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Lançado em setembro de 2023 no Festival de Filme Internacional de Toronto – TIFF, As Três Filhas (His Three Daughters) é um mergulho intenso e sufocante nas emoções de três irmãs ao acompanhar os últimos dias de vida de seu pai. Adquirido pela Netflix, o longa de Azazel Jacobs chega ao streaming no próximo dia 20 de setembro, depois de uma curta estreia nos EUA em 6 de setembro, visando a temporada de prêmios.
Para compor esta tocante narrativa, Azazel Jacobs escalou uma das três melhores atrizes de suas gerações, todas com currículos premiados e atuações marcantes, tanto em filmes quanto em séries: Natasha Lyonne (Boneca Russa), Elizabeth Olsen (Amor e Morte) e Carrie Coon (The Leftovers). Direcionando-nos para um ambiente claustrofóbico de um apartamento em Nova York e planos fechados em seus personagens, o diretor e também roteirista nos coloca dentro das inquietações, confusões e lamentos dessas três irmãs.
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Desde os primeiros segundos pelo seu monólogo mecânico de passo a passo, a primogênita Katie (Carrie Coon) apresenta-se como pragmática e, um pouco, ditadora, enquanto Rachel (Natasha Lyonne) encara o vazio impassível, sem pronunciar uma palavra. Em seguida, uma terceira cadeira é adicionada à conversa, a caçula Christina (Elizabeth Olsen) com sua fala meiga anuncia o sono do pai no outro quarto, mas os olhares delas nunca se cruzam.
Em estado paliativo, Vincent (Jay O Sanders) é o ponto de interseção entre essas três mulheres, cada uma com sua personalidade bem definida por seus movimentos, pronúncias e palavras. A tensão em torno da iminente morte nos apresenta uma atmosfera caótica, na qual Katie e Christina deixam seus novos lares para juntar-se à Rachel no antigo apartamento da família, porém trazem consigo pesares atuais e traumas do passado misturados a julgamento e culpa.
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Como é sentir-se órfão depois de adulto? Numa abordagem sobre os sentimentos de amor e conflito no seio familiar, a morte é um tema que une fisicamente as pessoas, mas separa as emoções. Cada uma busca gerar os seus próprios dilemas em dispersão, enquanto Katie cozinha como a dona da casa, Christina expõe os problemas com sua única filha, e Rachel passa os dias enrolando baseados.
A figura do pai em questão é uma incógnita, apresentada somente em um derradeiro e revelador momento. Este pai presente em todas as conversas, mas ausente em cena é uma construção consciente à brincar com o imaginário do espectador. Quem é esse homem que criou essas mulheres? Há partes dele em cada uma delas? Qual será o seu legado a partir dessas pessoas?
Se nos apoiarmos na teoria psicanalítica de Freud, a figura do pai é a função de comando e o que gera o indivíduo adulto. Desse modo, é preciso matar simbolicamente o pai para amadurecer psiquicamente, ou seja, a morte do progenitor é o que daria seguimento a construção dessas mulheres. As Três Filhas trabalha esse conceito de forma emblemática dentro de uma calorosa narrativa tragicômica e, claro, melodramática.
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A parte cômica é construída pelo embate das emoções de cada personagem e a ótima desenvoltura das atrizes ao expressar toda essa ebulição, atritos e explosão, algo familiar a todos os seres vivos. A partida deste pai gera uma disputa de substituição de uma figura de autoridade entre elas, mas também de dúvida sobre como prosseguir sozinhas, ou melhor, sem este elo paterno.
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Conduzidos pela trilha sonora agridoce de Rodrigo Amarante, ex-integrante da banda Los Hermanos, As Três Filhas paulatinamente nos conquista e entristece, em meio ao silêncio e o incessante apito do monitor cardíaco no quarto do pai. A cena final é melancolicamente emoldurada pela canção In Time, do cantor e compositor carioca.
Lançado no Festival Internacional de Filme de Toronto – TIFF 2023, As Três Filhas chega aos cinema norte-americanos dia 6 de setembro e ao Brasil no dia 20 de setembro, na Netflix.