segunda-feira , 4 novembro , 2024

Crítica Netflix | Dilema é um adorável e insensato rocambole novelesco

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Por trás da nova série de suspense da Netflix, Dilema (What\If), está Mike Kelley, o responsável por uma das séries mais novelescas da televisão, isto é, Revenge (2011-2015). Com esta informação, já espera-se que Dilema siga o mesmo caminho de tramas maquiavélicas, suspenses rasos e reviravoltas. Sobretudo com Renée Zellweger estonteante em cada cena como a empreendedora bem sucedida Anne Montgomery.

Do outro lado da moeda, está o casal inocente e apaixonado Lisa e Sean Donovan, formado pela talentosa Jane Levy (da série Suburgatory e o remake A morte do Demônio) e o garboso Blake Jenner (da série Glee e do filme Jovens, Loucos e Mais Rebeldes). Motivada por uma experiência trágica familiar, Lisa é uma cientista em busca de investidores para o seu projeto biomolecular, o qual promete curar o câncer e salvar milhares de crianças no mundo. A jovem, no entanto, está prestes a entrar em falência porque não consegue vender sua ideia.

Já o seu jovem marido, é um paramédico, ex-jogador de baseball, com um passado turvo e aspirante a bombeiro; ele ainda trabalha como bartender durante a noite para completar a renda familiar. Ou seja, os dois estão lutando para conseguir construir uma vida de estabilidade econômica, mas os seus projetos estão longe do êxito. Após esse cenário de desesperança, surge uma oportunidade tentadora.

Com um argumento inicial totalmente baseado no filme Proposta Indecente (1993), Anne Montgomery oferece o investimento de 18 milhões de dólares na empresa de Lisa em troca de uma noite com Sean. Enquanto Zellweger compõe o personagem de Robert Redford, o jovem e belo Jenner encarna Demi Moore na equação. Contudo, o casal deve assinar um contrato que impede que eles comentem sobre o que acontecerá durante a noite entre Anne e Sean, criando uma verdadeira perturbação e arrependimento em Lisa.

A primeira parte da trama da série é envolvente. Por mais que seja uma cópia descarada, é admirável ver Renée Zellweger mexendo as peças do seu xadrez ao lado do seu mordomo /assistente/ motorista de confiança Foster (Louis Herthum). Guardadas as devidas proporções, o personagem está para Anne Montgomery, tal como o Mike (Jonathan Banks) para Gustavo ‘Gus’ Fring (Giancarlo Esposito) em Breaking Bad (2008-2013).

Com o surgimento da ex-namorada de Sean na história, Maddie (Allie MacDonald), Lisa começa a duvidar do seu marido. De forma que o enredo começa a mostrar que existe muito mais fumaça por trás da história de sedução. A partir do quinto episódio, o seriado salta no tempo e caminha em outras direções, trazendo diversas ramificações e tragédias.

Comparado às telenovelas mexicanas, Dilema mistura, pelo menos, umas três tramas diferentes de traição, intriga e, claro, superação. A empreendedora Anne Montgomery, na verdade, é uma personagem criada para esconder um passado sombrio, guardado por um molho de chaves exposto em uma redoma de vidro no escritório da protagonista vilã. O objeto é destacado com um troféu durante toda a trama e, quase literalmente, as chaves abrem as portas dos mistérios da história.

Até o último episódio, os protagonistas participam de diversos embates, mantêm diálogos retirados de livros de autoajuda e têm atitudes injustificáveis à lógica da história. Com um diretor diferente a cada episódio, a série mantém um tom melancólico e as cenas entre os casais são idênticas às composições dos filmes dos anos 80, assim como algumas características caricatas da produção.

Enquanto Lisa tenta desvendar a incógnita do passado de sua investidora, o seriado constrói narrativas paralelas dissonantes ao enredo; provavelmente para aumentar o tempo de exibição e, talvez, despistar o público das resoluções tanto quanto óbvias. Tal como o envolvimento do irmão de Lisa, Marcos (Juan Castano), com um gogoboy (Derek Smith) mesmo estando em um relacionamento com Lionel (John Clarence Stewart). A situação, pelo menos, rende uma ótima cena de ménage a troi masculina, lembrando-nos da saudosa série Sense 8 (2015-2018).

Infelizmente, esta parte da história é um apêndice na trama, assim como o enredo dos melhores amigos do casal, Angela (Samantha Marie Ware) e Todd (Keith Powers). Ela é uma médica residente que envolve-se com o cirurgião do hospital Dr. Ian Harris (Dave Annable), traindo o seu amável, compreensivo e paciente marido, além de serem namorados desde o ensino médio. Alerta spoiler: só que o amante se revela um psicopata, digno dos filmes de traição do SuperCine, com direito a mordaças, cordas e armadilhas de urso.

Com todo esse rocambole de tramas e personalidades lunáticas, Dilema promove-se como uma série focada em pragmatizar sobre escolhas e consequências, em outras palavras, cedo ou tarde você paga pelo “pecado” cometido. O enredo, no entanto, embola uma rede de tragédias com incêndios, assassinatos e termina como os folhetins televisivos de forma vergonhosa: o mal é eliminado e aqueles considerados “vítimas” triunfam.

