domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Anjo – Thriller criminal com produção de Pedro Almodóvar

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Laranja Mecânica encontra Me Chame Pelo Seu Nome

Alguns artistas conseguem atingir status de estrela mundial mesmo sem aderir à maior vitrine para sua área: o mercado norte-americano. Este é o caso com o cineasta Pedro Almodóvar, diretor espanhol que desde a década de 1980 é enaltecido por cinéfilos e profissionais da área como um dos grandes nomes da sétima arte. Quando não está no comando das obras, as produz, como o recente O Anjo, que após fazer sua estreia no Festival de Cannes 2018, finalmente chega ao circuito comercial de nosso país.

Representante da Argentina para a categoria de filme estrangeiro do Oscar deste ano, O Anjo conta a história real e chocante de Carlos Robledo Puch – um jovem serial killer que antes de completar 20 anos de idade já tinha nas costas uma lista de crimes hediondos, vide assassinatos, roubos, sequestros e estupro. Devido a sua aparência angelical (e feminina) – com cabelos loiros de cachinhos e rostinho de bebê -, o rapaz foi apelidado pela imprensa de ‘Anjo da Morte’ e ‘Anjo negro’. Isso tudo num período curto de apenas um ano, entre 1971 e 1972 – ano em que finalmente foi capturado.



No filme, o personagem é interpretado pelo estreante Lorenzo Ferro, em um dos melhores debutes da década. Com a segurança de um veterano, o rapaz topa o desafio e abraça um papel difícil, arriscado e muito ousado – o qual o ator de primeira viagem tira de letra, se mostrando à altura da empreitada. Grande parte de O Anjo funciona devido ao desempenho de Ferro – e só funcionaria desta forma. O ator mescla a frieza de uma personalidade desalmada, completamente desprovida de emoções básicas, com inocência e enorme dissimulação. Pense em Alex DeLarge (Malcolm McDowell) do clássico Laranja Mecânica (1971).

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Mas Ferro não é fominha e passa bem a bola para o resto de seu elenco, em especial Chino Darín, filho do grande Ricardo Darín, que tem se mostrado um digno herdeiro do talento do pai. Entre O Silêncio do Céu (2016), Uma Noite de 12 Anos (2018) e este filme, é seguro dizer que o “Darín Júnior” tem uma brilhante carreira à frente. A química entre os dois era importantíssima para o desenvolvimento de personalidades e o andamento da narrativa – são trechos que envolvem um relacionamento homoafetivo que diz muito, em especial sobre o desconectado protagonista. Aliás, coincidência ou não por ser uma produção de Almodóvar, o teor homoerótico permeia toda a obra, inclusive motivando ações primordiais para o desenrolar da história.

O que o jovem diretor Luis Ortega cria é um filme dinâmico, moderno e arrojado. Uma obra pop, que mistura elementos prontos a nos capturar desde a primeira cena, como uma trilha sonora embalada por muito rock n roll latino, visual chamativo – com uma fotografia pulsante (como na cena da boate) e uma direção de arte que nos transporta bem para os anos 1970 – e personagens extremamente cativantes (mérito do roteiro e das atuações).

Exemplo da qualidade da obra é o esplendoroso trabalho técnico que transforma a belíssima Malena Villa nas gêmeas Marisol e Magdalena, na maioria das vezes dividindo a cena, sem que percebamos a trucagem e realmente achemos se tratar de atrizes gêmeas. São criadas inclusive pequenas diferenças entre as duas – um trabalho realmente do nível do que foi alcançado por David Fincher em A Rede Social (2010), com os irmãos vividos por Armie Hammer.

