terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica | O Bastardo – Indicado ao Oscar pela Dinamarca traz Mads Mikkelsen em Filme de Época

A história com H maiúsculo, em seus detalhes, é impressionante. Se por um lado a história conhecida pela maioria da população é uma leitura muitas vezes suavizadas e resumidas dos acontecimentos (tais como foram), por outro aos poucos, principalmente nos últimos anos, mais e mais camadas dessa história com maiúsculo vem sendo contadas – e, nesse sentido, o cinema tem sido grande aliado. Através desse olhar atento, chegou aos cinemas brasileiros esse fim de semana o longa ‘O Bastardo’, que foi representante da Dinamarca ao Oscar de Melhor Filme Internacional nesse ano.

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Estamos no século XVIII e a Dinamarca vive sob o regime da monarquia. Enquanto o país ainda tenta se reconstruir após as últimas guerras enfrentadas, o capitão Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen, o eterno ‘Hannibal’ da série homônima) é um herói orgulhoso de seus feitos, porém está empobrecido, assim como boa parte da população. Diante de sua realidade, Kahlen se oferece como voluntário à coroa para ocupar um terreno inóspito na Jutlândia, onde todos acreditam ser totalmente infértil. Ao contrário, Kahlen acredita que é possível plantar no local, e por isso, a coroa decide permitir sua ocupação, sob uma condição: caso Kahlen consiga plantar algo no local, aí então a coroa enviaria pessoas para ajudar a popular a localidade, mas, até lá, Kahlen teria que fazer todo o roçado e todo o trabalho sozinho. O capitão aceita a proposta, sem saber que seu maior desafio seria, na verdade, seu vizinho de terreno, o mimado Frederick De Schinkel (Simon Bennebjerg).

Com pouco mais de duas horas de duração, ‘O Bastardo’ é um bom filme que constrói um cenário de época bem interessante, que, apesar de fazer um recorte sobre um fato real ocorrido na história da Dinamarca, é uma dinâmica que pode ser facilmente lida na história do Brasil: todo esse comportamento da dita “coroa”, que se autointitula dona de um terreno e se autointitula no direito de dispor das terras para seus aliados, sob qualquer pretexto, mesmo que as terras já estejam ocupadas por outras pessoas; aconteceu na Dinamarca do século XVIII, mas é também a história da invasão e colonização no Brasil.

o bastardo3

Mads Mikkelsen entrega um bom e desafiador trabalho, ao construir um protagonista fechadão, de poucas palavras e cheio de confiança sobre um terreno que ninguém mais acredita. Mesmo se tratando de uma história estrangeira, o roteiro de Nikolaj Arcel, Anders Thomas Jensen e Ida Jessen elabora um enredo que vai cativando o espectador, balanceando a obstinação do protagonista com a obsessão infantil e egóica do vizinho, o qual Simon Bennebjerg interpreta muito bem, dando-lhe requintes de crueldade repulsivos.

Em um segundo plano, ‘O Bastardo’ ainda traz outros temas particulares daquela região nórdica, mas que também se assemelham aos dias de hoje, como a presença de ciganos e imigrantes no território, o que tem como consequência o crescimento da xenofobia e do racismo, ou, ainda, a subordinação das mulheres a situações domésticas meramente pelo fato de serem mulheres.

Com bonitas tomadas aéreas, ‘O Bastardo’ impressiona pela grande produção ao trazer uma história particular da Dinamarca, mas que reflete a universalidade do tema. Um bom filme de época para ajudar a entender a dinâmica da colonização mundial.

o bastardo4

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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A história com H maiúsculo, em seus detalhes, é impressionante. Se por um lado a história conhecida pela maioria da população é uma leitura muitas vezes suavizadas e resumidas dos acontecimentos (tais como foram), por outro aos poucos, principalmente nos últimos anos, mais e mais camadas dessa história com maiúsculo vem sendo contadas – e, nesse sentido, o cinema tem sido grande aliado. Através desse olhar atento, chegou aos cinemas brasileiros esse fim de semana o longa ‘O Bastardo’, que foi representante da Dinamarca ao Oscar de Melhor Filme Internacional nesse ano.

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Estamos no século XVIII e a Dinamarca vive sob o regime da monarquia. Enquanto o país ainda tenta se reconstruir após as últimas guerras enfrentadas, o capitão Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen, o eterno ‘Hannibal’ da série homônima) é um herói orgulhoso de seus feitos, porém está empobrecido, assim como boa parte da população. Diante de sua realidade, Kahlen se oferece como voluntário à coroa para ocupar um terreno inóspito na Jutlândia, onde todos acreditam ser totalmente infértil. Ao contrário, Kahlen acredita que é possível plantar no local, e por isso, a coroa decide permitir sua ocupação, sob uma condição: caso Kahlen consiga plantar algo no local, aí então a coroa enviaria pessoas para ajudar a popular a localidade, mas, até lá, Kahlen teria que fazer todo o roçado e todo o trabalho sozinho. O capitão aceita a proposta, sem saber que seu maior desafio seria, na verdade, seu vizinho de terreno, o mimado Frederick De Schinkel (Simon Bennebjerg).

Com pouco mais de duas horas de duração, ‘O Bastardo’ é um bom filme que constrói um cenário de época bem interessante, que, apesar de fazer um recorte sobre um fato real ocorrido na história da Dinamarca, é uma dinâmica que pode ser facilmente lida na história do Brasil: todo esse comportamento da dita “coroa”, que se autointitula dona de um terreno e se autointitula no direito de dispor das terras para seus aliados, sob qualquer pretexto, mesmo que as terras já estejam ocupadas por outras pessoas; aconteceu na Dinamarca do século XVIII, mas é também a história da invasão e colonização no Brasil.

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Mads Mikkelsen entrega um bom e desafiador trabalho, ao construir um protagonista fechadão, de poucas palavras e cheio de confiança sobre um terreno que ninguém mais acredita. Mesmo se tratando de uma história estrangeira, o roteiro de Nikolaj Arcel, Anders Thomas Jensen e Ida Jessen elabora um enredo que vai cativando o espectador, balanceando a obstinação do protagonista com a obsessão infantil e egóica do vizinho, o qual Simon Bennebjerg interpreta muito bem, dando-lhe requintes de crueldade repulsivos.

Em um segundo plano, ‘O Bastardo’ ainda traz outros temas particulares daquela região nórdica, mas que também se assemelham aos dias de hoje, como a presença de ciganos e imigrantes no território, o que tem como consequência o crescimento da xenofobia e do racismo, ou, ainda, a subordinação das mulheres a situações domésticas meramente pelo fato de serem mulheres.

Com bonitas tomadas aéreas, ‘O Bastardo’ impressiona pela grande produção ao trazer uma história particular da Dinamarca, mas que reflete a universalidade do tema. Um bom filme de época para ajudar a entender a dinâmica da colonização mundial.

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