domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica ‘O Livro de Boba Fett’ | Uma série salva pela temporada 2.5 de ‘The Mandalorian’

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[ANTES DE COMEÇAR A CRÍTICA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu aos sete episódios de O Livro de Boba Fett, evite esta crítica, pois ela contém spoilers.



No finalzinho de 2020, a segunda temporada de The Mandalorian animou os fãs ao resgatar o Boba Fett (Temuera Morrison) da morte, assim como no universo estendido. E a cena pós-créditos dele se dirigindo ao trono do Jabba, o Hutt, terminando com um anúncio de que ele ganharia série própria deixou os apaixonados por Star Wars em polvorosa. Afinal, era a chance de um personagem amado e muito bem explorado nos quadrinhos e livros poder mostrar seu valor em live action, após não fazer nada muito badass nos filmes.

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Eis que a reta final de 2021 trouxe O Livro de Boba Fett, mas acabou que as coisas não saíram tão bem quanto o esperado. A começar pela própria divulgação da série, que foi quase nula. No mesmo período, os anúncios televisivos eram mais focados na série do Gavião Arqueiro, enquanto a Sony bombardeava outdoors, internet e televisão com as chamadas para Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Em meio a essas duas produções, o caçador de recompensas mais famoso da galáxia muito, muito distante ficou esquecido no churrasco, dependendo quase que exclusivamente da divulgação boca a boca dos fãs. E com o lançamento de um novo episódio por semana, parecia que o Disney+ ia intensificar a campanha promocional com o passar do tempo… Só parecia, porque a realidade foi uma falta de cuidado enorme com o produto, que mais parecia estar sendo escondido pela própria Disney.

Agora, falando sobre a série em si, a produção sofreu com um problema gravíssimo de ritmo ocasionado pela falta de foco narrativo. Mesclando presente e passado, os três primeiros capítulos da produção se dividiram entre contar tudo o que aconteceu desde O Retorno de Jedi (1983) até seu retorno misterioso em The Mandalorian, e a trama de redenção do anti-herói tentando ser o novo Daimiô de Tatooine, onde ele pretende trazer a paz e acabar com as milícias, montando sua própria milícia.

Então, os episódios seguiram por um caminho em que gastava tempo demais explorando um passado chato – que poderia facilmente ter sido resumido em um ou dois flashbacks, enquanto a trama atual ficava de lado. Sem contar que toda a saga de Boba Fett com os Tuskens parece ter saído diretamente de Avatar (2009), só que piorado.

Provando que tudo que é ruim pode piorar, a trama dele se tornando o Daimiô de Tatooine, que prometia ter uma vibe mais de faroeste, com ele enfim usando suas habilidades especiais, acabou virando uma jornada de um dos caras mais f#dões da galáxia tentando virar diplomata. É muito frustrante ver o potencial desperdiçado com o personagem.

Mas absolutamente nada nessa série é tão podre quanto o episódio das lambretas. Os mercenários de motinhas coloridas marcaram um show de horrores na computação gráfica do seriado, com uma trama que poderia até ser legal se tivesse um pouco mais de ação e muito menos de enrolação. Porque existe a introdução de novos personagens, mas nenhum deles é interessante o suficiente para fazer com que o público se importe com eles. Além de não ganharem qualquer tipo de desenvolvimento.

Com essa trupe que está ali apenas para ocupar tempo de tela e testar a paciência de quem está assistindo, começa uma história do Boba Fett reunindo um exército para enfrentar os rivais que não o aceitam como Daimiô. Apesar das lambretinhas coloridas, estilo Power Rangers, eles voltariam no episódio final para cumprirem o papel de figurantes: morrer, deixando apenas a líder do grupo e o amigo dela com visual legal.

Então, a partir do quinto episódio, a série muda da água para o vinho. Ao esquecer completamente o Boba Fett e focar os episódios nas aventuras de Din Djarin (Pedro Pascal), a produção se transforma em uma temporada 2.5 de The Mandalorian.

E aí, o Mandaloriano favorito de todos rouba a cena. Sem apelas para flashbacks cansativos, o quinto episódio consegue expandir a mitologia do personagem, estabelecer situações muito interessantes para serem desenvolvidas futuramente, como ele ser expulso de seu próprio povo, e traz muito carisma. Porque mesmo sem remover seu capacete de Beskar, o trabalho de Pedro Pascal é fantástico. O Sabre Negro também volta a aparecer, se mostrando uma arma incrível que ainda vai render muito nesse universo.

