domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Na Mira do Atirador – Guerra Intimista

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Três Homens em Conflito

O interessante do cinema é notar como os gêneros evoluem e deles nascem subgêneros, todos reflexo de seu tempo. Com MASH (1970), de Robert Altman, e Os Guerreiros Pilantras (1970), com Clint Eastwood, as sátiras de guerra se consolidaram – acrescentando muito humor na forma de criticar o tema retratado. É claro que nesta época estava em vigor a Guerra do Vietnã e tais paródias, mesmo que não retratassem este conflito específico, serviam como protesto.

Esse ano ganhamos uma nova vertente, que de forma curiosa ecoa tanto fora das telas quanto dentro. As plataformas de streaming crescem a cada dia e conquistam uma fatia maior do mercado, fazendo parte do público optar pelo conforto de suas casas a um preço mais acessível. A vantagem vem para os realizadores também, que conseguem trabalhar nos filmes que querem, com uma liberdade que já não encontram no cinema, dominado por grandes estúdios e seus blockbusters, numa simbiose doentia com o público.



A Netflix, líder do mercado, deu este ano voz a dois cineastas talentosos para que eles contassem suas visões particulares da guerra e seus bastidores. O australiano David Michôd (Reino Animal) escalou Brad Pitt para a ácida sátira War Machine, enquanto nosso conterrâneo Fernando Coimbra (O Lobo Atrás da Porta), em sua primeira produção gringa, retratou a jornada de um soldado durante a ocupação no Iraque em Castelo de Areia. Quem sai ganhando duplamente nesta é a rival Amazon, responsável por este Na Mira do Atirador. Primeiro por entregar uma obra mais interessante, dinâmica e criativa. E segundo por, como de costume na plataforma, lançá-la antes nos cinemas.

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Em Na Mira do Atirador, dois soldados americanos, vividos por Aaron Taylor Johnson (vencedor do Globo de Ouro por Animais Noturnos) e pelo ex-lutador John Cena (Descompensada), são pegos de surpresa atrás das linhas inimigas no Iraque, ao se apresentarem para uma missão investigando o massacre de funcionários na construção de um oleoduto. Seu algoz é um sniper, um famoso atirador de elite, que com um rifle de mira precisa os faz refém. Tudo o que resta entre os dois e seu antagonista é um muro, precariamente construído, daí o título original da obra.

Na Mira do Atirador é tensão pura, do início ao fim de seus 88 minutos de projeção – muito bem utilizados, sem qualquer desaceleração narrativa ou falta de evolução da trama. Apesar de fazer uso de três nomes no elenco principal, este é um show do jovem Johnson, que vem cavando seu posto de novo astro de Hollywood. O ator é quem leva a trama e se torna dono do longa, trazendo a história junto a seu personagem. Johnson segura bem as rédeas da situação, criando um forte elo com o público, que cada vez vê menos saída para o protagonista. Pense em uma mistura entre Por um Fio (Phone Booth, 2003) e Enterrado Vivo (Buried, 2010).

A junção é precisa entre o roteiro de Dwain Worrell e a direção de Doug Liman. Worrell, que surpreendentemente é dono do fraco texto da série Punho de Ferro (2017), cria situações extremas, a cada nova cena elevando o jogo e desafiando ambos o protagonista e o público a se safarem da enrascada. O exímio atirador quase sobre-humano, de fato lendas sobre o sujeito existem, está sempre a um passo à frente, exigindo do personagem principal. É quase como uma resposta para o Sniper Americano (2014), de Clint Eastwood, ou o outro lado da moeda. Já Liman, diretor talentoso desde a época de seus filmes iniciais (Swingers e o subestimado Vamos Nessa!), vem colecionando bons títulos dentro do gênero, vide A Identidade Bourne (2002), Sr. & Sra. Smith (2005) e  No Limite do Amanhã (2014).

Na Mira do Atirador não é apenas um eletrizante suspense de guerra voltado ao entretenimento, e quem quiser e souber pode encontrar muito subtexto político aqui. Meu objetivo, no entanto, não é levantar bandeiras, mas simplesmente avaliar o filme. E no quesito, a produção sobressai com direito a louros. O desfecho mostra o verdadeiro peso do longa, mudando a tonalidade esperada e entregando algo verdadeiramente especial. No aspecto, Na Mira do Atirador faz jus ao cerne do cinema, mexendo com nossos sentimentos e nos jogando bem para fora de nossas zonas de conforto.

