O nome Donald Trump se tornou popular mundialmente na última década, após o magnata dos Estados Unidos se candidatar à presidência daquele país e ganhar as eleições, levando o território a quatro anos de um governo recheado de críticas e de momentos de tensão. Mas antes disso, bem antes de ser o presidente Trump, ele foi, por muito tempo, apenas Donald, um futuro herdeiro de um negócio criado pelo papai e que poderia ter sido apenas mais um riquinho almofadinha, não fosse o encontro com um cara. A história de como Donald se transforma em O Trump é o mote de ‘O Aprendiz’, polêmico filme que teve exibições prévias no Festival do Rio 2024 e que chega essa semana ao circuito nacional.
Donald (Sebastian Stan, de ‘Capitão América: O Soldado Invernal’) é um ambicioso herdeiro de uma fortuna cujo desejo é construir um hotel de luxo numa área empobrecida de Nova York. Desacreditado pelo pai e sem saber como se livrar da polícia federal que acusa sua família de sonegar impostos, Donald espairece num bar exclusivo para os poderosos da Big Apple, e é lá que conhece o advogado Roy Cohn (Jeremy Strong, de ‘Succession’), um cara inescrupuloso que já de cara diz a Donald que para vencer na vida, é preciso virar o jogo e jogar o holofote na acusação. Impressionado, Donald entende que com a ajuda de Roy Cohn ele não só resolve seu problema imediato, mas que com a mentoria do advogado ele conseguirá ir muito longe, realizando todos os seus sonhos.
O roteirista Gabriel Sherman tece uma narrativa muito interessante, que é corroborada pelas extraordinárias atuações de Sebastian Stan e Jeremy Strong. A forma como esses personagens vão se revelando para o espectador – da mera ambição à construção de um sujeito “matador” (palavras do roteiro), que não mede palavras/esforços para conseguir o que quer, doa a quem doer. A junção desses três pilares – os protagonistas e o roteiro brilhante – faz fique muito claro para o espectador como Donald aos poucos vai perdendo o ar infantil e vai assumindo o aspecto mais agressivo de fazer negócios, tornando-se, dia após dia, investimento após investimento, no sujeitinho que hoje o mundo conhece: o cara que nega a verdade, não admite erros e está sempre atacando, não importa a quem.
Para construir o Donald em transformação em Trump, o diretor Ali Abbasi (do ótimo ‘Holy Spider’) mistura técnicas de filmagem muito interessantes, hora com plano aberto, hora em close, e, mais para o terceiro arco do longa, usando aquela câmera tremida com close rápido, popularmente utilizada na série de sucesso ‘The Office’. Junto com a filmagem precisa, temos uma equipe de caracterização e de figurino e maquiagem que dão um show para recriar as épocas de 1970 a 1990, deixando Sebastian Stan a cara de Donald literalmente até a penúltima cena – é só no fim que lembramos estarmos vendo a uma ficção, tamanha a entrega e a precisão dos fatos e do elenco em cena, que conta ainda com uma potente Maria Bakalova (de ‘Borat: Fita de Cinema Seguinte’) como Ivana Trump, primeira esposa de Donald.
Mais do que uma cinebiografia de Trump, ‘O Aprendiz’ é uma aula de estratégias subterfugias de como os poderosos fazem para fazer acontecer no mundo, e como essas negociações bilionárias acontecem da noite para o dia com a aprovação de todo mundo, deixando claro porque quem sempre dominou a sociedade estadunidense foi as grandes famílias ricas herdeiras de fortunas que realiza acordos nas festinhas e bares exclusivos. Filmaço bem feito que despertará muitos sentimentos no espectador.