Enfim, é o segundo melhor episódio da série, perdendo apenas para o sexto, que faz por Star Wars o que a trilogia nova sequer passou perto de conseguir.

Nele, temos o retorno inesperado de Luke Skywalker (Mark Hamill), que agora treina o pequeno Grogu, o Bebê Yoda, para ser um Jedi. Nele, podemos ver efetivamente como é Luke sendo um “professor da Força”, coisa que os fãs ficaram na vontade em Os Últimos Jedi (2017), apesar desse episódio já dar indícios de que ele não era um mestre lá tão bom assim. Afinal, ele faz seu primeiro – e até então único – Padawan escolher entre o próprio “pai”, por assim dizer, e um sabre de luz. É óbvio que sairia um Kylo Ren desses métodos controversos de ensino.

De qualquer forma, o pequeno aprende novos movimentos e entende um pouco melhor como usar a Força. Os efeitos disso já podem ser vistos no episódio final e prometem ser melhor trabalhados na vindoura terceira temporada de The Mandalorian.

Nesse mesmo episódio, temos a introdução de Cad Bane em live action, um dos personagens favoritos dos fãs das animações. Ele chega já sentando a bala em Cobb Vanth (Timothy Olyphant), que supostamente morre, e promete engrossar o caldo para o Boba Fett no capítulo final.

O visual ficou impecável e o personagem prometia muito. Infelizmente, ele termina sendo usado como desfecho para o Boba Fett, que se consolida como Daimiô e ganha o respeito da população depois de matar Cad Bane e derrotar os Pyke na frente do povo.

Nesse series finale, ele faz uso de sua armadura e das armas escondidas nela como em nenhum episódio anterior. Enche os olhos, principalmente nas cenas em que ele combina suas habilidades especiais com as de Din Djarin, colocando dois dos grandes combatentes desse universo lutando lado a lado.

Então, fica uma certa frustração do que poderíamos ter visto se não tivessem inventado de transformá-lo em diplomata com workshop indígena. E mesmo exibindo suas habilidades, o Boba Fett ainda fica na sombra do ‘Mando’, que além de ter mais carisma, tem toda a trama do Bebê Yoda para ajudá-lo. E não importa qual seja a história, se tiver um Bebê Yoda no meio, ele roubará todos os holofotes para si. Principalmente em Tatooine, onde já havia um núcleo de personagens coadjuvantes de The Mandalorian ligados ao Din e ao Grogu, que retornam e dão um banho na tentativa de coadjuvantes dessa série.

Mas se tem um personagem que terminou essa série deixando aquele gostinho de “quero mais” foi Cobb Vanth. O Xerife de Vila Livre já tinha brilhado em The Mandalorian, mas conseguiu ter ainda mais carisma nos poucos minutos de O Livro de Boba Fett. E como mostra a cena pós-créditos, ele felizmente está se recuperando na câmara do Boba Fett e provavelmente ganhará um implante mecânico no ombro ou até mesmo o braço inteiro.

Apesar de não terminar com o anúncio de um “O Caderno de Cobb Vanth” ou algo do tipo, o personagem segue vivo e com certeza voltará a aparecer em novas produções ambientadas nessa fase entre trilogias.

Agora que já espinafrei com os pontos negativos, vamos aos pontos positivos. Tecnicamente falando, O Livro de Boba Fett é impecável. A ambientação é muito bem executada e remete aos filmes clássicos da saga, mas sem perder sua originalidade. O uso de efeitos práticos sobrepondo o CGI, que só é usado em cenas que não tinha como fazer de verdade, é de encher os olhos.

Outro ponto irretocável é a trilha sonora de Ludwig Göransson, que passa tudo aquilo que a série poderia entregar. Além da estética em geral do primeiro episódio, que é mais escuro e silencioso, praticamente um filme mudo, que infelizmente não ditou os rumos da série.

Enfim, renegada pela própria Disney desde a publicidade, a série do Boba Fett não se justificou. Tirando os episódios em que ele praticamente não aparece, nos quais o universo é melhor explorado, pouco se desenvolveu ou expandiu do universo clássico dos filmes. Ao fim da série, fica a sensação de que ela não conseguiu justificar sua própria existência e que talvez teria sido melhor investir esse dinheiro na terceira temporada de The Mandalorian do que desembolsar milhões de dólares em uma produção “de passagem” para que o público não esquecesse desse núcleo enquanto não sai Obi-Wan Kenobi. É uma pena que tanto potencial tenha sido desperdiçado assim, sendo que poderia ter virado um marco da franquia Star Wars.

