quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Ninguém Sai Vivo Daqui – Andréia Horta e Augusto Madeira Conduzem Terror Psicológico Passado no Hospital Colônia

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O medo do outro foi e é um dos maiores catalizadores de atrocidades da humanidade. O medo de quem é diferente do padrão, do que é chamado de senso comum. Num mundo regido pelos princípios masculinos (a centralização de poder, as regras, os gostos), qual espaço a mulher ocupa? Qual espaço é permitido a elas? Mais especificamente: qual espaço é permitido às mulheres que se recusam a performar de acordo com as regências machistas do mundo? Embora muitas conquistas tenham sido conseguidas (principalmente nas últimas décadas), até pouco tempo atrás verdadeiros horrores eram cometidos contra as mulheres – como, por exemplo, a internação compulsória seguindo a vontade do marido ou do pai. Sim, isso aconteceu no Brasil, até meados dos anos 1980, e agora virou tema do filme ‘Ninguém Sai Vivo Daqui’, que chega a partir dessa semana aos cinemas brasileiros.

Ninguém Sai Vivo Daqui



Elisa (Fernanda Marques) era uma jovem apaixonada pelo namorado, mas, após engravidar dele e se recusar a se casar com um homem bem mais velho que ela, que seu pai estava armando, a jovem é internada no Hospital Psiquiátrico Colônia, na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. A princípio, pensa tratar-se de um engano, mas em bem pouco tempo fica claro para Elisa que seu pai a internara em um hospício porque ela pensara que poderia reger sua própria vida de acordo com suas vontades e desejos. Uma vez lá dentro, ela começa a entender a dinâmica do lugar, fazer amizade com outras reclusas e que o tal médico da instituição nem médico é. Para sobreviver ao local, Elisa precisará encontrar forças para superar os maus tratos e fugir dali.

Ninguém Sai Vivo Daqui’ é um projeto curioso. Baseado no livro “Holocausto Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex (que tem escrito sobre outras tragédias brasileiras, como a do Ninho do Urubu), o filme é, também, uma derivação de uma série de dez episódios lançada em 2021, de nome ‘Colônia’ (disponível na Globoplay), com os mesmos personagens, mesmo elenco e mesma sinopse.

Ninguém Sai Vivo Daqui

Isto dito, ao contrário da série no filme a dinâmica dos eventos se dá de maneira mais acelerada; até por conta disso, a produção tem apenas uma hora e vinte de duração. Assim, o roteiro de Marco Dutra, Rita Glória Curvo e André Ristum enxuga os desenvolvimentos pessoais dos personagens periféricos e até mesmo da protagonista Elisa, em prol da objetividade do drama central do enredo. Essa escolha do diretor André Ristum serve, inclusive, como um convite a quem quiser se aprofundar mais no tema do Hospital Colônia.

Todo filmado em preto e branco, a produção conta com nomes tarimbados no elenco, como Andréia Horta (como uma reclusa na beira do colapso mental), Augusto Madeira (como um médico inescrupuloso), Rejane Faria (de ‘Marte Um’) e Bukassa Kabengele (de ‘O Jogo Que Mudou a História’), que se dedicaram em inúmeros ensaios no set para ambientar a trama naquele ambiente de horror vivido por tantas e tantos brasileiros.

Partindo do drama pessoal quase inocente, ‘Ninguém Sai Vivo Daqui’ evolui para um terror psicológico inspirado em eventos reais, o que piora a sensação de horror diante das torturas e maus-tratos sofridos pelos pacientes. Pela ficção, o filme joga luz sobre um tenebroso passado recente da história psiquiátrica brasileira, cujos respingos ainda pulsam nas veias desse país.

ninguém sai vivo daqui 36 (com andreia horta, viviane monteiro, lulu pavarin e marcio americo)

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Ninguém Sai Vivo Daqui

Elisa (Fernanda Marques) era uma jovem apaixonada pelo namorado, mas, após engravidar dele e se recusar a se casar com um homem bem mais velho que ela, que seu pai estava armando, a jovem é internada no Hospital Psiquiátrico Colônia, na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. A princípio, pensa tratar-se de um engano, mas em bem pouco tempo fica claro para Elisa que seu pai a internara em um hospício porque ela pensara que poderia reger sua própria vida de acordo com suas vontades e desejos. Uma vez lá dentro, ela começa a entender a dinâmica do lugar, fazer amizade com outras reclusas e que o tal médico da instituição nem médico é. Para sobreviver ao local, Elisa precisará encontrar forças para superar os maus tratos e fugir dali.

Ninguém Sai Vivo Daqui’ é um projeto curioso. Baseado no livro “Holocausto Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex (que tem escrito sobre outras tragédias brasileiras, como a do Ninho do Urubu), o filme é, também, uma derivação de uma série de dez episódios lançada em 2021, de nome ‘Colônia’ (disponível na Globoplay), com os mesmos personagens, mesmo elenco e mesma sinopse.

Ninguém Sai Vivo Daqui

Isto dito, ao contrário da série no filme a dinâmica dos eventos se dá de maneira mais acelerada; até por conta disso, a produção tem apenas uma hora e vinte de duração. Assim, o roteiro de Marco Dutra, Rita Glória Curvo e André Ristum enxuga os desenvolvimentos pessoais dos personagens periféricos e até mesmo da protagonista Elisa, em prol da objetividade do drama central do enredo. Essa escolha do diretor André Ristum serve, inclusive, como um convite a quem quiser se aprofundar mais no tema do Hospital Colônia.

Todo filmado em preto e branco, a produção conta com nomes tarimbados no elenco, como Andréia Horta (como uma reclusa na beira do colapso mental), Augusto Madeira (como um médico inescrupuloso), Rejane Faria (de ‘Marte Um’) e Bukassa Kabengele (de ‘O Jogo Que Mudou a História’), que se dedicaram em inúmeros ensaios no set para ambientar a trama naquele ambiente de horror vivido por tantas e tantos brasileiros.

Partindo do drama pessoal quase inocente, ‘Ninguém Sai Vivo Daqui’ evolui para um terror psicológico inspirado em eventos reais, o que piora a sensação de horror diante das torturas e maus-tratos sofridos pelos pacientes. Pela ficção, o filme joga luz sobre um tenebroso passado recente da história psiquiátrica brasileira, cujos respingos ainda pulsam nas veias desse país.

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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