Acenando para o submundo sobrenatural, mas sem sujar muito as mãos, o cineasta Christopher Smith leva sua nova história – coescrita com Laurie Cook -, para os átrios de tantos outros filmes de terror: o ambiente religioso. E em um isolado convento aos pés dos montes rochosos da Escócia, uma jovem médica será confrontada pelo seu passado, à medida em que tenta descobrir o que de fato aconteceu com seu irmão mais novo, um padre que morreu em circunstâncias duvidosas. E flertando com símbolos do catolicismo, agregando uma estranheza pagã à rituais ortodoxos, O Convento tenta unir um conceito cult a um formato mais POP dentro do gênero. Mas sua falta de ousadia em abraçar as bizarrices de seu roteiro faz do longa apenas um recorte vazio de bons momentos.
E Jena Malone se entrega. Disposta e completamente envolvida com sua personagem, a delicada Grace, ela faz de sua performance o ponto mais alto do filme e carrega a trama nas costas, com um fôlego admirável. Diante de um roteiro cujo esqueleto é bom, mas sofre pela falta de uma execução precisa, Malone é o que nos resta nessa experiência tão feita pela metade. Mirando em uma abordagem a la Midsommar, Smith se esforça para fazer de O Convento algo semelhante ao extasiante clássico contemporâneo de Ari Aster. Mas por não ter uma identidade muito precisa e se apegar demais às entrelinhas de sua personagem, ele acaba por se distrair daquilo que realmente importa, que é entregar bons sustos e promover aquele frio na espinha que todo horror sobrenatural precisa.
Ficando na zona do nem-nem (nem terror, nem suspense), a produção acaba se diluindo em apenas alguns momentos, que nos surpreendem pela sanguinolência e pelos sustos inesperados. Mas por nunca ousar sair de sua zona de conforto, O Convento se torna um grande “quase”, sendo insosso demais para sequer ser lembrado. Com seu primeiro ato lento e arrastado, o longa até consegue ganhar um vigor novo em sua segunda parte, mas a falta de intensidade e elementos genuinamente sobrenaturais fazem com que a história se torne cansativa muito rapidamente, custando até mesmo a conexão emocional que deveríamos ter com Malone e sua personagem Grace.
Apresentando uma proposta boa, mas muito mal costurada e executada, o terror acaba se tornando um efeito colateral de uma direção mediana. Nas mãos de Robert Eggers, O Convento poderia ser uma excelente combinação entre o POP e o cult presentes no gênero de terror. Repleto de elementos estranhos que tornam o contexto narrativo ainda mais rico e assombroso, o filme possui ótimas coadjuvantes bizarras, comportamentos peculiares de dar calafrios e toda uma dinâmica relacional psicótica e tóxica entre as freiras do convento. Emanando ares de uma seita religiosa macabra, o roteiro de Smith e Cook sinaliza para a direção certa, une os elementos corretamente, mas não sabe o que fazer com eles. E ao ligar a câmera, o diretor fica ainda mais confuso, sem saber como expandir sua boa história de forma mais visceral e horripilante.
Carecendo de voracidade e urgência em seu terror, o filme não se preocupa em convidar a audiência para uma experiência de dar nos nervos e acelerar os batimentos cardíacos. Extremamente lento e com diversos momentos em que absolutamente nada acontece, O Convento não honra os talentos de Malone e Danny Huston. Com cara de filme B dos anos 2000, o thriller é um R-rated que não cruza as próprias barreiras que sua censura lhe permite. Com pouco sangue para ser um slasher e sem manifestações espirituais genuínas para ser um sobrenatural, o longa por fim é apenas 1h30 de boas intenções. Mas de boas intenções, o inferno já está cheio.