Os sete episódios de O Livro de Boba Fett estão disponíveis no Disney+.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Se você ainda não assistiu aos sete episódios de O Livro de Boba Fett, evite esta crítica, pois ela contém spoilers.

No finalzinho de 2020, a segunda temporada de The Mandalorian animou os fãs ao resgatar o Boba Fett (Temuera Morrison) da morte, assim como no universo estendido. E a cena pós-créditos dele se dirigindo ao trono do Jabba, o Hutt, terminando com um anúncio de que ele ganharia série própria deixou os apaixonados por Star Wars em polvorosa. Afinal, era a chance de um personagem amado e muito bem explorado nos quadrinhos e livros poder mostrar seu valor em live action, após não fazer nada muito badass nos filmes.

Eis que a reta final de 2021 trouxe O Livro de Boba Fett, mas acabou que as coisas não saíram tão bem quanto o esperado. A começar pela própria divulgação da série, que foi quase nula. No mesmo período, os anúncios televisivos eram mais focados na série do Gavião Arqueiro, enquanto a Sony bombardeava outdoors, internet e televisão com as chamadas para Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Em meio a essas duas produções, o caçador de recompensas mais famoso da galáxia muito, muito distante ficou esquecido no churrasco, dependendo quase que exclusivamente da divulgação boca a boca dos fãs. E com o lançamento de um novo episódio por semana, parecia que o Disney+ ia intensificar a campanha promocional com o passar do tempo… Só parecia, porque a realidade foi uma falta de cuidado enorme com o produto, que mais parecia estar sendo escondido pela própria Disney.

Agora, falando sobre a série em si, a produção sofreu com um problema gravíssimo de ritmo ocasionado pela falta de foco narrativo. Mesclando presente e passado, os três primeiros capítulos da produção se dividiram entre contar tudo o que aconteceu desde O Retorno de Jedi (1983) até seu retorno misterioso em The Mandalorian, e a trama de redenção do anti-herói tentando ser o novo Daimiô de Tatooine, onde ele pretende trazer a paz e acabar com as milícias, montando sua própria milícia.

Então, os episódios seguiram por um caminho em que gastava tempo demais explorando um passado chato – que poderia facilmente ter sido resumido em um ou dois flashbacks, enquanto a trama atual ficava de lado. Sem contar que toda a saga de Boba Fett com os Tuskens parece ter saído diretamente de Avatar (2009), só que piorado.

Provando que tudo que é ruim pode piorar, a trama dele se tornando o Daimiô de Tatooine, que prometia ter uma vibe mais de faroeste, com ele enfim usando suas habilidades especiais, acabou virando uma jornada de um dos caras mais f#dões da galáxia tentando virar diplomata. É muito frustrante ver o potencial desperdiçado com o personagem.

Mas absolutamente nada nessa série é tão podre quanto o episódio das lambretas. Os mercenários de motinhas coloridas marcaram um show de horrores na computação gráfica do seriado, com uma trama que poderia até ser legal se tivesse um pouco mais de ação e muito menos de enrolação. Porque existe a introdução de novos personagens, mas nenhum deles é interessante o suficiente para fazer com que o público se importe com eles. Além de não ganharem qualquer tipo de desenvolvimento.

Com essa trupe que está ali apenas para ocupar tempo de tela e testar a paciência de quem está assistindo, começa uma história do Boba Fett reunindo um exército para enfrentar os rivais que não o aceitam como Daimiô. Apesar das lambretinhas coloridas, estilo Power Rangers, eles voltariam no episódio final para cumprirem o papel de figurantes: morrer, deixando apenas a líder do grupo e o amigo dela com visual legal.

Então, a partir do quinto episódio, a série muda da água para o vinho. Ao esquecer completamente o Boba Fett e focar os episódios nas aventuras de Din Djarin (Pedro Pascal), a produção se transforma em uma temporada 2.5 de The Mandalorian.

E aí, o Mandaloriano favorito de todos rouba a cena. Sem apelas para flashbacks cansativos, o quinto episódio consegue expandir a mitologia do personagem, estabelecer situações muito interessantes para serem desenvolvidas futuramente, como ele ser expulso de seu próprio povo, e traz muito carisma. Porque mesmo sem remover seu capacete de Beskar, o trabalho de Pedro Pascal é fantástico. O Sabre Negro também volta a aparecer, se mostrando uma arma incrível que ainda vai render muito nesse universo.

