Me ajude a lembrar quantas declarações de amor eu falei. Como nosso amor começou? E chega diretamente de Porto Alegre uma das gratas surpresas do universo cinematográfico brasileiro deste ano. Nós duas descendo a Escada, dirigido pelo cineasta Fabiano de Souza, é um leve e bonito conto moderno que fala sobre o amor entre duas mulheres de maneira cativante. A trilha sonora do filme é belíssima, às vezes um pouco demasiada demais para algumas sequencias, porém com força o suficiente para se destacar sem incomodar na maior parte do tempo.
Na trama, conhecemos Adri (Miriã Possani), uma jovem cheia de sonhos que após um encontro inusitado, acaba conhecendo Mona (Carina Dias) uma carismática mulher por quem se apaixona perdidamente. Assim, suas semanas nunca mais serão as mesmas, os dias mais intensos, sempre em busca de fugir da tal da solidão longe de seu grande amor. Basicamente, as idas e vindas de um amor entre duas jovens, completamente diferentes, que encontram no amor a poesia das metáforas do cotidiano.
Referências à sétima arte, ao mundo das artes, à literatura, o roteiro navega em águas categóricas para criar suas interações. Em alguns momentos parece que estamos vendo declamações de poemas e poesias, uma espécie de licença poética impactante em meio ao imaginário da trama. A personalidade, bem distanciada, das duas protagonistas é a grande sacada para a fluidez da história que é contada de maneira cronológica e não deixa de ser objetiva.
A bicicleta como carruagem, um manual para despedidas, cartazes de filmes, um drink bate igual a três quando se está sozinho. Quem não quer um final feliz pra sua história? O longa também fala sobre a única palavra que tem tradução somente no português, a saudade. E nesse sentimento que só nós temos a tradução é onde o filme navega por águas melancólicas com subidas e descidas, que podem tocar alguns, outros não, mas que sempre conta com a força cênica e talentosa das duas atrizes que dão luz à esse belo conto de amor.