sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | O Insulto – um estudo sobre a intolerância no drama indicado ao Oscar

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Inimigo Meu

Para quem não curte muito filmes americanos de Hollywood, a categoria mais visada do Oscar é sempre a de produções estrangeiras. Nela, todo ano somos brindados com algumas das obras mais elogiadas ao redor do mundo – que buscam inovar seja pela narrativa diferenciada, ou roteiro bem elaborado, sem saídas fáceis, e donos de tantas questões, que poderíamos debate-las por dias. Este ano, um dos mais proeminentes é o drama racial O Insulto, representante do Líbano.

O Oscar 2018 sem dúvidas irá entrar para a história. É impressionante como em 90 anos do evento, barreiras ainda continuam a ser quebradas. Este ano, por exemplo, temos a quinta mulher a ser indicada ao Oscar de direção, a californiana Greta Gerwig (de Lady Bird); a primeira mulher a ser indicada na categoria de fotografia (Rachel Morrison, por Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi); e o primeiro filme do Líbano a ser indicado ao Oscar de produção estrangeira. Se dependesse deste que vos fala, o Líbano não teria apenas a primeira indicação, como a primeira vitória também, e sairia com a estatueta debaixo do braço no dia 4 de março.



A inovação de O Insulto não está em sua forma (a narrativa é tradicional, ou seja, nada muito mirabolante ou artístico – o que é um alívio, pois passa bem longe de qualquer pretensão além de relatar esta história), mas em seu conteúdo. O longa escrito e dirigido por Ziad Doueiri possui um dos roteiros mais provocativos e incendiários dos últimos anos, ao abordar questões como o preconceito e a intolerância, tudo, no entanto, tratado de forma muito consciente. Para a decepção de muitos, este não é um filme panfletário (a forma como uma parcela do público e críticos trata cinema, desde que seja a favor de sua ideologia), e não escolhe lados.

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O Insulto apresenta o problema e se propõe a discuti-lo, sem tampouco carregar a prepotência de tentar solucioná-lo. Este papel cabe ao público. O longa existe para sacudir, para questionar, colocando um espelho na frente do espectador.

A trama mostra um conflito surgindo entre dois homens comuns da classe média baixa de Beirute, capital do Líbano. Quando a calha do apartamento do mecânico Tony (Adel Karam) vaza e molha pessoas na rua, incluindo o mestre de obras Yasser (Kamel El Basha), o operário decide se prontificar a consertar o defeito, mesmo depois do dono ter negado o pedido. O debate continua e resulta em agressão da parte de Yasser. Logo, Tony entra na justiça para a prisão do agressor. A briga, porém, esconde um motivo mais nefasto por trás, o preconceito de Tony, um libanês, em relação a Yasser, um refugiado palestino.

Uma das muitas colocações que ouvi a respeito de O Insulto é que só funcionaria nesta situação, por ser algo muito referente ao país onde a trama se passa. Não concordo cem por cento, já que se transferíssemos para qualquer outra região, esta trama funcionaria se levemente alterada para encaixar em qualquer contexto de preconceito e intolerância – seja racial, contra negros, seja homossexual e inclusive discordância política (brinquei de forma triste e preocupada que esta em breve poderia ser a realidade de dissonâncias políticas entre esquerda e direita no Brasil).

O Insulto começa como algo simples e como uma bola de neve se transforma em algo tão urgente e fervoroso que toma o país, envolvendo e fazendo de vítima terceiros que nada tinham a ver com a história inicial (vide o entregador de pizza). De um drama sobre as diferenças entre dois homens, o longa surge como uma batalha épica nos tribunais, na qual diversos outros elementos entram em cena. O Insulto funciona com muitas peças em movimento, agindo ao mesmo tempo. Não esquece a humanidade e o realismo das situações, e ainda arruma tempo para alívios cômicos – todo filme apenas lucra com eles.

Aqui, as respostas não vêm fáceis. Não existem vilões ou mocinhos, certos ou errados. O Insulto é apenas o retrato de um país, ou quem sabe de nosso mundo, funcionando mais do que qualquer outra coisa na forma de um conto cautelar, alertando dos perigos de convicções irremediáveis e imutáveis, cujo reflexo ao longo da história geraram apenas guerra e sofrimento. Essencial e indispensável, O Insulto possui uma das mensagens mais imprescindíveis deste início de ano, que precisa ser propagada para o maior número de pessoas possível. Acredite, você não irá querer perder este filme.

