quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Napoleão – Ridley Scott e Joaquin Phoenix Constroem Imperador Nostálgico e Sonolento

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Napoleão Bonaparte é uma figura polêmica da história mundial. Líder estrategista militar do exército da França, sua perspicácia sobre o campo de batalha fez com que não só o exército francês ganhasse diversas batalhas, mas também fez com que ele conquistasse novos cargos e, por fim, se tornasse imperador do território francês entre os anos de 1804 e 1815. Com tal postura, conquistou inúmeros admiradores, mas também desavenças, internas e externas à França. Sua perspicácia, muitas vezes, foi enxergada como louca obsessão. Julgamentos à parte, ‘Napoleão’ se tornou importante figura histórica mundial, cuja história chega a partir dessa semana aos cinemas brasileiros com o filme de drama homônimo produzido pela Sony Pictures.



No início do século XIX, na França, o general Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix) se destaca por seu eficiente trabalho à frente das tropas francesas nas batalhas. Na capital, sua atuação nos bastidores políticos também surpreende, e, aos poucos, e com as conexões certas, Napoleão vai subindo de posições, conquistando títulos e territórios. Em determinado baile, conhece Josephine (Vanessa Kirby), uma misteriosa e bela viúva por quem imediatamente se apaixona, mesmo já tendo ela dois filhos. Desse encontro, vem a determinação do general em se casar com Josephine, mas, tão logo o evento acontece, surge a semente do ciúme, cujas provas passam a estampar os folhetins da época e levaram Napoleão aos extremos do ciúme, principalmente quando estava ausente em batalhas. Porém, quando se torna imperador do território francês, vem a necessidade de um herdeiro ao trono, mas, entre os problemas domésticos e as guerras territoriais, aos poucos Napoleão vai se tornando mais e mais obtuso em sua percepção do mundo.

Com “apenas” duas horas e meia de duração (considerando a recente moda entre os realizadores de fazerem filmes com três horas ou mais, e considerando quem é o cinebiografado), ‘Napoleão’ propõe um olhar humanizado – e, portanto, com falhas – deste líder cujo nome ecoou no tempo, pro bem ou pro mal.

Para isso, o longa de Ridley Scott foca muito mais na vida pessoal, no caminho percorrido pelo general até se tornar imperador e, posteriormente, no exílio – tudo isso permeado por sua conturbada e controversa vida amorosa com uma mulher fora dos padrões desejáveis pela aristocracia francesa da época. E aí vem a grande aposta do diretor (e, a certo modo, bem performada por Joaquin Phoenix): ambos constroem um Napoleão sonolento. Não a trama em si, mas o personagem. Ao longo de todo o filme, mesmo nos momentos de ação, parece que falta vigor na coisa toda. Napoleão parece sempre estar entediado, seja conversando, governando, amando, guerreando: sua expressão constantemente blasé não só puxa o filme para baixo, mas também se afasta completamente da imagem transloucada, obsessiva, quase histérica com que o general fez seu nome atravessar na história da França. Aqui, embora haja uma cena que evidencie sua baixa estatura (em sutil humor, estratégica salpicada ao longo do enredo), Napoleão não imprime medo, não intimida, mas, ainda assim, conquista o respeito de seus soldados e dos inimigos. Faltou essa conexão pro espectador.

Se por um lado falta emoções no protagonista, por outro Ridley Scott entrega um longa cuidadosamente construído tecnicamente, seja na confecção digital de cavalos sofrendo nas batalhas, seja ao dar dimensão nas guerras, quando amplia a lente nos momentos-chave dos embates – aí, sim, imprimindo alguma sensação no espectador. Alternando o filtro azulado (frio) para as guerras e o filtro laranja (quente) para a vida conjugal, é a parte técnica que conduz o espectador sobre as possíveis emoções do protagonista: a mudança de seu uniforme, os filtros, a lente da câmera abrindo, a pós-produção. Não é o personagem, mas sim seu entorno, que vai guiar quem assiste ao filme.

