Cercado por ícones POP em ascensão global monumental, Daddy Yankee fez do ano de 2004 um preâmbulo do que futuramente seria o sucesso de um estilo musical que antes só era ouvido nos arredores de comunidades porto-riquenhas e panamenhas. Com o hit “Gasolina”, ele se infiltrou vorazmente na música popular norte-americana e tirou o Reggaeton das sombras da contracultura musical, projetando-o em direção aos estádios mais lotados ao redor do mundo. E na série Neon, o artista se une ao controverso produtor Scooter Braun (aquele das disputas judiciais com Taylor Swift) para uma colorida e festiva homenagem ao gênero que tanto o coroou. Com episódios curtos e uma musicalidade vibrante, ele empresta seu talento para a Netflix em uma tentativa otimista de expandir ainda mais a arte latina.
Neon é, genuinamente, uma agradável surpresa do catálogo de originais Netflix. Pulsando a energia, alegria e culturalidade do povo latino, a produção é um olhar mais apurado sobre um mercado musical extremamente específico. Perfeita para os imigrantes da Flórida que amam uma batida bem ritmada com toques de salsa e música eletrônica, Neon é – inevitavelmente – segmentada. Com seus jargões e maneirismos em espanhol e protagonistas jovens em busca do sonho no mundo do Reggaeton, a série talvez não agrade aqueles que pouco se interessam por esse estilo musical.
E ainda que exale carisma através de seu jovem e pouco conhecido elenco, a produção de Daddy Yankee pode ter dificuldades de se conectar com audiências mais globais, que hoje se fartam de doramas e ficções com orçamentos colossais. Mas seria pessimismo demais parar por aqui. Mesmo que a disputa por atenção não seja tão justa, é necessário dar a César o que é de César. Divertida e leve, Neon sustenta um brilho próprio e funciona como um tipo de entretenimento que não exige absolutamente nada de sua audiência. Com uma trilha sonora adaptada marcada pelos grandes nomes do gênero em questão, a original Netflix é enérgica, jovial e obviamente mira na geração Z – sempre mais disposta a provar iguarias televisivas das mais diversas.
Criando caricaturas diversas de como artistas famosos e membros da indústria musical se comportam, Neon ainda flerta com o satírico, sempre mantendo uma atmosfera mais brincalhona e juvenil. E sem medo de soar um pouco piegas ou até mesmo “latinamente” sentimental, a produção consegue cruzar as linhas do seu próprio humor para explorar assuntos mais sensíveis, como as pressões sociais de uma indústria um tanto perversa e a importância de se ater fielmente às raízes, amizades e família. Com potencial para um futuro promissor nas telinhas, a nova série original da Netflix é criativa e tem todos os elementos necessários para se expandir dentro do cenário fonográfico. Pode ser que sofra para encontrar sua fiel audiência, mas se assim o fizer, o céu é o limite.