sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | ‘O Jovem Ahmed’ – Filme Alerta Para os Perigos da Alienação Religiosa

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Nos últimos anos, diversos filmes europeus – e, mais especificamente, franceses – têm abordado o tema da imigração na Europa, tanto sob a ótica dos imigrantes quanto sob a perspectiva de quem já mora no continente. A razão dessa temática estar sendo retratada com tanta frequência é porque a realidade do continente está cada vez mais atrelada à mistura das diversas culturas que se instalaram naquele território – culturas estas que trazem consigo novas línguas, novas religiões, novos costumes etc, em comparação aos que ali já viviam.

É nessa pegada que ‘O Jovem Ahmed’ chega aos cinemas, retratando o conturbado cotidiano de Ahmed (Idir Ben Addi, convincente como um rapaz inseguro), um jovem adolescente profundamente dedicado à reza e aos estudos da religião islâmica. Já na primeira cena o espectador é confrontado com uma situação cotidiana que, em um primeiro momento parece ser apenas introdutória, mas que mostra o quanto o contraste social está profundamente enraizado no dia a dia do cidadão europeu: Ahmed está na escola, e sua professora, Sra. Ives (Myriem Akeddiou), o está ajudando na lição quando, de repente, Ahmed se levanta e vai embora, sem se despedir. Então, na cena seguinte, é explicado ao espectador que a atitude do protagonista tem a ver com seu horário de reza (cumprido pontualmente) e que ele não quer mais apertar a mão da professora para se despedir porque seu imã (orientador religioso no islamismo) lhe disse que no islamismo o homem só pode tocar na mãe, na irmã ou na esposa, e não deve dirigir a palavra a nenhuma outra mulher.

Essa cena inicial dá o tom do roteiro e da direção de Jean-Pierre e Luc Dardenne, que busca retratar o quanto a irresponsabilidade juvenil, somada ao aproveitamento de pessoas mal intencionadas (sob a desculpa de orientação religiosa) está fundando uma geração de jovens totalmente alienados socialmente, porém extremamente dedicados à uma interpretação extremista das religiões – o que, por sua vez, gera ainda mais conflitos sociais e dificuldades de adaptação cultural no continente europeu.

Mais do que papéis memoráveis ou cenas chocantes, ‘O Jovem Ahmed’ propõe uma reflexão do cotidiano, através de uma crônica inocente de um adolescente influenciável pelo seu meio. Embora a época de sua estreia não seja favorável (em pleno carnaval!), o filme é um bom material para ajudar a entender como a atual e as próximas gerações europeias estão sendo constituídas: com base no medo do outro e da imposição de uma única visão/doutrina/vontade sobre os demais. Nesse sentido, o filme faz um importante alerta sobre a influência de doutrinas extremistas na vida dos jovens imigrantes sedentos por se sentirem pertencentes a algum lugar.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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É nessa pegada que ‘O Jovem Ahmed’ chega aos cinemas, retratando o conturbado cotidiano de Ahmed (Idir Ben Addi, convincente como um rapaz inseguro), um jovem adolescente profundamente dedicado à reza e aos estudos da religião islâmica. Já na primeira cena o espectador é confrontado com uma situação cotidiana que, em um primeiro momento parece ser apenas introdutória, mas que mostra o quanto o contraste social está profundamente enraizado no dia a dia do cidadão europeu: Ahmed está na escola, e sua professora, Sra. Ives (Myriem Akeddiou), o está ajudando na lição quando, de repente, Ahmed se levanta e vai embora, sem se despedir. Então, na cena seguinte, é explicado ao espectador que a atitude do protagonista tem a ver com seu horário de reza (cumprido pontualmente) e que ele não quer mais apertar a mão da professora para se despedir porque seu imã (orientador religioso no islamismo) lhe disse que no islamismo o homem só pode tocar na mãe, na irmã ou na esposa, e não deve dirigir a palavra a nenhuma outra mulher.

Essa cena inicial dá o tom do roteiro e da direção de Jean-Pierre e Luc Dardenne, que busca retratar o quanto a irresponsabilidade juvenil, somada ao aproveitamento de pessoas mal intencionadas (sob a desculpa de orientação religiosa) está fundando uma geração de jovens totalmente alienados socialmente, porém extremamente dedicados à uma interpretação extremista das religiões – o que, por sua vez, gera ainda mais conflitos sociais e dificuldades de adaptação cultural no continente europeu.

Mais do que papéis memoráveis ou cenas chocantes, ‘O Jovem Ahmed’ propõe uma reflexão do cotidiano, através de uma crônica inocente de um adolescente influenciável pelo seu meio. Embora a época de sua estreia não seja favorável (em pleno carnaval!), o filme é um bom material para ajudar a entender como a atual e as próximas gerações europeias estão sendo constituídas: com base no medo do outro e da imposição de uma única visão/doutrina/vontade sobre os demais. Nesse sentido, o filme faz um importante alerta sobre a influência de doutrinas extremistas na vida dos jovens imigrantes sedentos por se sentirem pertencentes a algum lugar.

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