quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Musical ‘Anastasia’ é um deleite para os olhos e uma espetacular adaptação brasileira

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Em 1997, a extinta 20th Century Fox dava vida a uma de suas produções mais subestimadas – a animação musical Anastasia. A trama acompanha o assassinato da família Romanov (a última monarquia russa) pelos rebeldes bolcheviques, cuja principal intenção era depor o domínio czarista e permitir que o povo ascendesse ao governo do país. Entretanto, a jovem personagem titular sobreviveu ao massacre, mas perdeu a memória – e, então, parte em uma jornada para se redescobrir e se reunir com o último membro da família que ainda está vivo. Em 2017, a clássica história foi levada aos palcos da Broadway e, cinco anos mais tarde, a adaptação teatral chegou ao Brasil da melhor maneira possível – e, inclusive, superando o original em diversos aspectos.

Comandado pela certeira mão da diretora associada Carline Brouwer, a versão brasileira da produção é um espetáculo visual, sonoro e performativo, reunindo os clássicos elementos do gênero em uma potente e envolvente narrativa ambientada na Europa do início do século XX. Aqui, Giovanna Rangel, que já emprestou suas habilidades para obras como ‘A Bela Adormecida’ e ‘Coração Canção’, faz sua impecável estreia como protagonista ao interpretar Anya, alter-ego que adota após sofrer amnésia em decorrência dos ataques bolcheviques. A princesa perdida da dinastia Romanov, no primeiro ato, é forçada a trabalhar por um irrisório salário para sobreviver ao frio e à fome – até cruzar caminho com um golpista chamado Dmitri (Rodrigo Garcia) e um ex-aristocrata chamado Vlad (Tiago Abravanel em seu glorioso retorno aos palcos).



Juntos, o trio arquiteta um plano de transformar Anya na princesa, levá-la a Paris para se reunir com a Imperatriz Maria Feodorovna (Edna D’Oliveira) e receber uma recompensa que os permitirá viver a vida que sempre quiseram – tudo sem saberem que Anya é, de fato, Anastasia. Entretanto, nem tudo sai como o planejado: temos o Camarada Gleb (Luciano Andrey), um dos militares responsáveis por manter a ordem no recém-criado Leningrado, que acata os rumores de que a personagem de Rangel seja a princesa Romanov e que mergulha em uma missão para encontrá-la e terminar o trabalho iniciado pelo falecido pai; e, é claro, a Imperatriz, amargurada pelas várias jovens que mentiram sobre serem Anastasia, não acredita que a neta voltará e se confina em seu apartamento em Paris ao lado da dama de companhia Lily (Carol Costa).

A versão brasileira faz um ótimo trabalho ao trazer todos os elementos da peça original estadunidense, mas sem deixar de colocar aspectos únicos que nos fisgam desde o primeiro momento. O ato inicial, que se inicia com uma irretocável sequência no palácio, é movido por uma tétrica e apaixonante rendição de “Foi No Mês de Dezembro”, mergulhada em um antêmico e nostálgico conto de fadas, logo dando espaço à “Última Dança dos Romanovs” – cuja coreografia, a encargo de Denise Holland Bethke, é emocionante e impecável do começo ao fim, aliando-se a uma cenografia que causa arrepios até nos mais céticos.

Se a cena de abertura dá o tom do musical, cabe ao elenco conseguir manter-se sólido para nos guiar por uma complexa trama recheada de reviravoltas, mentiras e sonhos perdidos. Não é surpresa que, considerando a competente equipe artística e técnica por trás da produção, o resultado supere as expectativas: Rangel brilha em seus solos e demonstra uma afetividade simbólica com o público, transmitindo uma singularidade performática que explode em aplausos toda vez que profere a última nota das músicas; Garcia, nutrindo de uma química espetacular com sua companheira de cena, permite que Dmitri ganhe voz em um belíssimo e bem delineado arco, reiterando sua considerável carreira no teatro; Abravanel, um veterano dos musicais, faz um trabalho primoroso como Vlad, roubando os holofotes com sua interpretação jocosa e vigorante.

Mas não é apenas o trio protagonista que nos cativa: do primeiro momento em que Costa aparece como Lily, sabemos que iremos nos divertir – e, no momento em que ela solta a voz nos primeiros versos do dançante hino em memória à terra natal, nossas expectativas se concretizam em uma explosiva e inesquecível atuação. A atriz sabe o que faz e sabe como encantar os espectadores, seja nessa mistura de jazz e folk russo, seja no cândido dueto valsado ao lado de Abravanel – ambos misturando drama e comédia na dose certa.

São vários os elementos imediatamente reconhecíveis que se espalham pela produção: em “Paris Rouba o Seu Coração”, Brouwer e Bethke unem forças para homenagear o lendário Bob Fosse, mas sem abandonar incursões que discorrem sobre a arte russa – como a incorporação da kalinka à coreografia e às movimentações de palco, ou com a construção metalinguística de ‘O Lago dos Cisnes’ em uma arrepiante rendição. E, por mais que a peça não seja livre de momentâneos deslizes, a cautelosa e intrincada engrenagem consegue ofuscar quaisquer obstáculos, mantendo-se viva na nossa mente mesmo horas depois dos agradecimentos.