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Esse ano ganhamos uma nova vertente, que de forma curiosa ecoa tanto fora das telas quanto dentro. As plataformas de streaming crescem a cada dia e conquistam uma fatia maior do mercado, fazendo parte do público optar pelo conforto de suas casas a um preço mais acessível. A vantagem vem para os realizadores também, que conseguem trabalhar nos filmes que querem, com uma liberdade que já não encontram no cinema, dominado por grandes estúdios e seus blockbusters, numa simbiose doentia com o público.

A Netflix, líder do mercado, deu este ano voz a dois cineastas talentosos para que eles contassem suas visões particulares da guerra e seus bastidores. O australiano David Michôd (Reino Animal) escalou Brad Pitt para a ácida sátira War Machine, enquanto nosso conterrâneo Fernando Coimbra (O Lobo Atrás da Porta), em sua primeira produção gringa, retratou a jornada de um soldado durante a ocupação no Iraque em Castelo de Areia. Quem sai ganhando duplamente nesta é a rival Amazon, responsável por este Na Mira do Atirador. Primeiro por entregar uma obra mais interessante, dinâmica e criativa. E segundo por, como de costume na plataforma, lançá-la antes nos cinemas.

Em Na Mira do Atirador, dois soldados americanos, vividos por Aaron Taylor Johnson (vencedor do Globo de Ouro por Animais Noturnos) e pelo ex-lutador John Cena (Descompensada), são pegos de surpresa atrás das linhas inimigas no Iraque, ao se apresentarem para uma missão investigando o massacre de funcionários na construção de um oleoduto. Seu algoz é um sniper, um famoso atirador de elite, que com um rifle de mira precisa os faz refém. Tudo o que resta entre os dois e seu antagonista é um muro, precariamente construído, daí o título original da obra.

Na Mira do Atirador é tensão pura, do início ao fim de seus 88 minutos de projeção – muito bem utilizados, sem qualquer desaceleração narrativa ou falta de evolução da trama. Apesar de fazer uso de três nomes no elenco principal, este é um show do jovem Johnson, que vem cavando seu posto de novo astro de Hollywood. O ator é quem leva a trama e se torna dono do longa, trazendo a história junto a seu personagem. Johnson segura bem as rédeas da situação, criando um forte elo com o público, que cada vez vê menos saída para o protagonista. Pense em uma mistura entre Por um Fio (Phone Booth, 2003) e Enterrado Vivo (Buried, 2010).

A junção é precisa entre o roteiro de Dwain Worrell e a direção de Doug Liman. Worrell, que surpreendentemente é dono do fraco texto da série Punho de Ferro (2017), cria situações extremas, a cada nova cena elevando o jogo e desafiando ambos o protagonista e o público a se safarem da enrascada. O exímio atirador quase sobre-humano, de fato lendas sobre o sujeito existem, está sempre a um passo à frente, exigindo do personagem principal. É quase como uma resposta para o Sniper Americano (2014), de Clint Eastwood, ou o outro lado da moeda. Já Liman, diretor talentoso desde a época de seus filmes iniciais (Swingers e o subestimado Vamos Nessa!), vem colecionando bons títulos dentro do gênero, vide A Identidade Bourne (2002), Sr. & Sra. Smith (2005) e  No Limite do Amanhã (2014).

Na Mira do Atirador não é apenas um eletrizante suspense de guerra voltado ao entretenimento, e quem quiser e souber pode encontrar muito subtexto político aqui. Meu objetivo, no entanto, não é levantar bandeiras, mas simplesmente avaliar o filme. E no quesito, a produção sobressai com direito a louros. O desfecho mostra o verdadeiro peso do longa, mudando a tonalidade esperada e entregando algo verdadeiramente especial. No aspecto, Na Mira do Atirador faz jus ao cerne do cinema, mexendo com nossos sentimentos e nos jogando bem para fora de nossas zonas de conforto.

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