sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Nós Somos a Onda – Nova série da Netflix traz ‘Malhação’ entediada contra o Sistema

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Na pequena cidade fictícia alemã de Mapplesped, alunos da escola Irmãos Scholl vivem suas vidinhas normalmente como em qualquer outra série que você já viu: tem os que sofrem bullying e os que os comete, a patricinha popular, o gordinho excluído, a revoltada gótica, o estrangeiro mal quisto etc, e ninguém interage entre si. Aí então chega o novato bonitão para abalar essa estrutura (clichê, aham). Só que além de bonitão, ele é boa praça, e rapidamente se mostra um defensor dos fracos e oprimidos, ensinando o grupinho a se defender e não levar desaforo para casa. Aos poucos, sua inspiração passa do aprendizado pessoal para uma proposta de agir contra o sistema opressor. Assim, os cinco que nem sequer se falavam na escola antes, se tornam companheiros de um movimento a que denominam de ‘A Onda’.



Baseado no romance ‘A Onda’, de Morton Rhue (pseudônimo de Todd Strasser), a série tem um argumento bastante inocente, ao ponto de usar esse mesmo argumento como defesa de seus personagens, pois em determinado momento Tristan Broch (Ludwig Simon, uma mistura de James Dean com Heath Ledger e Ansel Elgort) comenta com Lea (Luise Befort, não deve ser por acaso terem elencado uma protagonista tão esteticamente parecida com a atriz e ativista Emma Watson) que a principal arma que eles possuem é justamente essa inocência juvenil.

Apesar de alguma credulidade ser tolerável para o espectador, o resultado geral dos seis episódios é enfadonho, pois é simplesmente de perder a paciência os argumentos utilizados pelos personagens. Em nome de uma suposta busca por um mundo melhor, cada um deles, sem exceção, parte de uma causa em benefício próprio. Então, só por aí, já perderiam a argumentação. O problema maior é que mesmo essas causas pessoais são baseadas em fundamentações vazias, às quais o espectador não consegue nem simpatizar, quanto mais torcer. Ou seja, quando o grupo não está unido por uma causa maior, seja ela qual for, ele está cada um por si, e, historicamente, sabemos que qualquer movimento assim perde força com o tempo, pois sem objetivo, não há foco.

Partindo de episódios reais que rolaram na Europa uns anos atrás – e que hoje observamos insurgir em diversos países no mundo inteiro, com as “Primaveras” e outras manifestações de insatisfação popular contra o sistema –, a série bebe em referências históricas, como a Revolução Francesa e os recentes black blocs. Entretanto, para corroborar certos acontecimentos necessários para o desenvolver da trama, o roteiro de  por vezes desliza na facilitação de coisas que fica difícil de engolir, como locais que convenientemente não possuem câmeras, a construção de um vilão forçado para realçar a luta dos jovens, uma liberdade desmedida dos pais com relação aos filhos de 17 anos, e por aí vai. Tem coisa que dá para aceitar, mas a constância desses elementos facilitadores indica, na verdade, a preguiça do roteiro em pensar fora da caixinha.

A direção de Dennis Gansel parece apenas acompanhar as cenas gravadas, e não tentar engajar o público na causa. Entretanto, a condução da câmera é bem feita, com planos abertos bastante interessantes de um subúrbio alemão desconhecido do grande público. O ponto forte de ‘Nós Somos a Onda’ é a sua trilha sonora, composta de canções em diversas línguas – e que já está disponível no Spotify. No mais do mais, fica a dica dessa playlist.

A série ‘Nós Somos a Onda’ tem boa intenção, porém, tal como seus personagens, precisa amadurecer. Enquanto uma possível segunda temporada não é confirmada, recomenda-se o filme ‘A Onda’, de 2008, que foi a primeira adaptação dessa história e cujo resultado é muito mais satisfatório.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Baseado no romance ‘A Onda’, de Morton Rhue (pseudônimo de Todd Strasser), a série tem um argumento bastante inocente, ao ponto de usar esse mesmo argumento como defesa de seus personagens, pois em determinado momento Tristan Broch (Ludwig Simon, uma mistura de James Dean com Heath Ledger e Ansel Elgort) comenta com Lea (Luise Befort, não deve ser por acaso terem elencado uma protagonista tão esteticamente parecida com a atriz e ativista Emma Watson) que a principal arma que eles possuem é justamente essa inocência juvenil.

Apesar de alguma credulidade ser tolerável para o espectador, o resultado geral dos seis episódios é enfadonho, pois é simplesmente de perder a paciência os argumentos utilizados pelos personagens. Em nome de uma suposta busca por um mundo melhor, cada um deles, sem exceção, parte de uma causa em benefício próprio. Então, só por aí, já perderiam a argumentação. O problema maior é que mesmo essas causas pessoais são baseadas em fundamentações vazias, às quais o espectador não consegue nem simpatizar, quanto mais torcer. Ou seja, quando o grupo não está unido por uma causa maior, seja ela qual for, ele está cada um por si, e, historicamente, sabemos que qualquer movimento assim perde força com o tempo, pois sem objetivo, não há foco.

Partindo de episódios reais que rolaram na Europa uns anos atrás – e que hoje observamos insurgir em diversos países no mundo inteiro, com as “Primaveras” e outras manifestações de insatisfação popular contra o sistema –, a série bebe em referências históricas, como a Revolução Francesa e os recentes black blocs. Entretanto, para corroborar certos acontecimentos necessários para o desenvolver da trama, o roteiro de  por vezes desliza na facilitação de coisas que fica difícil de engolir, como locais que convenientemente não possuem câmeras, a construção de um vilão forçado para realçar a luta dos jovens, uma liberdade desmedida dos pais com relação aos filhos de 17 anos, e por aí vai. Tem coisa que dá para aceitar, mas a constância desses elementos facilitadores indica, na verdade, a preguiça do roteiro em pensar fora da caixinha.

A direção de Dennis Gansel parece apenas acompanhar as cenas gravadas, e não tentar engajar o público na causa. Entretanto, a condução da câmera é bem feita, com planos abertos bastante interessantes de um subúrbio alemão desconhecido do grande público. O ponto forte de ‘Nós Somos a Onda’ é a sua trilha sonora, composta de canções em diversas línguas – e que já está disponível no Spotify. No mais do mais, fica a dica dessa playlist.

A série ‘Nós Somos a Onda’ tem boa intenção, porém, tal como seus personagens, precisa amadurecer. Enquanto uma possível segunda temporada não é confirmada, recomenda-se o filme ‘A Onda’, de 2008, que foi a primeira adaptação dessa história e cujo resultado é muito mais satisfatório.

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