Lá se vão quatro anos da estreia de Emily em Paris na Netflix, do showrunner Darren Star, mas pela segunda parte da quarta temporada, o seriado acaba de fechar o primeiro ano da vida da jovem de Chicago na capital francesa. Embora tenhamos apreciado amar e detestar os clichês culturais na cidade mais turística do mundo, a obra gritava por uma remodelagem e os últimos cinco episódios lançados no dia 12 de setembro conseguiram dar alguns passos nessa direção.
Conhecido por colocar purpurina e glamour em qualquer produção, Darren Star sofre com seriados que começam bem e começam a se afogar em tramas comezinhas, isto é, tanto Emily em Paris e Younger (2017-2021) — seriado anterior do produtor estendido até a sétima temporada — têm protagonistas em situações emblemáticas a serem seguidas em suas aventuras e diversidades, mas os roteiristas [alguns presentes em ambas as séries] estão interessados em triângulos amorosos.
Após a catastrófica terceira temporada com direito a gravidez indesejada, casamento desfeito no altar e — o novo clichê dos seriados, quem viu Ted Lasso? — romance lésbico de personagem até então hétero, a produção precisou dos cincos primeiros episódios para tentar cortar todos os penduricalhos da trama. Se existiu algum interesse amoroso entre Emily (Lily Collins) e o chef Gabriel (Lucas Bravo), esta paixão nem pegou fogo e a palha já secou.
Com Camille (Camille Razat) interessada em outra mulher ou na própria gravidez, os dois tiveram breves momentos juntos e poucas cenas marcantes, tal como um indício de relacionamento fadado ao aborrecimento, neste caso, do público. Para consertar o grande empecilho entre a mocinha e o galã — o futuro filho —, os roteiristas deram para a gravidez da temporada anterior um período mais curto que os Aneis Olímpicos Paris 2024 no alto da Torre Eiffel.
Por outro lado, o sexto episódio começa com a promessa de Emily voltar a Chicago para passar o Natal com a família, mas os roteiristas não conseguem tirar a norte-americana da França. Sua família, a qual nunca é mencionada na narrativa, é abandonada por conta de um voo cancelado — e nunca remarcado — já no Aeroporto Charles de Gaulle. Desse modo, Emily viaja para Megève, uma das cidades dos Alpes franceses, perto da famosa Chamonix-Mont Blanc, no meio das fronteiras entre Suíça e Itália, para passar a festividade com Gabriel, Camille e sua família.
Sem prática de esqui, Emily é deixada à própria sorte nas montanhas por Gabriel preocupado com a mãe do seu futuro filho. Esta é a deixa para entrada do charmoso Marcello (Eugenio Franceschini) em campo, tal como um anjo salvador. Os poucos minutos em tela do jovem ator italiano são mais contagiantes do que a atuação sem sal de Lucas Bravo e o magnetismo cafajeste de Alfie (Lucien Laviscount).
Para colocar mais tempero no enredo, novos ingredientes eram mais do que esperados e desejados. Dois novos personagens trazem vigor para os episódios finais, os quais despertam nosso ânimo, já sonolento, para acompanhar Emily. Além do italiano rico e cativante, a publicitária ganha finalmente uma rival estadunidense à altura com o sonho de trabalhar com moda em Paris. Embora a protagonista seja impulsiva em alguns aspectos, suas ideias publicitárias continuam metódicas e sua disposição em aprender francês comedida.
Com as características de abusada e dissimulada, além de saber falar francês, Geneviève (Thalia Besson) não perde tempo em buscar êxito tanto no trabalho quanto na vida pessoal e amorosa, soltando farpas para Emilly e Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu). Filha do cineasta francês Luc Besson (O Quinto Elemento, 1997), aos 21 anos, Thalia Besson incorpora naturalmente todos os pontos da perfeita antagonista, algo deixado um pouco a desejar pela atriz Camille Razat. Já Eugenio Franceschini abraça o fascínio do homem galante, afetuoso e, portanto, sedutor, características até então em falta em todo elenco masculino.
Em contrapartida, Sylvie lança as cartas na mesa e apresenta-se cheia de vida aos 60 anos e as preocupações ao ter se tornado empresária e dona da própria agência, além de segredos do seu movimentado passado. A narrativa também aposta em participações em especiais, como o belo ator italiano Raoul Bova, o talentoso Rupert Everett (O Casamento do Meu Melhor Amigo, 1997) e até a primeira dama Brigitte Macron.
Para quem não reconhece o nome Raoul Bova, ele é o galã da adaptação do best-seller Lição de Amor (Scusa ma ti chiamo amore, 2008), de Frederico Moccia, além do amante italiano de Diane Lane em Sob o Sol da Toscana (2003) e o de Sarah Jessica Parker em Todos os Caminhos Levam a Roma (2015). A geração de 30 + agradece a lembrança e homenagem à beleza na maturidade.
Aliás, são as comédias românticas com as belas paisagens da capital italiana que servem de inspiração não somente para os títulos dos dois últimos capítulos, mas também para cenas icônicas na Piazza Venezia e na Fontana de Trevi. Se Audrey Hepburn passeava numa vespa com Gregory Peck em A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1954) , Emily vive os seus dias de Bonequinha de Luxo na garupa do belo italiano e, finalmente, a sua relação com trabalho parece ser mais natural e verídica.
Dirigidos por Andrew Fleming, os três últimos episódios parecem mais maduros, genuínos e aprazíveis, um frescor de mudança de cenário sem clichês sobre italianos, mas ainda com uma pequena rixa entre quem produz o melhor café, vinho, roupas e, em geral, luxo. Afinal de contas, Emily vende luxo na agência de publicidade Grateau e representar clientes desse setor tem suas vantagens de viver rodeada de glamour, oportunidades e novos horizontes profissionais.
Com as rodas dos vagões realinhados, os roteiristas também suprimiram as ideias bobas da temporada anterior para Mindy Chen (Ashley Park), assim ela parece seguir com mais ousadia e perseverança na sua carreira musical, e surpreende com uma hilária apresentação no cabaré Crazy Horse e uma linda nova composição ao piano. Como alívio cômico, ela junto com Julien (Samuel Arnold) e Luc (Bruno Gouery) têm bastante a acrescentar à narrativa sem apelar para comportamentos estapafúrdios e inverossímeis.
Com um giro de 180°, Emily em Paris despede-se por cima da sua quarta temporada com fôlego para novas descobertas, alguns desafios para as marcas de luxo e, principalmente, uma protagonista disposta a correr riscos e nos instigar a acompanhá-la em sua jornada. Ainda falta encanto à Emily? Sim! Contudo, caso haja uma quinta temporada (ainda não é o momento do ponto final), a torcida é que ela seja mais parecida com estes cinco episódios finais do que a caótica e esquecível terceira fase.