Sabe aquele amigo que está sempre atrasado nas tendências e chega empolgada falando de coisas lançadas há um tempão como se fossem novidade? Se esse amigo fosse um filme, ele seria “O Meme do Mal”. Inspirado na lenda da Momo, que viralizou na internet em 2019, quando metade da população brasileira sequer sabia o significado da palavra “pandemia”, o longa chegou nesta segunda (10) ao Star+. Além da sensação incômoda de que esse projeto saiu mais atrasado que imposto de jogador de futebol, ele sofre com um problema complicadíssimo de total ausência de qualidade.
E há casos de filmes que são propositalmente ruins, chegando ao ponto de conseguirem extrair alguma coisa interessante dessa ruindade. Mas “O Meme do Mal” é só ruim mesmo. A única coisa que se extrai dele é arrependimento por ter se prestado ao papel de assistir essa tristeza. É literalmente triste, porque você vê que o péssimo elenco está tentando, está se levando a sério. Eles estão dando o melhor que podem, mas esse melhor faz o Tommy Wiseau parecer o Leonardo DiCaprio.
De verdade, se você sonha em ser ator um dia, mas não se acha capaz, esse filme é um grande incentivador para que você ouse seguir seu sonho. Porque se os membros desse elenco podem se dizer atores, então você também pode.
A “trama” acompanha uma família e o clássico embate geracional dos pais, antiquados e que não entendem nada de tecnologia, e os filhos que não pensam em nada além da internet. A premissa poderia até ser interessante, mas o filme opta por criar um conflito entre os pais porque a filha mais velha decide largar o atletismo para virar uma youtuber de ASMR (aquela galera que grava vídeo sussurrando), e porque o irmão mais novo passa o dia inteiro procurando coisas bizarras na internet. Em uma dessas “navegadas na web”, eles acabam sendo amaldiçoados por algo terrível: uma corrente virtual.
Em meio a tentativas de piada com o TikTok e referências à Momo e à Baleia Azul (pode admitir, você nem lembrava que isso rolou), o longa traz uma série de jovens da cidade participando da tal corrente. O problema é que eles logo começaram a aparecer mutilados ou flagrados se cortando. Os pais, obviamente, acreditam que é culpa da internet e “dessa geração toda errada aí que só quer saber de ZapZap”. E há alguma exploração ou mistério do motivo dos pais se recusarem a acreditar que há algo de errado na situação? Não. Eles só aceitam que a geração tá errada e vida que segue.
O que eles não esperavam é que o tal desafio não era uma tentativa desesperada dos jovens de chamar atenção, mas sim uma maldição real de uma criatura demoníaca chamada “Grimcutty”, que numa tradução livre seria algo como “Sinistro”. Aí, o filme gasta mais de uma hora do “Sinistro” aparecendo aleatoriamente, só que sem a capacidade de criar qualquer clima de tensão. Até mesmo os jumpscares são ruins. Nos longas mais fraquinhos e feitos para arrecadar uma grana, existem aqueles sustos tão óbvios e clichés que até arrancam um sustinho com uma criatura feia aparecendo do nada na tela e um som alto aleatório, mas a direção desse filme é tão ruim que nem mesmo isso é capaz de fazer. É um projeto ausente de medo, é ausente de tensão. É uma alongado de chatice sem sentido. É tão ruim que nem dá pra dizer que foi um longa pensado em arrecadar um dinheirinho, porque tudo nesse projeto é sem lógica. Sério, qual o sentido em fazer um filme sem orçamento e sem o gancho de ser “a corrente do mal” do momento?
Sim, é um filme sem sentido. E olha que o terror consegue trazer situações nonsense para a esfera do aceitável, contanto que sejam construídas de forma a esboçar alguma reação no público. Poxa, a franquia do Chucky tá aí há 40 anos, arrancando gritos de medo e gargalhadas de humor politicamente incorreto com um boneco vodu desbocado e sedento por sangue, sabe? Não é como se o público fosse muito exigente. Mas a franquia do Brinquedo Assassino sabe o que os fãs querem e trabalha por isso. São referência no que se propõe. “O Meme do Mal” é uma série de falhas completamente sem rumo em um longa que mais parece um projeto fracassado de um adolescente que está cursando cinema contra sua vontade.
E há outro ponto completamente desperdiçado aqui, que costuma até mesmo salvar alguns filmes ruins de terror: o design da ameaça. E por se basear na Momo, que tem um visual bizarríssimo, a missão da produção não era difícil. Era só criar algo que remetesse ao pânico que ela causou em crianças e adultos há três anos, quando alguém ainda se importava com ela. Parecia algo óbvio a se fazer, não? Pois é, a produção não pensou assim e trouxe esse bonecão de borracha que se move com a naturalidade de um idoso alcoolizado numa manhã de terça.
Tudo no tal Grimcutty é ruim. Ele não parece ameaçador, não tem porte de vilão e suas perseguições fazem aqueles gráficos antigos de PlayStation 1 parecerem um filme do James Cameron. Tudo nesse filme remete a um desleixo terrível de quem não sabia o que estava fazendo. É tudo tão ruim que sequer chega a parecer que a direção está debochando do público, porque fica nítido que nem para isso o diretor e roteirista John Ross estava disposto. É um longa feito com tanta má vontade que te faz questionar sequer se os supostos profissionais envolvidos nele estavam recebendo pelo trabalho, ou se estavam ali apenas pra cumprir algum favor pra um cunhado.
E assim, eu acredito que a existência desse filme é uma forma de punição para todo mundo que decide deliberadamente tirar 1h40 de sua vida para assistir a um longa chamado “O Meme do Mal”. Você sabe que nada de bom vai vir de uma coisa com esse nome, então por que assisti-lo? Tá aí um mistério mais interessante do que o proposto pela trama. É um filme tão ruim quanto o nome sugere. E por mais otimista que você seja, é realmente necessário contar com uma boa vontade sobrenatural para não terminar a “experiência” completamente revoltado com os rumos que você está tomando na vida ao ter achado que seria uma boa ideia dar play num filme com esse nome.
O Meme do Mal está disponível no Star+.