sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | O Filho Uruguaio – Questionador drama familiar

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Mãe Só Há Uma

Usando como mote o estarrecedor e corriqueiro crime do sequestro de crianças, que as separa de suas mães, chega aos cinemas brasileiros no dia 1º de março esta coprodução entre França e Uruguai.

Assim como no recente Mãe Só Há Uma (2016), de Anna Muylaert, que relatou de forma fictícia um famoso caso de nosso país, envolvendo um jovem criado por outra família, anos depois já na fase adolescente descobrindo ter sido sequestrado de sua verdadeira mãe pela mulher que acreditava ser sua progenitora, esta obra apresenta a cruel realidade que ambos os lados desta hedionda situação precisam enfrentar.



Escrito e dirigido por Olivier Peyon – com roteiro assinado em parceria com Cécilia Rouaud e Patricia MortagneO Filho Uruguaio inicia a jornada sem nos situar direito sobre o que está ocorrendo diante de nossos olhos. Quando o longa começa, acompanhamos o desespero de Sylvie (papel da bela francesa fluente em espanhol Isabelle Carré – uma mistura de Charlize Theron e Amy Adams), em acertar todos os detalhes para que sua “missão” dê certo. Ela faz ligações, garante o dinheiro, entra em contato com antigos conhecidos que poderão ajuda-la, ou seja, se certifica que todas as peças estarão no lugar, e nós apenas assistimos à suas maquinações dos bastidores, sem compreender exatamente qual o esquema sendo ajeitado pela protagonista.

Um dos pilares para a concretização de seus planos é o parceiro e cúmplice Mehdi (Ramzy Bedia), que será seu frontman nesta operação. Logo de cara o drama desperta nosso interesse e prende imediatamente a atenção, nos fazendo tentar compreender o plano da dupla – até mesmo se será usado para o bem ou para o mal.

Em sua segunda metade, O Filho Uruguaio já revela para o espectador todo o mistério que construiu no primeiro ato, e nos deixa a par de toda a história. Sylvie teve o pequeno filho sequestrado pelo marido, que a deixou. Durante anos ela buscou encontra-los sem sucesso, já que o sujeito teria fugido para o “fim do mundo”. Agora, depois de tanto tempo, com o menino Felipe (Dylan Cortes) um pouco mais crescido, Sylvie finalmente reuniu todas as provas do paradeiro da criança e planeja resgatá-lo.

O menino, por outro lado, agora sem o pai presente em sua vida (já que este saiu de cena), é criado pela avó e tia paternas (Virginia Méndez e a bela María Dupláa respectivamente) em uma pequena cidade no Uruguai. Mehdi será a ponte entre a família paterna e a mãe desesperada, se infiltrando em seu seio para ganhar a confiança e preparar o bote. Mas será que o sujeito, que criou verdadeiros laços com estes familiares, conseguirá ir até o fim do que foi originalmente proposto a fazer?

O Filho Uruguaio possui todas as qualidades esperadas dos dramas europeus e latinos de maior excelência que imaginamos. Em primeiro lugar, uma ideia fervorosa e urgente por si só, que trata de um tema polêmico e pra lá de delicado. Segundo, pela forma como trata este tema em seu roteiro, sem atropelos, sem demonizar ou canonizar lados, sem apontar dedos, soluções ou certos e errados. Cria personagens identificáveis e simpáticos o suficiente para que mesmo no maior calor de nossa indignação, nunca esqueçamos se tratar de seres humanos, mesmo alguns muito falhos.

A forma como o roteiro desenvolve seus personagens é primorosa, apresentando um ponto de vista diferente para a mesma situação vindo de cada um deles – mesmo os que achamos que irão se atrelar a uma causa, por conveniência, nos surpreendem por suas atitudes imprevisíveis, dando assim um toque ainda mais de veracidade. O fator “como agir em tal situação” se faz muito presente e desperta no espectador matéria prima o suficiente para horas de conversa e discussão após o término da sessão.

No meio de tudo, estão ainda os sentimentos e vontades do pequeno Felipe, o menino que foi retirado da mãe, e para o qual mentiram dizendo que a progenitora havia morrido. Uma vida, mesmo que de poucos anos, acreditando em uma realidade, que é subvertida violentamente de uma hora para outra. Tal choque é capaz de criar um abalo psicológico talvez quase tão trágico quanto o crime cometido contra a mulher, a protagonista Sylvie, roubada de seu maior bem.

