Nos últimos tempos, graças à queda dos direitos autorais de diversas histórias e personagens, nós, cinéfilos, temos sido agraciados com produções que reutilizam essas histórias e personagens colocando-as em um diferente contexto do seu original. Boa parte dessas novas leituras tem ocorrido com a turma que produz filmes de terror – afinal, é mesmo interessante ver algo já conhecido de nosso inconsciente dentro de um contexto aterrorizante. Isso aconteceu com o Ursinho Pooh e sua turma, com Peter Pan, com Cinderella… e agora acontece com o Mickey Mouse – ao menos sua primeiríssima versão, aquela preto e branco assoviando em um barco. É esta imagem que dá o pontapé no filme de terror ‘Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra’, que chega essa semana aos cinemas brasileiros.
Alex (Sophie McIntosh) e Jayna (Madeline Kelman) trabalham em um espaço de diversões para crianças. É aniversário de Alex, mas, para seu desgosto, seu chefe, Tim (Simon Phillips), lhes pede para fazer hora extra pois alguém contratara o espaço para fazer uma festa. Mas Jayna tem outros planos e dá uma escapada, enquanto Alex é surpreendida com uma festa surpresa de seus amigos – Ryan (Ben Harris), Marcus (Callum Sywyk), Gemma (Mireille Gagné), Paul (James Laurin), Jackie (Kayleigh Styles) e Rebecca (Mackenzie Mills) – no seu local de trabalho. Tudo ia bem, até uma figura sinistra usando uma máscara de Mickey Mouse (Simon Phillips) aparecer e começar a matar a todos, um por um.
A primeira frustração em ‘Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra’ é que, apesar de fazer uso da figura do Mickey antigo, a verdade é que o personagem (e sua história) em nada influenciam no desenrolar da trama. Na prática, é só um cara que se transforma em assassino em série a partir do momento em que sente um chamado da máscara do Mickey e a coloca – máscara esta que poderia ser de qualquer outra coisa, pois mais nada no filme tem a ver com o universo Disney nem nada ocorre ou deixa de ocorrer por causa desse elemento.
Mesmo considerando que é uma produção de baixo orçamento (economizado nos momentos certos, como em troca de cenário ou figurino), ‘Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra’ deixa de investir naquilo que mais importa nesse tipo de filme: os efeitos de terror. Tudo bem que nenhum espectador que curte esse gênero vai esperar grandes efeitos especiais, mas acontece que nem sangue direito sai na hora que o assassino enfia uma faca, poxa vida! Aí complica até mesmo para o fã de terror com a maior boa vontade.
Por fim, o roteiro de Simon Phillips (sim, o mesmo que interpreta o Mickey assassino) tem tantas aleatoriedades, que a gente perde a paciência. E não digo sobre a mocinha subir as escadas em vez de fugir pela porta não. Alguns exemplos incluem o grupo todo estar trancado dentro do salão de festas e, do nada, uma personagem externa simplesmente abrir a porta com a maior paz para entrar nesse espaço, aí o assassino aparece e a mata e o grupo foge pro outro lado, ignorando a porta aberta. Sem contar o final do filme, totalmente abrupto, que faz a gente se questionar se ficou faltando alguma coisa do roteiro que o diretor Jamie Bailey decidiu não mostrar.
Falhando em vários aspectos, ‘Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra’ não se sustenta nem como diversão, além de surfar no oportunismo da cara do Mickey para instigar as pessoas a verem o filme mas sem entregar nada proporcionalmente bom. Uma grande frustração.