Deixe-o entrar.
Ainda que a série esteja se destacando semanalmente, os números não a estão acompanhando. Felizmente, depois do Series Low na semana passada, este terceiro episódio conseguiu subir 0.1 na demo, registrando 0.7. Ainda é baixo até mesmo para a FOX, mas há esperanças. Além do mais, The Exorcist tem demonstrado um certo peso em DVR – que conta com os views dos dias seguintes. O segundo episódio conseguiu crescer 0.5 (83% a mais de sua audiência ao vivo), totalizando 1.1 na demo. Considerando que a série é exibida às sextas, e a FOX já declarou publicamente que não considera apenas os números ao vivo, há chances dessa série sair com vida desse exorcismo. Tudo vai depender dos próximos registros, mas parece que sua audiência já se estabilizou.
O episódio dessa semana foi muito importante porque serviu como “o despertar” do demônio. Durante os dois primeiros episódios, ele estava cercando a Casey, ganhando sua confiança. E agora ele finalmente teve permissão para entrar. O “vendedor“, como a menina o chama, trabalhou lentamente esta semana, afastando a Casey dos seus familiares, especialmente de sua irmã. Ele precisava que ela estivesse isolada, se sentindo sozinha, para que pudesse fazer o seu movimento mais importante. No final do episódio, a personagem se encontra triste, sabe que errou com a sua irmã, e o seu pai, apesar de estar ao seu lado, também não é de grande ajuda. Então ela só pode recorrer ao velho amigo, o demônio mentiroso.
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A cena no trem certamente foi o grande momento deste episódio. Com uma boa direção, que fez toda diferença na composição desta sequência, fomos direcionados de uma forma desconfortável a acompanhar a Casey cedendo ao demônio. O momento em que ela vê o “vendedor” e se entrega a ele com um beijo é muito impactante; até mais do que a garota, já possuída, esfolando o assediador com as suas unhas. Inclusive, achei muito ousada essa decisão de mostrar o demônio agindo na frente de uma multidão. É claro que eles vão pensar que a personagem apenas surtou, e mesmo se tivessem visto algo, suas mentes certamente os convenceriam se tratar apenas de uma alucinação, uma espécie de engano, porque temos tendência a racionalizar aquilo que não podemos explicar. O importante nessa situação é que fica imediatamente claro para o mundo que a Casey é perigosa, e isso deve trazer consequências sérias no próximo episódio.
Esta semana o foco finalmente mudou um pouco para a irmã que não está possuída. Ela teve bastante destaque no primeiro episódio, mas só para direcionar a atenção dos espectadores para o lado contrário. No entanto, a personagem ainda tinha a história do acidente e da depressão, que foi propriamente desenvolvida neste terceiro episódio. Sua amiga que morreu era, na verdade, o seu interesse amoroso. O fato da Kat ser lésbica é uma surpresa, e traz mais uma reviravolta deliciosa por parte do roteiro. A irmã homossexual, “pecadora“, não foi possuída pelo demônio. E, como vimos nas primeiras cenas, o “vendedor” tentou alcançá-la primeiro; dando forças às palavras do padre Marcus sobre a entidade só ter conseguido se conectar com a irmã “mais fraca”. O roteiro ainda joga uma luz sobre a complicada relação entre a Kat e a sua mãe, Angela, que aparentemente sabia de sua orientação sexual e não a aceita.
E, quem pensa que a série parou com as referências ao filme de 1973, está terrivelmente enganado. Nesta terceira semana, nós tivemos a recriação de uma das cenas mais icônicas do primeiro filme da franquia, mas acredito que muitos não irão perceber – Deus sabe que eu não percebi. Aquela cena da Casey no banheiro se queimando com o babyliss equivale à icônica cena da cruz no original. Foram os próprios produtores que esclareceram isso no Twitter, confirmando a dúvida daqueles que pegaram a referência. É claro que a cena do filme é imbatível, até porque, há um significado maior. A própria escolha da cruz para o ato foi um sacrilégio, ao contrário do babyliss, que não traz nenhum significado. Ainda assim, eu adoro essas pequenas homenagens ao clássico, e acredito que elas representam uns dos momentos mais legais dessa nova versão.
Também acho importante ressaltar que o roteiro fez um ótimo trabalho ao questionar a integridade da própria igreja. Primeiro quando o texto mostrou que os padres estão pouco se lixando para possibilidade da menina estar possuída. De fato, com o testemunho do Marcus, que é experiente no assunto, eles sabem que ele está falando a verdade, mas não estão dispostos a ajudar uma família inocente. Além disso, o dinheiro que o Thomas recebeu daquela mulher também pareceu extremamente estranho; uma espécie de suborno combinado com assédio sexual. Acho essa desconstrução muito válida para a série, mostrando que todos são humanos falhos, e até mesmo uma instituição sagrada como a igreja esconde os seus podres e não é tão receptiva como ela faz os seus fiéis acreditarem. Inclusive, o roteiro voltou a reafirmar isso ao destacar que o itinerário do Papa só daria destaque para pontos privilegiados, ignorando quase que completamente os pobres.
Neste episódio eles também revelaram qual o propósito de todos aqueles assassinatos. Aparentemente, faz parte de um ritual para invocar mais demônios. Estariam eles criando um exército para a chegada do Papa ou a série irá trazer uma reviravolta especial? Por enquanto o enredo tem conseguido me impressionar bastante, trazendo algumas direções criativas realmente originais. The Exorcist já é uma das minhas estreias favoritas dessa Fall Season. Seus aspectos técnicos são tão diferentes do que vemos na televisão atualmente, que parece ser uma série original de TV fechada. E como se já não bastasse tudo isso, preparem-se, porque um dos produtores da série já afirmou que o quinto episódio trará um exorcismo contínuo de 43 minutos. The power of Christ compels you!