Apesar de todo os equívocos, é difícil começar a assistir Dilema e não ir até o final para saber o que acontece com os personagens. Enfim, a qualidade é duvidosa, mas o entretenimento é garantido por 10 horas de vilania megalomaníaca, mocinha inocente provando que sabe jogar sujo e o amor reinando sobre todas as coisas, ainda por cima os trejeitos e tremeliques de Anne Montgomery, ou melhor, Renée Zellweger.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Do outro lado da moeda, está o casal inocente e apaixonado Lisa e Sean Donovan, formado pela talentosa Jane Levy (da série Suburgatory e o remake A morte do Demônio) e o garboso Blake Jenner (da série Glee e do filme Jovens, Loucos e Mais Rebeldes). Motivada por uma experiência trágica familiar, Lisa é uma cientista em busca de investidores para o seu projeto biomolecular, o qual promete curar o câncer e salvar milhares de crianças no mundo. A jovem, no entanto, está prestes a entrar em falência porque não consegue vender sua ideia.

Já o seu jovem marido, é um paramédico, ex-jogador de baseball, com um passado turvo e aspirante a bombeiro; ele ainda trabalha como bartender durante a noite para completar a renda familiar. Ou seja, os dois estão lutando para conseguir construir uma vida de estabilidade econômica, mas os seus projetos estão longe do êxito. Após esse cenário de desesperança, surge uma oportunidade tentadora.

Com um argumento inicial totalmente baseado no filme Proposta Indecente (1993), Anne Montgomery oferece o investimento de 18 milhões de dólares na empresa de Lisa em troca de uma noite com Sean. Enquanto Zellweger compõe o personagem de Robert Redford, o jovem e belo Jenner encarna Demi Moore na equação. Contudo, o casal deve assinar um contrato que impede que eles comentem sobre o que acontecerá durante a noite entre Anne e Sean, criando uma verdadeira perturbação e arrependimento em Lisa.

A primeira parte da trama da série é envolvente. Por mais que seja uma cópia descarada, é admirável ver Renée Zellweger mexendo as peças do seu xadrez ao lado do seu mordomo /assistente/ motorista de confiança Foster (Louis Herthum). Guardadas as devidas proporções, o personagem está para Anne Montgomery, tal como o Mike (Jonathan Banks) para Gustavo ‘Gus’ Fring (Giancarlo Esposito) em Breaking Bad (2008-2013).

Com o surgimento da ex-namorada de Sean na história, Maddie (Allie MacDonald), Lisa começa a duvidar do seu marido. De forma que o enredo começa a mostrar que existe muito mais fumaça por trás da história de sedução. A partir do quinto episódio, o seriado salta no tempo e caminha em outras direções, trazendo diversas ramificações e tragédias.

Comparado às telenovelas mexicanas, Dilema mistura, pelo menos, umas três tramas diferentes de traição, intriga e, claro, superação. A empreendedora Anne Montgomery, na verdade, é uma personagem criada para esconder um passado sombrio, guardado por um molho de chaves exposto em uma redoma de vidro no escritório da protagonista vilã. O objeto é destacado com um troféu durante toda a trama e, quase literalmente, as chaves abrem as portas dos mistérios da história.

Até o último episódio, os protagonistas participam de diversos embates, mantêm diálogos retirados de livros de autoajuda e têm atitudes injustificáveis à lógica da história. Com um diretor diferente a cada episódio, a série mantém um tom melancólico e as cenas entre os casais são idênticas às composições dos filmes dos anos 80, assim como algumas características caricatas da produção.

Enquanto Lisa tenta desvendar a incógnita do passado de sua investidora, o seriado constrói narrativas paralelas dissonantes ao enredo; provavelmente para aumentar o tempo de exibição e, talvez, despistar o público das resoluções tanto quanto óbvias. Tal como o envolvimento do irmão de Lisa, Marcos (Juan Castano), com um gogoboy (Derek Smith) mesmo estando em um relacionamento com Lionel (John Clarence Stewart). A situação, pelo menos, rende uma ótima cena de ménage a troi masculina, lembrando-nos da saudosa série Sense 8 (2015-2018).

Infelizmente, esta parte da história é um apêndice na trama, assim como o enredo dos melhores amigos do casal, Angela (Samantha Marie Ware) e Todd (Keith Powers). Ela é uma médica residente que envolve-se com o cirurgião do hospital Dr. Ian Harris (Dave Annable), traindo o seu amável, compreensivo e paciente marido, além de serem namorados desde o ensino médio. Alerta spoiler: só que o amante se revela um psicopata, digno dos filmes de traição do SuperCine, com direito a mordaças, cordas e armadilhas de urso.

Com todo esse rocambole de tramas e personalidades lunáticas, Dilema promove-se como uma série focada em pragmatizar sobre escolhas e consequências, em outras palavras, cedo ou tarde você paga pelo “pecado” cometido. O enredo, no entanto, embola uma rede de tragédias com incêndios, assassinatos e termina como os folhetins televisivos de forma vergonhosa: o mal é eliminado e aqueles considerados “vítimas” triunfam.

Apesar de todo os equívocos, é difícil começar a assistir Dilema e não ir até o final para saber o que acontece com os personagens. Enfim, a qualidade é duvidosa, mas o entretenimento é garantido por 10 horas de vilania megalomaníaca, mocinha inocente provando que sabe jogar sujo e o amor reinando sobre todas as coisas, ainda por cima os trejeitos e tremeliques de Anne Montgomery, ou melhor, Renée Zellweger.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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