Lançado há dez anos, o app do Tinder vem fazendo sucesso mundial desde então, majoritariamente por promover que pessoas se conheçam e se encontrem de acordo com o perfil que ele ou ela deseja conhecer. O famoso “deslize para a direita”, por assim dizer, quando alguém é aprovado e “dá match”. No Brasil o app começou a se popularizar mais a partir de 2014, até por conta da Copa do Mundo, quando muitos estrangeiros vieram para cá e passaram a utilizá-lo por aqui. Porém, como todo site ou app de relacionamento, nem todo mundo que ali se inscreve tem boas intenções, e, numa tentativa de jogar luz sobre os perigos deste e outros sites de relacionamento, a Netflix lançou o documentário ‘O Golpista do Tinder’, sucesso da plataforma.
Quem nunca sonhou com um conto de fadas e um príncipe encantado rico, bonito e apaixonado? Boa parte das crianças que cresceram assistindo aos filmes da Disney cresceram com essa ideia fixa na cabeça. Assim foi para Cecilie Fjellhoy, que, inspirada na história de ‘A Bela e a Fera’, sempre sonhou em encontrar um príncipe rico, solitário e que precisava dela para ser salvo. Não foi nenhuma surpresa quando, certo dia no Tinder, ela rapidamente deu match com o perfil de Simon Leviev, bilionário israelense, herdeiro de um império de diamantes que vivia viajando a negócios na Europa. Tendo sido levada para um voo em jatinho particular logo no primeiro encontro, Cecilie mergulhou de cabeça nesse relacionamento – até Simon começar a pedir que ela lhe emprestasse dinheiro e, por causa dele, ela se endividar até o pescoço em empréstimos bancários.
Em duas horas de duração, ‘O Golpista do Tinder’ é um documentário viciante, embora, se pararmos para analisar, sua estrutura é repetitiva. O que nos faz continuar assistindo é, claro, a empatia que sentimos por aquelas mulheres e as histórias luxuosas que elas contam sobre como viveram uma ilusão fantasiosa – aquela que é vendida constantemente em filmes de Hollywood como ‘Cinquenta Tons de Cinza’ e ‘Uma Linda Mulher’. Razão pela qual é importante, para uma história como essa, ter uma mulher na direção, e Felicity Morris faz um bom trabalho em construir uma narrativa crescente e constante da imagem desse golpista – do príncipe à grande revelação – que é, claro, o grande vilão da parada toda.
Mas, se por um lado o documentário faz isso, por outro não deixa de julgar as vítimas, e isso é muito errado porque a vítima nunca, absolutamente nunca, tem a culpa de nada. O julgamento ocorre quando a narrativa é construída, já no início da produção, em pintar a principal vítima, Cecile, como uma mulher inocente, interesseira e louca para dar uma fisgada num rico. É exatamente assim que o doc abre: com Cecile falando exatamente que é isso que ela busca como relacionamento para sua vida. Como isso não seria um julgamento das mulheres? É quase como se desse razão ao golpista…
‘O Golpista do Tinder’ é um documentário relevante para alertar homens e mulheres a não simplesmente acreditar em tudo que é colocado nas redes sociais. Quem vê foto sorrindo não vê a realidade por trás, e é preciso muito cuidado para se autopreservar antes de se envolver. Em tempos de relações líquidas e instáveis, todo alerta é sempre bem-vindo.