Anastasia é uma incrível adaptação musical brasileira que não deve absolutamente nada à obra original, conseguindo honrá-la por completo e, como já mencionado, superando-a em vários momentos – principalmente no tocante às performances. A narcótica produção é uma joia do cenário do entretenimento atual e merece ser apreciada em todos os seus detalhes.

Lembrando que o musical continua em cartaz no Teatro Renault, em São Paulo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Comandado pela certeira mão da diretora associada Carline Brouwer, a versão brasileira da produção é um espetáculo visual, sonoro e performativo, reunindo os clássicos elementos do gênero em uma potente e envolvente narrativa ambientada na Europa do início do século XX. Aqui, Giovanna Rangel, que já emprestou suas habilidades para obras como ‘A Bela Adormecida’ e ‘Coração Canção’, faz sua impecável estreia como protagonista ao interpretar Anya, alter-ego que adota após sofrer amnésia em decorrência dos ataques bolcheviques. A princesa perdida da dinastia Romanov, no primeiro ato, é forçada a trabalhar por um irrisório salário para sobreviver ao frio e à fome – até cruzar caminho com um golpista chamado Dmitri (Rodrigo Garcia) e um ex-aristocrata chamado Vlad (Tiago Abravanel em seu glorioso retorno aos palcos).

Juntos, o trio arquiteta um plano de transformar Anya na princesa, levá-la a Paris para se reunir com a Imperatriz Maria Feodorovna (Edna D’Oliveira) e receber uma recompensa que os permitirá viver a vida que sempre quiseram – tudo sem saberem que Anya é, de fato, Anastasia. Entretanto, nem tudo sai como o planejado: temos o Camarada Gleb (Luciano Andrey), um dos militares responsáveis por manter a ordem no recém-criado Leningrado, que acata os rumores de que a personagem de Rangel seja a princesa Romanov e que mergulha em uma missão para encontrá-la e terminar o trabalho iniciado pelo falecido pai; e, é claro, a Imperatriz, amargurada pelas várias jovens que mentiram sobre serem Anastasia, não acredita que a neta voltará e se confina em seu apartamento em Paris ao lado da dama de companhia Lily (Carol Costa).

A versão brasileira faz um ótimo trabalho ao trazer todos os elementos da peça original estadunidense, mas sem deixar de colocar aspectos únicos que nos fisgam desde o primeiro momento. O ato inicial, que se inicia com uma irretocável sequência no palácio, é movido por uma tétrica e apaixonante rendição de “Foi No Mês de Dezembro”, mergulhada em um antêmico e nostálgico conto de fadas, logo dando espaço à “Última Dança dos Romanovs” – cuja coreografia, a encargo de Denise Holland Bethke, é emocionante e impecável do começo ao fim, aliando-se a uma cenografia que causa arrepios até nos mais céticos.

Se a cena de abertura dá o tom do musical, cabe ao elenco conseguir manter-se sólido para nos guiar por uma complexa trama recheada de reviravoltas, mentiras e sonhos perdidos. Não é surpresa que, considerando a competente equipe artística e técnica por trás da produção, o resultado supere as expectativas: Rangel brilha em seus solos e demonstra uma afetividade simbólica com o público, transmitindo uma singularidade performática que explode em aplausos toda vez que profere a última nota das músicas; Garcia, nutrindo de uma química espetacular com sua companheira de cena, permite que Dmitri ganhe voz em um belíssimo e bem delineado arco, reiterando sua considerável carreira no teatro; Abravanel, um veterano dos musicais, faz um trabalho primoroso como Vlad, roubando os holofotes com sua interpretação jocosa e vigorante.

Mas não é apenas o trio protagonista que nos cativa: do primeiro momento em que Costa aparece como Lily, sabemos que iremos nos divertir – e, no momento em que ela solta a voz nos primeiros versos do dançante hino em memória à terra natal, nossas expectativas se concretizam em uma explosiva e inesquecível atuação. A atriz sabe o que faz e sabe como encantar os espectadores, seja nessa mistura de jazz e folk russo, seja no cândido dueto valsado ao lado de Abravanel – ambos misturando drama e comédia na dose certa.

São vários os elementos imediatamente reconhecíveis que se espalham pela produção: em “Paris Rouba o Seu Coração”, Brouwer e Bethke unem forças para homenagear o lendário Bob Fosse, mas sem abandonar incursões que discorrem sobre a arte russa – como a incorporação da kalinka à coreografia e às movimentações de palco, ou com a construção metalinguística de ‘O Lago dos Cisnes’ em uma arrepiante rendição. E, por mais que a peça não seja livre de momentâneos deslizes, a cautelosa e intrincada engrenagem consegue ofuscar quaisquer obstáculos, mantendo-se viva na nossa mente mesmo horas depois dos agradecimentos.

Anastasia é uma incrível adaptação musical brasileira que não deve absolutamente nada à obra original, conseguindo honrá-la por completo e, como já mencionado, superando-a em vários momentos – principalmente no tocante às performances. A narcótica produção é uma joia do cenário do entretenimento atual e merece ser apreciada em todos os seus detalhes.

Lembrando que o musical continua em cartaz no Teatro Renault, em São Paulo.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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