Existe muito para se elogiar em O Anjo, mais do que qualquer texto faria jus. A narrativa moderna, que soa quase como se saída de um dos filmes de Quentin Tarantino – de quem Ortega certamente deve ter pego inspiração também – “batida” junto com um suspense policial de época, dá o tempero ideal para nos render e manter cativos, grudados na tela, encantados com as atrocidades cometidas pelo ‘monstro bebê’, ou melhor, pelo seu filme. O cinema é o local onde podemos ter fascínio pelos atos mais atrozes de consciência limpa e onde o crime é um atrativo. E O Anjo conquista sua entrada no hall das grandes obras de criminais do cinema.

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Representante da Argentina para a categoria de filme estrangeiro do Oscar deste ano, O Anjo conta a história real e chocante de Carlos Robledo Puch – um jovem serial killer que antes de completar 20 anos de idade já tinha nas costas uma lista de crimes hediondos, vide assassinatos, roubos, sequestros e estupro. Devido a sua aparência angelical (e feminina) – com cabelos loiros de cachinhos e rostinho de bebê -, o rapaz foi apelidado pela imprensa de ‘Anjo da Morte’ e ‘Anjo negro’. Isso tudo num período curto de apenas um ano, entre 1971 e 1972 – ano em que finalmente foi capturado.

No filme, o personagem é interpretado pelo estreante Lorenzo Ferro, em um dos melhores debutes da década. Com a segurança de um veterano, o rapaz topa o desafio e abraça um papel difícil, arriscado e muito ousado – o qual o ator de primeira viagem tira de letra, se mostrando à altura da empreitada. Grande parte de O Anjo funciona devido ao desempenho de Ferro – e só funcionaria desta forma. O ator mescla a frieza de uma personalidade desalmada, completamente desprovida de emoções básicas, com inocência e enorme dissimulação. Pense em Alex DeLarge (Malcolm McDowell) do clássico Laranja Mecânica (1971).

Mas Ferro não é fominha e passa bem a bola para o resto de seu elenco, em especial Chino Darín, filho do grande Ricardo Darín, que tem se mostrado um digno herdeiro do talento do pai. Entre O Silêncio do Céu (2016), Uma Noite de 12 Anos (2018) e este filme, é seguro dizer que o “Darín Júnior” tem uma brilhante carreira à frente. A química entre os dois era importantíssima para o desenvolvimento de personalidades e o andamento da narrativa – são trechos que envolvem um relacionamento homoafetivo que diz muito, em especial sobre o desconectado protagonista. Aliás, coincidência ou não por ser uma produção de Almodóvar, o teor homoerótico permeia toda a obra, inclusive motivando ações primordiais para o desenrolar da história.

O que o jovem diretor Luis Ortega cria é um filme dinâmico, moderno e arrojado. Uma obra pop, que mistura elementos prontos a nos capturar desde a primeira cena, como uma trilha sonora embalada por muito rock n roll latino, visual chamativo – com uma fotografia pulsante (como na cena da boate) e uma direção de arte que nos transporta bem para os anos 1970 – e personagens extremamente cativantes (mérito do roteiro e das atuações).

Exemplo da qualidade da obra é o esplendoroso trabalho técnico que transforma a belíssima Malena Villa nas gêmeas Marisol e Magdalena, na maioria das vezes dividindo a cena, sem que percebamos a trucagem e realmente achemos se tratar de atrizes gêmeas. São criadas inclusive pequenas diferenças entre as duas – um trabalho realmente do nível do que foi alcançado por David Fincher em A Rede Social (2010), com os irmãos vividos por Armie Hammer.

Existe muito para se elogiar em O Anjo, mais do que qualquer texto faria jus. A narrativa moderna, que soa quase como se saída de um dos filmes de Quentin Tarantino – de quem Ortega certamente deve ter pego inspiração também – “batida” junto com um suspense policial de época, dá o tempero ideal para nos render e manter cativos, grudados na tela, encantados com as atrocidades cometidas pelo ‘monstro bebê’, ou melhor, pelo seu filme. O cinema é o local onde podemos ter fascínio pelos atos mais atrozes de consciência limpa e onde o crime é um atrativo. E O Anjo conquista sua entrada no hall das grandes obras de criminais do cinema.

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