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O Oscar 2018 sem dúvidas irá entrar para a história. É impressionante como em 90 anos do evento, barreiras ainda continuam a ser quebradas. Este ano, por exemplo, temos a quinta mulher a ser indicada ao Oscar de direção, a californiana Greta Gerwig (de Lady Bird); a primeira mulher a ser indicada na categoria de fotografia (Rachel Morrison, por Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi); e o primeiro filme do Líbano a ser indicado ao Oscar de produção estrangeira. Se dependesse deste que vos fala, o Líbano não teria apenas a primeira indicação, como a primeira vitória também, e sairia com a estatueta debaixo do braço no dia 4 de março.

A inovação de O Insulto não está em sua forma (a narrativa é tradicional, ou seja, nada muito mirabolante ou artístico – o que é um alívio, pois passa bem longe de qualquer pretensão além de relatar esta história), mas em seu conteúdo. O longa escrito e dirigido por Ziad Doueiri possui um dos roteiros mais provocativos e incendiários dos últimos anos, ao abordar questões como o preconceito e a intolerância, tudo, no entanto, tratado de forma muito consciente. Para a decepção de muitos, este não é um filme panfletário (a forma como uma parcela do público e críticos trata cinema, desde que seja a favor de sua ideologia), e não escolhe lados.

O Insulto apresenta o problema e se propõe a discuti-lo, sem tampouco carregar a prepotência de tentar solucioná-lo. Este papel cabe ao público. O longa existe para sacudir, para questionar, colocando um espelho na frente do espectador.

A trama mostra um conflito surgindo entre dois homens comuns da classe média baixa de Beirute, capital do Líbano. Quando a calha do apartamento do mecânico Tony (Adel Karam) vaza e molha pessoas na rua, incluindo o mestre de obras Yasser (Kamel El Basha), o operário decide se prontificar a consertar o defeito, mesmo depois do dono ter negado o pedido. O debate continua e resulta em agressão da parte de Yasser. Logo, Tony entra na justiça para a prisão do agressor. A briga, porém, esconde um motivo mais nefasto por trás, o preconceito de Tony, um libanês, em relação a Yasser, um refugiado palestino.

Uma das muitas colocações que ouvi a respeito de O Insulto é que só funcionaria nesta situação, por ser algo muito referente ao país onde a trama se passa. Não concordo cem por cento, já que se transferíssemos para qualquer outra região, esta trama funcionaria se levemente alterada para encaixar em qualquer contexto de preconceito e intolerância – seja racial, contra negros, seja homossexual e inclusive discordância política (brinquei de forma triste e preocupada que esta em breve poderia ser a realidade de dissonâncias políticas entre esquerda e direita no Brasil).

O Insulto começa como algo simples e como uma bola de neve se transforma em algo tão urgente e fervoroso que toma o país, envolvendo e fazendo de vítima terceiros que nada tinham a ver com a história inicial (vide o entregador de pizza). De um drama sobre as diferenças entre dois homens, o longa surge como uma batalha épica nos tribunais, na qual diversos outros elementos entram em cena. O Insulto funciona com muitas peças em movimento, agindo ao mesmo tempo. Não esquece a humanidade e o realismo das situações, e ainda arruma tempo para alívios cômicos – todo filme apenas lucra com eles.

Aqui, as respostas não vêm fáceis. Não existem vilões ou mocinhos, certos ou errados. O Insulto é apenas o retrato de um país, ou quem sabe de nosso mundo, funcionando mais do que qualquer outra coisa na forma de um conto cautelar, alertando dos perigos de convicções irremediáveis e imutáveis, cujo reflexo ao longo da história geraram apenas guerra e sofrimento. Essencial e indispensável, O Insulto possui uma das mensagens mais imprescindíveis deste início de ano, que precisa ser propagada para o maior número de pessoas possível. Acredite, você não irá querer perder este filme.

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