Quando a Disney observou o sucesso do primeiro filme da franquia ‘Descendentes’, ela levantou o alerta (para si mesma e para outras produtoras) de que os espectadores estavam interessados em conhecer a história de vida pessoal de personagens e histórias clássicas do universo pop. Ou seja, havia um universo imensurável a ser explorado se se desenvolvesse histórias dos personagens secundários, dos vilões e de personagens marcantes que de alguma forma marcaram a jornada do herói. De lá para cá, a Disney já lançou inúmeros projetos nessa vertente, como ‘Cruella’, ‘Malévola’, e agora, nessas férias de fim de ano, a sua mais nova aposta, ‘Mufasa: O Rei Leão’, que conta a história do pai de Simba.
O pequeno Mufasa (na voz original de Braelyn Rankins, e dublado por Lorenzo Tarantelli) está atravessando a savana africana com seus pais, Obasi (Lennie James/Wellington Lima) e Eshe (Thandiwe Newton/Letícia Soares) atrás de Melele, um paraíso no meio de tanta seca, onde eles e outros animais poderão descansar num ambiente tranquilo, com água e comida. Porém, no caminho para Melele infelizmente Mufasa acaba se perdendo de sua família, ficando sozinho e perdido até ser encontrado pelo pequeno Taka (Theo Somolu/Cauê Enzo) e ser adotado pela mãe deste, embora o pai de Taka não goste nem um pouco da situação por considerar Mufasa um desgarrado. Tem assim uma linda amizade entre Mufasa e Taka, porém, quando uma nova ameaça começa a rondar a alcateia de leões, Mufasa (Aaron Pierre/ Pedro Caetano) e Taka (Kelvin Harrison Jr./Hipólyto) deverão seguir o próprio caminho sozinhos.
Em ‘Mufasa: O Rei Leão’ temos as mesmas técnicas de animação em live-action utilizadas no seu predecessor, ‘O Rei Leão’, então, não vamos nos ater a esse ponto que gerou tanto debate da última vez. Vamos, sim, focar no que importa: a história.
O roteiro de Jeff Nathason, Linda Woolverton e Irene Mecchi analisou todos os pontos cruciais de ‘O Rei Leão’ considerando o motivo pelos quais eles se tornam tão importantes na jornada de Simba e, a partir daí, buscou significados, motivos e justificativas para que tais acontecimentos tivessem sucedido tal qual ocorreram na animação. Este é o ponto principal do roteiro, e é também onde está o seu coração: todas as referências encontradas ganham uma justificativa plausível e fortes, de modo que o espectador entenderá perfeitamente o desencadear de eventos que levaram à tragédia de Mufasa anos depois.
Com duas horas de duração, o filme de Barry Jenkins é, também, um musical, é esse é o ponto de quebra. Primeiramente, é esquisito ver animais que se parecem mesmo com leões de verdade cantando musiquinhas; por mais que saibamos se tratar de um filme, o cérebro questiona isso a todo momento. O segundo ponto é que a trilha sonora original ficou a cargo de Lin-Manuel Miranda, que é um ótimo compositor e musicista, mas, aqui, as músicas dão a sensação de interromper a aventura, em vez de embalá-la. Lin não trouxe originalidade às suas canções neste projeto, ao contrário, para quem acompanha o trabalho do artista consegue claramente perceber acordes e trechos já utilizados em outros projetos dele, como em ‘Encanto’ e ‘Hamilton’. No fim, ‘Mufasa: O Rei Leão’ não tem nenhuma canção forte que fique no coração do espectador.
Conduzido como uma história de ninar, ‘Mufasa: O Rei Leão’ é um filme que encorpa o universo de ‘O Rei Leão’ com uma história linda, profunda e que faz total sentido para o que vem depois. Recheada de exemplos, valores e frases de efeito, é um belo filme que faz jus à jornada do grande rei Mufasa e seu legado.