Jennifer Lopez é quase como um unicórnio da indústria do entretenimento, capaz de circular na música, na dança e na atuação com facilidade – ainda que seus projetos no cinema nem sempre agradem a todos. Independente de opiniões, é inevitável ponderar que a artista latina é dona de uma versatilidade totalmente sua. Ainda que não atinja altíssimas notas vocais, JLo é como um monumento artístico raro de se encontrar.
E Halftime tenta explorar os bastidores dessa extensa jornada que hoje culmina em seus 52 anos marcados por uma constante atividade que não parece querer desacelerar tão cedo. E ainda que o novo documentário original da Netflix não ofereça a honestidade crua que ansiávamos ver, a produção entrega a perspectiva genuína de JLo sobre todos os estereótipos aos quais ela foi submetida nos idos dos anos 90 e 2000.
De origem porto-riquenha, Lopez rapidamente se firmou na indústria mediante o sucesso da amada cinebiografia Selena, que celebra a homônima cantora tejana, que conquistou os Estados Unidos com seu talento até hoje insuperável. E Jennifer Lopez: Halftime tenta fazer uma análise mais clínica a respeito do impacto que o longa gerou em Hollywood, à medida em que constrói um paralelo com a jornada particular da cantora/atriz, como uma emergente figura latina em uma indústria marcada apenas pela beleza caucasiana.
E embora o documentário não se aprofunde nas questões pessoais, emocionais e relacionais de JLo, ele traz uma reflexão importante sobre como algumas artistas femininas eram percebidas pela mídia. Mesmo diante de uma prolífica carreira multifacetada, Jennifer Lopez passou duas décadas sendo unicamente vista como a latina com uma movimentada vida amorosa. Enquanto seus esforços profissionais eram abafados diante dos colegas da indústria, sua vida íntima – ainda que fosse pouco comentada por ela mesma – estampava um leque variado de tabloides, que naturalmente se divertiam de forma invasiva às custas de sua sensualidade.
É interessante ouvir Lopez falando sobre o peso da pressão midiática ao longo de toda sua carreira. Ainda que ela se esquive de detalhes mais sombrios sobre seus conflitos psicoemocionais diante de todo esse turbilhão, Halftime serve como a chance da artista de expressar sentimentos que por anos permaneceram engarrafados. Com a narrativa documental sempre conduzida por ela mesma, o filme não possui muitos depoimentos alheios e concentra-se majoritariamente no que JLo quer dizer.
Funcionando também como um filete documental de um período específico de sua vida – meados de 2019 e 2020 -, o longa foca mais em sua jornada desde o lançamento de As Golpistas, passando pela temporada de premiações, pelas inúmeras especulações quanto a uma possível indicação ao Oscar e chegando em sua elogiada performance no Super Bowl. Mostrando seu processo criativo ao longo de todas essas etapas, Jennifer Lopez: Halftime funciona mais como uma olhadela pelo buraco da fechadura, que embora nos revele pouco, sacia parte da nossa curiosidade a respeito do caráter da artista por trás dos figurinos justos e performances elaboradas. Pode deixar a desejar a muitos, mas não deixa de ser um bom entretenimento.