Enfim, é o segundo melhor episódio da série, perdendo apenas para o sexto, que faz por Star Wars o que a trilogia nova sequer passou perto de conseguir.

Nele, temos o retorno inesperado de Luke Skywalker (Mark Hamill), que agora treina o pequeno Grogu, o Bebê Yoda, para ser um Jedi. Nele, podemos ver efetivamente como é Luke sendo um “professor da Força”, coisa que os fãs ficaram na vontade em Os Últimos Jedi (2017), apesar desse episódio já dar indícios de que ele não era um mestre lá tão bom assim. Afinal, ele faz seu primeiro – e até então único – Padawan escolher entre o próprio “pai”, por assim dizer, e um sabre de luz. É óbvio que sairia um Kylo Ren desses métodos controversos de ensino.

De qualquer forma, o pequeno aprende novos movimentos e entende um pouco melhor como usar a Força. Os efeitos disso já podem ser vistos no episódio final e prometem ser melhor trabalhados na vindoura terceira temporada de The Mandalorian.

Nesse mesmo episódio, temos a introdução de Cad Bane em live action, um dos personagens favoritos dos fãs das animações. Ele chega já sentando a bala em Cobb Vanth (Timothy Olyphant), que supostamente morre, e promete engrossar o caldo para o Boba Fett no capítulo final.

O visual ficou impecável e o personagem prometia muito. Infelizmente, ele termina sendo usado como desfecho para o Boba Fett, que se consolida como Daimiô e ganha o respeito da população depois de matar Cad Bane e derrotar os Pyke na frente do povo.

Nesse series finale, ele faz uso de sua armadura e das armas escondidas nela como em nenhum episódio anterior. Enche os olhos, principalmente nas cenas em que ele combina suas habilidades especiais com as de Din Djarin, colocando dois dos grandes combatentes desse universo lutando lado a lado.

Então, fica uma certa frustração do que poderíamos ter visto se não tivessem inventado de transformá-lo em diplomata com workshop indígena. E mesmo exibindo suas habilidades, o Boba Fett ainda fica na sombra do ‘Mando’, que além de ter mais carisma, tem toda a trama do Bebê Yoda para ajudá-lo. E não importa qual seja a história, se tiver um Bebê Yoda no meio, ele roubará todos os holofotes para si. Principalmente em Tatooine, onde já havia um núcleo de personagens coadjuvantes de The Mandalorian ligados ao Din e ao Grogu, que retornam e dão um banho na tentativa de coadjuvantes dessa série.

Mas se tem um personagem que terminou essa série deixando aquele gostinho de “quero mais” foi Cobb Vanth. O Xerife de Vila Livre já tinha brilhado em The Mandalorian, mas conseguiu ter ainda mais carisma nos poucos minutos de O Livro de Boba Fett. E como mostra a cena pós-créditos, ele felizmente está se recuperando na câmara do Boba Fett e provavelmente ganhará um implante mecânico no ombro ou até mesmo o braço inteiro.

Apesar de não terminar com o anúncio de um “O Caderno de Cobb Vanth” ou algo do tipo, o personagem segue vivo e com certeza voltará a aparecer em novas produções ambientadas nessa fase entre trilogias.

Agora que já espinafrei com os pontos negativos, vamos aos pontos positivos. Tecnicamente falando, O Livro de Boba Fett é impecável. A ambientação é muito bem executada e remete aos filmes clássicos da saga, mas sem perder sua originalidade. O uso de efeitos práticos sobrepondo o CGI, que só é usado em cenas que não tinha como fazer de verdade, é de encher os olhos.

Outro ponto irretocável é a trilha sonora de Ludwig Göransson, que passa tudo aquilo que a série poderia entregar. Além da estética em geral do primeiro episódio, que é mais escuro e silencioso, praticamente um filme mudo, que infelizmente não ditou os rumos da série.

Enfim, renegada pela própria Disney desde a publicidade, a série do Boba Fett não se justificou. Tirando os episódios em que ele praticamente não aparece, nos quais o universo é melhor explorado, pouco se desenvolveu ou expandiu do universo clássico dos filmes. Ao fim da série, fica a sensação de que ela não conseguiu justificar sua própria existência e que talvez teria sido melhor investir esse dinheiro na terceira temporada de The Mandalorian do que desembolsar milhões de dólares em uma produção “de passagem” para que o público não esquecesse desse núcleo enquanto não sai Obi-Wan Kenobi. É uma pena que tanto potencial tenha sido desperdiçado assim, sendo que poderia ter virado um marco da franquia Star Wars.

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