domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | O Debate – Cenário Político Brasileiro é o Tema na Estreia na Direção de Caio Blat

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O período confinado em casa fez com que muitos de nós voltássemos nossos olhos para dentro de nós mesmos, para as pessoas ao redor, para o local em que vivemos. Muitos de nós também observou o país em que vivemos, a forma como a pandemia foi manejada por aqueles que elegemos, e boa parte de nós não ficou satisfeito com a postura e a inatividade dos governantes eleitos. Na arte, o período do confinamento serviu também de inspiração para diversos tipos de produção, que já começam a chegar ao público esse ano, como o dramaO Debate, estreia na direção do ator (e agora diretor) Caio Blat.



Estamos no primeiro ano da pandemia, 2020. Confinados em seu apartamento, o casal Paula (Débora Bloch) e Marcos (Paulo Betti) avaliam os dezessete anos de casados enquanto passam o tempo da quarentena. Ao mesmo tempo, julgam e analisam as atitudes do governo federal no controle e na condução da pandemia no país. Tudo isso acontece momentos antes de o canal de televisão em que os dois trabalham receber o atual presidente para participar do aguardado debate para as eleições deste ano. Até por isso Paula se sente em conflito sobre divulgar os resultados de uma pesquisa de boca de urna e, dessa forma, acabar favorecendo o candidato que considera não ser o melhor para o país.

Vertiginoso e visceral, o coração de ‘O Debate’ é, definitivamente, os diálogos. Somado a eles há a entrega e a experiência dos competentíssimos Débora Bloch e Paulo Betti, com suas inacreditáveis capacidades de memorizar falas e imprimir o sentimento certo para cada situação de seus personagens, mesclando posicionamentos políticos com os traumas do relacionamento, costurando e intercalando ambos os conceitos com tanta desenvoltura, que chega a ser difícil para o espectador acompanhar quando termina um tema e começa o outro.

Baseado no livro homônimo de 84 páginas escrito pelos diretores Guel Arraes e Jorge Furtado, lançado em 2021, a produção não exatamente adapta a peça de teatro do livro, de modo que o filme tem um bocado da dramaturgia em suas pouco mais de uma hora de duração. Uma escolha, é verdade, que em vez de distrair o espectador com uma meia hora a mais de recheio, focou no que era o principal do enredo: o debate – ou, melhor dizendo, as diversas pautas levantadas nesse diálogo entre os protagonistas, técnica narrativa de clássicos da literatura como ‘Esperando Godot’ e do Teatro do Absurdo de Samuel Beckett.

Caio Blat faz uma boa estreia na direção, acertando em chamar um elenco experiente para seu primeiro filme, e, com isso, ganhar segurança para continuar por esse caminho. Ainda assim, tanto roteiro quanto direção poderiam ter sido um pouco mais criativos em trazer outras possibilidades de cenas que não tivessem necessariamente um cigarro como acessório; do jeito que ficou, os atores literalmente acendem um atrás do outro toda vez que estão no cenário da televisão.

Estreando na primeira semana de propaganda política liberada aos candidatos nas eleições 2022, ‘O Debate’ é uma provocação importante principalmente pensando naqueles que andam considerando a possibilidade de não posicionar seu voto nessas eleições.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Estamos no primeiro ano da pandemia, 2020. Confinados em seu apartamento, o casal Paula (Débora Bloch) e Marcos (Paulo Betti) avaliam os dezessete anos de casados enquanto passam o tempo da quarentena. Ao mesmo tempo, julgam e analisam as atitudes do governo federal no controle e na condução da pandemia no país. Tudo isso acontece momentos antes de o canal de televisão em que os dois trabalham receber o atual presidente para participar do aguardado debate para as eleições deste ano. Até por isso Paula se sente em conflito sobre divulgar os resultados de uma pesquisa de boca de urna e, dessa forma, acabar favorecendo o candidato que considera não ser o melhor para o país.

Vertiginoso e visceral, o coração de ‘O Debate’ é, definitivamente, os diálogos. Somado a eles há a entrega e a experiência dos competentíssimos Débora Bloch e Paulo Betti, com suas inacreditáveis capacidades de memorizar falas e imprimir o sentimento certo para cada situação de seus personagens, mesclando posicionamentos políticos com os traumas do relacionamento, costurando e intercalando ambos os conceitos com tanta desenvoltura, que chega a ser difícil para o espectador acompanhar quando termina um tema e começa o outro.

Baseado no livro homônimo de 84 páginas escrito pelos diretores Guel Arraes e Jorge Furtado, lançado em 2021, a produção não exatamente adapta a peça de teatro do livro, de modo que o filme tem um bocado da dramaturgia em suas pouco mais de uma hora de duração. Uma escolha, é verdade, que em vez de distrair o espectador com uma meia hora a mais de recheio, focou no que era o principal do enredo: o debate – ou, melhor dizendo, as diversas pautas levantadas nesse diálogo entre os protagonistas, técnica narrativa de clássicos da literatura como ‘Esperando Godot’ e do Teatro do Absurdo de Samuel Beckett.

Caio Blat faz uma boa estreia na direção, acertando em chamar um elenco experiente para seu primeiro filme, e, com isso, ganhar segurança para continuar por esse caminho. Ainda assim, tanto roteiro quanto direção poderiam ter sido um pouco mais criativos em trazer outras possibilidades de cenas que não tivessem necessariamente um cigarro como acessório; do jeito que ficou, os atores literalmente acendem um atrás do outro toda vez que estão no cenário da televisão.

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