E se uma mensagem de texto mudasse sua vida?
É essa a premissa de que a rom-com dramática ‘O Amor Mandou Mensagem’ se vale. Na trama, assinada por James C. Strouse e baseada no romance homônimo alemão de Sofie Cramer, Mira Ray (Priyanka Chopra Jonas) se vê em uma espiral caótica depois que seu namorado, John (Arinzé Kene) é atropelado e morre. Depois de dois anos tentando lidar com o luto, ela volta à ativa, canalizando a dor para voltar a ilustrar e a escrever livros infantis – mas se vê num beco sem saída, visto que não enxerga mais as cores do mundo. Dessa forma, ela passa a enviar mensagens de texto para o número antigo de John, como forma de expressar o que sente e, talvez, conseguir seguir adiante.
O que ela não imaginava é que o número de seu ex-namorado, agora, pertence a Rob Burns (Sam Heughan), um crítico de música que também desacreditou no amor após ser abandonado pela noiva; sem perspectiva de redescobrir o que se perdeu, ele ganha a tarefa de escrever um grande artigo sobre Céline Dion (que aparece no filme como ela própria), a rainha das baladas românticas – mas não consegue mergulhar mais fundo que a leitura dos versos das canções. Quando ele recebe as mensagens de Mira, ele, a princípio, fica confuso com o que está acontecendo – mas gradativamente começa a construir laços com alguém que nunca viu. E, como é costumeiro nos filmes do gênero, ambos se encontram por “obra do destino” (ou, nesse caso, por obra de um coração partido).
Strouse, que também fica responsável pela direção, sabe que não está inventando a roda e que se arrisca ao oferecer mais um produto de um estilo fílmico que parece não ter mais o que apresentar. Entretanto, se levarmos isso em consideração, o resultado do longa-metragem é positivo, principalmente pela química entre Heughan e Jonas e pela presença ilustre de Dion – que rouba a cena em qualquer momento que aparece. Mesmo assim, nosso trabalho é dificultado quando tantos clichês se aglutinam em pouco mais de uma hora e quarenta de tela, em que cada cena pode ser premeditada instantaneamente.
A principal ideia da narrativa, todavia, não é nos levar a uma compreensão metafísica do amor; o que se esconde por trás dessa fachada formulaica é que, mesmo nos momentos mais difíceis e nas situações mais derradeiras, podemos encontrá-lo. Mira, por insistência da irmã, Suzy (Sofia Barclay), até mesmo sai em um encontro para ao menos resgatar um pouco do que sentia com John, mas se vê mais perdida do que imaginava e quase desiste de se relacionar com outra pessoa. E, depois de uma noite na ópera ‘Orfeu e Eurídice’ (que também está atrelada às memórias de seu falecido namorado), ela cruza caminho com Rob e ambos percebem que as coisas não foram destruídas – só precisam de um remendo.
Como é de se esperar, nem tudo são flores – e Mira eventualmente descobre que Rob recebeu e leu todas as mensagens que ela enviou. Sentindo-se traída e perdendo mais uma vez a fé de que poderia se reerguer; mas Rob, aconselhado pela própria Céline, abraça o brilho que Mira lhe deu para fazer o aguardado “ato de amor improvável”, publicando uma carta de declaração no jornal em que trabalha da maneira mais poética possível. E, como podemos imaginar, tudo se resolve e eles “vivem felizes para sempre”, mergulhados em um conto de fadas palpável e que, por vezes, tenta se esquivar dos maniqueísmos de enredo.
Não há muito o que falar da estrutura técnica do longa: Strouse constrói um enredo movido a campo, contracampo e paisagens quase oníricas – recursos adornados com algumas inflexões panorâmicas que entram em choque com o caótico em que vivem. A fotografia e o uso das cores também não fogem muito do convencional, mas, em vez de optarem por tons díspares entre os protagonistas, apostam em uma arquitetura que os une pela falta de prospecto na paixão (com investidas azuladas que representam tanto uma melancolia tardia quanto uma esperança necessária). Mas a trilha sonora é o elemento estético que mais nos chama a atenção, por ser inteiramente movida às clássicas músicas do exuberante catálogo de Dion.
Se ‘O Amor Mandou Mensagem’ fosse lançado no final do ano, com certeza se tornaria um título obrigatório para as festas natalinas, regadas a amor e a mensagens positivas. Afinal, apesar dos inúmeros erros – que incluem diálogos cansativos e que beiram o constrangimento -, não podemos deixar de sentir uma pontada de conforto conforme os créditos de encerramento sobem (imaginando que, depois da tormenta, sempre vem a calmaria).