O Filho Uruguaio é uma obra urgente e pulsante, que nos bate na cara com um dilema quase insolucionável. Que nos obriga a interagir com ele, e a pensar, muito mais do que a maioria dos filmes que chegam lotando as salas de cinema dos multiplex a cada fim de semana.

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Assim como no recente Mãe Só Há Uma (2016), de Anna Muylaert, que relatou de forma fictícia um famoso caso de nosso país, envolvendo um jovem criado por outra família, anos depois já na fase adolescente descobrindo ter sido sequestrado de sua verdadeira mãe pela mulher que acreditava ser sua progenitora, esta obra apresenta a cruel realidade que ambos os lados desta hedionda situação precisam enfrentar.

Escrito e dirigido por Olivier Peyon – com roteiro assinado em parceria com Cécilia Rouaud e Patricia MortagneO Filho Uruguaio inicia a jornada sem nos situar direito sobre o que está ocorrendo diante de nossos olhos. Quando o longa começa, acompanhamos o desespero de Sylvie (papel da bela francesa fluente em espanhol Isabelle Carré – uma mistura de Charlize Theron e Amy Adams), em acertar todos os detalhes para que sua “missão” dê certo. Ela faz ligações, garante o dinheiro, entra em contato com antigos conhecidos que poderão ajuda-la, ou seja, se certifica que todas as peças estarão no lugar, e nós apenas assistimos à suas maquinações dos bastidores, sem compreender exatamente qual o esquema sendo ajeitado pela protagonista.

Um dos pilares para a concretização de seus planos é o parceiro e cúmplice Mehdi (Ramzy Bedia), que será seu frontman nesta operação. Logo de cara o drama desperta nosso interesse e prende imediatamente a atenção, nos fazendo tentar compreender o plano da dupla – até mesmo se será usado para o bem ou para o mal.

Em sua segunda metade, O Filho Uruguaio já revela para o espectador todo o mistério que construiu no primeiro ato, e nos deixa a par de toda a história. Sylvie teve o pequeno filho sequestrado pelo marido, que a deixou. Durante anos ela buscou encontra-los sem sucesso, já que o sujeito teria fugido para o “fim do mundo”. Agora, depois de tanto tempo, com o menino Felipe (Dylan Cortes) um pouco mais crescido, Sylvie finalmente reuniu todas as provas do paradeiro da criança e planeja resgatá-lo.

O menino, por outro lado, agora sem o pai presente em sua vida (já que este saiu de cena), é criado pela avó e tia paternas (Virginia Méndez e a bela María Dupláa respectivamente) em uma pequena cidade no Uruguai. Mehdi será a ponte entre a família paterna e a mãe desesperada, se infiltrando em seu seio para ganhar a confiança e preparar o bote. Mas será que o sujeito, que criou verdadeiros laços com estes familiares, conseguirá ir até o fim do que foi originalmente proposto a fazer?

O Filho Uruguaio possui todas as qualidades esperadas dos dramas europeus e latinos de maior excelência que imaginamos. Em primeiro lugar, uma ideia fervorosa e urgente por si só, que trata de um tema polêmico e pra lá de delicado. Segundo, pela forma como trata este tema em seu roteiro, sem atropelos, sem demonizar ou canonizar lados, sem apontar dedos, soluções ou certos e errados. Cria personagens identificáveis e simpáticos o suficiente para que mesmo no maior calor de nossa indignação, nunca esqueçamos se tratar de seres humanos, mesmo alguns muito falhos.

A forma como o roteiro desenvolve seus personagens é primorosa, apresentando um ponto de vista diferente para a mesma situação vindo de cada um deles – mesmo os que achamos que irão se atrelar a uma causa, por conveniência, nos surpreendem por suas atitudes imprevisíveis, dando assim um toque ainda mais de veracidade. O fator “como agir em tal situação” se faz muito presente e desperta no espectador matéria prima o suficiente para horas de conversa e discussão após o término da sessão.

No meio de tudo, estão ainda os sentimentos e vontades do pequeno Felipe, o menino que foi retirado da mãe, e para o qual mentiram dizendo que a progenitora havia morrido. Uma vida, mesmo que de poucos anos, acreditando em uma realidade, que é subvertida violentamente de uma hora para outra. Tal choque é capaz de criar um abalo psicológico talvez quase tão trágico quanto o crime cometido contra a mulher, a protagonista Sylvie, roubada de seu maior bem.

O Filho Uruguaio é uma obra urgente e pulsante, que nos bate na cara com um dilema quase insolucionável. Que nos obriga a interagir com ele, e a pensar, muito mais do que a maioria dos filmes que chegam lotando as salas de cinema dos multiplex a cada fim de semana.

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