Uma história se torna um clássico a partir de sua capacidade de se tornar atemporal, de se conectar com leitores e espectadores para além de seu país de origem, da sua língua, do seu tempo. Um clássico extrapola fronteiras e permanece geração após geração por trazer dilemas humanos que tocam o coração das pessoas, que se identificam com o enredo. Aconteceu com muitos livros, considerados como clássicos da literatura mundial, como ‘O Conde de Monte Cristo’, que uma vez mais ganha adaptação cinematográfica e que chega ao circuito nacional no dia 5 de dezembro, mas que teve sessões antecipadas durante o Festival Varilux.
Edmond Dantès (Pierre Niney) é um navegador que, após salvar uma jovem que se afogava num naufrágio, é promovido a capitão. Se por um lado isso permite com que ele faça planos de se casar com o amor da sua vida, Mercedes (Anaïs Demoustier), também desperta a inveja de seu primo e também do então capitão do navio, Danglars (Patrick Mille), que, em complô, o acusam de traição à pátria e Dantès é preso injustamente. Após anos no cárcere, Dantés faz amizade com um prisioneiro que lhe conta sobre o tesouro secreto de Monte Cristo. Quando consegue escapar, Dantès só pensa em se apossar dessa fortune e ir em busca de sua vingança, mas agora sob uma nova identidade: ‘O Conde de Monte Cristo’.
Indicado pela França para representá-lo na corrida pelo Oscar esse ano, o longa chega com três horas de duração, o que pode inicialmente afugentar os espectadores. Porém, por se tratar de um clássico, é uma história envolvente que engaja o espectador logo nas primeiras cenas, de modo que sua extensão não é sentida – ao contrário, ficamos com uma sensação de termos assistido a uma novela brasileira, recheada de plot twists e grandes revelações um tanto quanto previsíveis.
Os diretores Alexandre de la Patellière e Matthieu Delaporte fazem escolhas interessantes para esta nova adaptação: vai-se as longas capas e cabelos compridos e, ao invés, temos personagens com cortes de cabelos mais modernos e roupas mais acentuadas. Outra escolha é a de, apesar de ser uma história sobre vingança, o filme tem um aspecto muito mais solar, com muita iluminação, planos abertos e gerais, com pouquíssimas sequências sombrias; isso acaba enaltecendo o belo trabalho de arte e figurino, que recriaram elementos do século XIX levemente modernizados.
Com um elenco vasto, a superprodução enche as telas com locações luxuosíssimas e grande caracterização. Em determinados pontos, é fácil traçar paralelos com outras histórias que se assemelham ao mote de ‘O Conde de Monte Cristo’ e que também fizeram e fazer sucesso, como ‘Lupin’, série da Netflix baseada em livro homônimo. Embora ambas as histórias envolvam ação, suspense e drama, em ‘O Conde de Monte Cristo’ os diretores optam por ter um protagonista-narrador envolvente, que seduza o espectador a seu favor, mesmo sabendo que sua causa não é tão nobre.
E aí reside a atemporalidade de ‘O Conde de Monte Cristo’, que a nova adaptação soube tão bem refletir: uma história envolvente, com bastante suspense e um intrincado plano de vingança, que faz o espectador seguir cada momento sem desgrudar os olhos. Uma ótima nova adaptação que demonstra a atualidade dos temas levantados por Alexandre Dumas quase duzentos anos atrás.