os planos de deixar o litoral nordestino e tentar a sorte em São Paulo. Os dois cresceram com os pais ausentes e, atualmente, trabalham para o tráfico de drogas da região abastecida pela visita de estrangeiro à praia. Antes de seguir os seus planos, Heraldo precisa quitar sua dívida com uma matriarca do crime.



motel destino

Aos 20 anos, o rapaz se vira com as oportunidades que aparecem no seu caminho. Embora tenha a importante missão de “cobrar” uma dívida de um comerciante francês no dia seguinte, ele passa a noite no forró e acaba no motel com uma moça desconhecida. Depois da noite de prazer, Heraldo acorda sozinho e sem um tostão na carteira. Atrasado para o seu compromisso, ele tenta negociar o pagamento da pernoite.

Nomeado Motel Destino, o local não é batizado assim por acaso. Este é o lugar que muda a sorte do rapaz. Com uma trajetória de miséria e esperança, Motel Destino lembra-nos dos filmes anteriores do diretor, como Praia do Futuro (2014) e O Céu de Suely (2006). Ouso dizer que esses dois têm um acabamento de roteiro melhor do que o novo longa, escrito por Karim em parceria com Wislan Esmeraldo e Maurício Zacharias

Os filmes anteriores contavam com co-autoria de Felipe Bragança, o qual trazia camadas profundas aos personagens e resoluções difíceis e factíveis. Após as trágicas consequências do seu atraso para missão, Heraldo é jurado de morte, sem dinheiro e opção, o jovem pede refúgio no motel da noite anterior. 

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Là, o casal proprietário Elias e Dayana o recebem com a condição de trabalhar em pequenos reparos no local e também, claro, por o acharem atraente. Enquanto Elias apruma o rabo de pavão macho e tira vantagem do rapaz, Dayana o tem como amante às escondidas do marido, mas não das câmeras do estabelecimento. 

Escondido entre os corredores do motel e dos hábitos peculiares de seus proprietários, Heraldo navega entre o desejo que Dayana despertou nos seus jovens hormônios e a tolerância do jeito bonachão de Elias. Dono de dois jumentos, os quais observa em delírio o acasalamento, Elias é um voyeur e espia os clientes em pleno ato sexual.

Pouco a pouco, Heraldo percebe que Elias e Dayana estão longe de ser pessoas de bom caráter, além dos constantes abusos e ameaças entre eles. Essas atitudes explicam o interesse de Dayana no garoto mais novo, como uma válvula de escape ou mesmo uma saída literal da vida de limpar esperma do coito alheio.

motel destino

Filmado em 16mm, Motel Destino tem uma textura tanto do granulado em tela como do suor impregnado na pele dos atores. A sensação é de estarmos numa prisão com esses três personagens e os gemidos do sexo são gritos de tortura para livrar-se desse ambiente cercardo, fechado e clausurado, além da presença constante dos desejos acima da razão.

O clima de tensão entre os três personagens é bem desenhado, mas o desenrolar das descobertas é embaralhado e pouco palpável. Todos os atores são brilhantes em cena, mesmo o novato Iago Xavier, cuja atuação vacila somente nos minutos finais, não por culpa do ator, mas pelo estranho texto teatral e fora do tom. 

Com algumas arestas para acertar, Motel Destino exala sensualidade, porém não nos alvoroça os sentidos como esperado. O tom do suspense é morno, a tensão sensual comedida e o desfecho módico perante tantas possibilidades para personagens bem esculpidos. Ao prometer uma pornochanchada, Karim Aïnouz entrega uma original ambientação, mas pouco atrevida.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Completamente distante da sua última passagem por Cannes em 2023, no qual apresentou o ainda inédito no circuito comercial brasileiro Firebrand, situado na corte britânica do século XVI, o cineasta cearense mergulha no nordeste brasileiro. Desse modo, Karim Aïnouz pinta na tela do cinema suas cores, música e essência através do trio de personagens Heraldo (Iago Xavier), Elias (Fábio Assunção) e Dayana (Nataly Rocha). 

Logo no início somos apresentados a Heraldo, o qual compartilha com seu irmão os planos de deixar o litoral nordestino e tentar a sorte em São Paulo. Os dois cresceram com os pais ausentes e, atualmente, trabalham para o tráfico de drogas da região abastecida pela visita de estrangeiro à praia. Antes de seguir os seus planos, Heraldo precisa quitar sua dívida com uma matriarca do crime.

motel destino

Aos 20 anos, o rapaz se vira com as oportunidades que aparecem no seu caminho. Embora tenha a importante missão de “cobrar” uma dívida de um comerciante francês no dia seguinte, ele passa a noite no forró e acaba no motel com uma moça desconhecida. Depois da noite de prazer, Heraldo acorda sozinho e sem um tostão na carteira. Atrasado para o seu compromisso, ele tenta negociar o pagamento da pernoite.

Nomeado Motel Destino, o local não é batizado assim por acaso. Este é o lugar que muda a sorte do rapaz. Com uma trajetória de miséria e esperança, Motel Destino lembra-nos dos filmes anteriores do diretor, como Praia do Futuro (2014) e O Céu de Suely (2006). Ouso dizer que esses dois têm um acabamento de roteiro melhor do que o novo longa, escrito por Karim em parceria com Wislan Esmeraldo e Maurício Zacharias

Os filmes anteriores contavam com co-autoria de Felipe Bragança, o qual trazia camadas profundas aos personagens e resoluções difíceis e factíveis. Após as trágicas consequências do seu atraso para missão, Heraldo é jurado de morte, sem dinheiro e opção, o jovem pede refúgio no motel da noite anterior. 

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Là, o casal proprietário Elias e Dayana o recebem com a condição de trabalhar em pequenos reparos no local e também, claro, por o acharem atraente. Enquanto Elias apruma o rabo de pavão macho e tira vantagem do rapaz, Dayana o tem como amante às escondidas do marido, mas não das câmeras do estabelecimento. 

Escondido entre os corredores do motel e dos hábitos peculiares de seus proprietários, Heraldo navega entre o desejo que Dayana despertou nos seus jovens hormônios e a tolerância do jeito bonachão de Elias. Dono de dois jumentos, os quais observa em delírio o acasalamento, Elias é um voyeur e espia os clientes em pleno ato sexual.

Pouco a pouco, Heraldo percebe que Elias e Dayana estão longe de ser pessoas de bom caráter, além dos constantes abusos e ameaças entre eles. Essas atitudes explicam o interesse de Dayana no garoto mais novo, como uma válvula de escape ou mesmo uma saída literal da vida de limpar esperma do coito alheio.

motel destino

Filmado em 16mm, Motel Destino tem uma textura tanto do granulado em tela como do suor impregnado na pele dos atores. A sensação é de estarmos numa prisão com esses três personagens e os gemidos do sexo são gritos de tortura para livrar-se desse ambiente cercardo, fechado e clausurado, além da presença constante dos desejos acima da razão.

O clima de tensão entre os três personagens é bem desenhado, mas o desenrolar das descobertas é embaralhado e pouco palpável. Todos os atores são brilhantes em cena, mesmo o novato Iago Xavier, cuja atuação vacila somente nos minutos finais, não por culpa do ator, mas pelo estranho texto teatral e fora do tom. 

Com algumas arestas para acertar, Motel Destino exala sensualidade, porém não nos alvoroça os sentidos como esperado. O tom do suspense é morno, a tensão sensual comedida e o desfecho módico perante tantas possibilidades para personagens bem esculpidos. Ao prometer uma pornochanchada, Karim Aïnouz entrega uma original ambientação, mas pouco atrevida.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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