Reafirmando sua técnica apresentada em ‘Perdido em Marte’ e ‘Blade Runner, Ridley Scott traz agora um ‘Napoleão’ nostálgico, constantemente avaliador da própria vida, narrador de cartas sentimentais e dependente emocional da esposa – bastante distante de tudo aquilo que já ouvimos falar. Um filme tecnicamente excelente, que propõe um novo olhar sobre tão controversa figura.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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No início do século XIX, na França, o general Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix) se destaca por seu eficiente trabalho à frente das tropas francesas nas batalhas. Na capital, sua atuação nos bastidores políticos também surpreende, e, aos poucos, e com as conexões certas, Napoleão vai subindo de posições, conquistando títulos e territórios. Em determinado baile, conhece Josephine (Vanessa Kirby), uma misteriosa e bela viúva por quem imediatamente se apaixona, mesmo já tendo ela dois filhos. Desse encontro, vem a determinação do general em se casar com Josephine, mas, tão logo o evento acontece, surge a semente do ciúme, cujas provas passam a estampar os folhetins da época e levaram Napoleão aos extremos do ciúme, principalmente quando estava ausente em batalhas. Porém, quando se torna imperador do território francês, vem a necessidade de um herdeiro ao trono, mas, entre os problemas domésticos e as guerras territoriais, aos poucos Napoleão vai se tornando mais e mais obtuso em sua percepção do mundo.

Com “apenas” duas horas e meia de duração (considerando a recente moda entre os realizadores de fazerem filmes com três horas ou mais, e considerando quem é o cinebiografado), ‘Napoleão’ propõe um olhar humanizado – e, portanto, com falhas – deste líder cujo nome ecoou no tempo, pro bem ou pro mal.

Para isso, o longa de Ridley Scott foca muito mais na vida pessoal, no caminho percorrido pelo general até se tornar imperador e, posteriormente, no exílio – tudo isso permeado por sua conturbada e controversa vida amorosa com uma mulher fora dos padrões desejáveis pela aristocracia francesa da época. E aí vem a grande aposta do diretor (e, a certo modo, bem performada por Joaquin Phoenix): ambos constroem um Napoleão sonolento. Não a trama em si, mas o personagem. Ao longo de todo o filme, mesmo nos momentos de ação, parece que falta vigor na coisa toda. Napoleão parece sempre estar entediado, seja conversando, governando, amando, guerreando: sua expressão constantemente blasé não só puxa o filme para baixo, mas também se afasta completamente da imagem transloucada, obsessiva, quase histérica com que o general fez seu nome atravessar na história da França. Aqui, embora haja uma cena que evidencie sua baixa estatura (em sutil humor, estratégica salpicada ao longo do enredo), Napoleão não imprime medo, não intimida, mas, ainda assim, conquista o respeito de seus soldados e dos inimigos. Faltou essa conexão pro espectador.

Se por um lado falta emoções no protagonista, por outro Ridley Scott entrega um longa cuidadosamente construído tecnicamente, seja na confecção digital de cavalos sofrendo nas batalhas, seja ao dar dimensão nas guerras, quando amplia a lente nos momentos-chave dos embates – aí, sim, imprimindo alguma sensação no espectador. Alternando o filtro azulado (frio) para as guerras e o filtro laranja (quente) para a vida conjugal, é a parte técnica que conduz o espectador sobre as possíveis emoções do protagonista: a mudança de seu uniforme, os filtros, a lente da câmera abrindo, a pós-produção. Não é o personagem, mas sim seu entorno, que vai guiar quem assiste ao filme.

Reafirmando sua técnica apresentada em ‘Perdido em Marte’ e ‘Blade Runner, Ridley Scott traz agora um ‘Napoleão’ nostálgico, constantemente avaliador da própria vida, narrador de cartas sentimentais e dependente emocional da esposa – bastante distante de tudo aquilo que já ouvimos falar. Um filme tecnicamente excelente, que propõe um novo olhar sobre tão controversa figura.

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