sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | O Mundo Depois de Nós – Julia Roberts e Ethan Hawke Surtam na Paranoia em Terror Psicológico da Netflix

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O tempo que passamos enfrentando a pandemia da covid 19 mostrou os desafios que a humanidade tem em tentar sobreviver sozinha sem os costumes da modernidade. Como viver sem energia elétrica, sem ter pessoas ao redor ou sem poder visitar os amigos? Os primeiros meses, quando, pela televisão, víamos as pessoas adoecendo, ninguém sabia dizer o que estava acontecendo nem como nos protegermos contra a ameaça invisível que assolava o planeta. Esse sentimento, de ficar no escuro com relação àquilo que ameaça a vida, é o impulso com o qual o espectador pode se identificar ao assistir a ‘O Mundo Depois de Nós’, o mais novo lançamento da Netflix que acaba de chegar na plataforma.



Amanda (Julia Roberts) detesta pessoas. Sua repulsa por outros seres a faz perder o sono e, num impulso, aluga uma casa de praia para passar uns dias de férias com seu marido, Clay (Ethan Hawke), e seus filhos, Archie (Charlie Evans) e Rose (Farrah Mackenzie). Tudo vai bem na incrível mansão com piscina, super espaçosa e isolada do caos de Manhattan. Porém, já no primeiro dia, na praia, um navio desgovernado encalha na areia, estragando o passeio da família. À noite, algo esquisito acontece: G. H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha’la), dono e herdeira da propriedade, aparecem na mansão no meio da noite, pedindo para dormir ali pois algo lhes sucedera no caminho. Incomodada, Amanda fica desconfiada dos dois o tempo todo, enquanto Clay permite a estadia. Diante de episódios tão incomuns, todos terão que aprender a conviver debaixo do mesmo teto, pois coisas ainda mais bizarras estão acontecendo do lado de fora, e ninguém sabe quanto tempo irá durar.

Baseado no romance “Leave the World Behind” (Deixe o Mundo para Trás), de Rumaan Alam – que também é roteirista, junto com Sam Esmail –, o filme da Netflix mistura terror psicológico com suspense e ficção científica, tudo embalado pelo estado de constante ameaça que alimenta a teoria da conspiração, aspectos presentes na vida do cidadão estadunidense comum, com sua mania de achar que é o único capaz de salvar o mundo de si mesmo.

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Com duas horas e vinte de duração, o longa de Sam Esmail vai se desenrolando ao ritmo de cozimento em banho-maria. Apesar disso, é um bocado viciante ficar observando como os personagens vão criando situações de repulsa mútua – comportamento que foi bastante estimulado nos espectadores de reality show ao vivo. Em ‘O Mundo Depois de Nós’ é quase isso: trancados na casa e tentando se conhecerem, ao mesmo tempo sem saberem o que está acontecendo fora da casa, nós, espectadores, ficamos vendo como as intrigas vão acontecendo entre os personagens e aguardamos, com certa ansiedade sádica, a coisa toda dar ruim.

O trio principal – Ethan Hawke, Mahershala Ali, Julia Roberts – encara o desafio com competência, entregando toda a experiência que possuem em personagens muito diferentes entre si. Mas o destaque mesmo é a jovem Myha’la, que constrói uma Ruth cínica, afrontosa e bastante decidida; é difícil debater com ela.

Com uma boa história e um bom elenco, impressiona também o orçamento e a qualidade dos efeitos visuais empregados no projeto, construindo animais e objetos quase reais. Soma-se a isso a bela fotografia em simetria com a paleta de cores do projeto, em tons de azul, cinza e branco, que imprimem emoções pacíficas no filme num contexto caótico e em constante ameaça. Por fim, a competência e a ousadia do diretor Sam Esmail se evidenciam com o jogo de câmeras, mergulhando nos personagens e trazendo outras perspectivas de observar o enredo por ângulos distintos; mesmo que no início seja um pouco demais, no todo é uma escolha interessante e que funciona.

O Mundo Depois de Nós’ é desses filmes que o desenvolvimento dos obstáculos é melhor do que a explicação em si – pois, independente de qual seja, sempre ficará abaixo da expectativa. Um bom filme para dar nó na cabeça, tal como ‘Não Olhe Para Cima’, que a Netflix lançou também num fim de ano e que, assim, começa a criar uma tradição curiosa de fim de ano.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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O tempo que passamos enfrentando a pandemia da covid 19 mostrou os desafios que a humanidade tem em tentar sobreviver sozinha sem os costumes da modernidade. Como viver sem energia elétrica, sem ter pessoas ao redor ou sem poder visitar os amigos? Os primeiros meses, quando, pela televisão, víamos as pessoas adoecendo, ninguém sabia dizer o que estava acontecendo nem como nos protegermos contra a ameaça invisível que assolava o planeta. Esse sentimento, de ficar no escuro com relação àquilo que ameaça a vida, é o impulso com o qual o espectador pode se identificar ao assistir a ‘O Mundo Depois de Nós’, o mais novo lançamento da Netflix que acaba de chegar na plataforma.

Amanda (Julia Roberts) detesta pessoas. Sua repulsa por outros seres a faz perder o sono e, num impulso, aluga uma casa de praia para passar uns dias de férias com seu marido, Clay (Ethan Hawke), e seus filhos, Archie (Charlie Evans) e Rose (Farrah Mackenzie). Tudo vai bem na incrível mansão com piscina, super espaçosa e isolada do caos de Manhattan. Porém, já no primeiro dia, na praia, um navio desgovernado encalha na areia, estragando o passeio da família. À noite, algo esquisito acontece: G. H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha’la), dono e herdeira da propriedade, aparecem na mansão no meio da noite, pedindo para dormir ali pois algo lhes sucedera no caminho. Incomodada, Amanda fica desconfiada dos dois o tempo todo, enquanto Clay permite a estadia. Diante de episódios tão incomuns, todos terão que aprender a conviver debaixo do mesmo teto, pois coisas ainda mais bizarras estão acontecendo do lado de fora, e ninguém sabe quanto tempo irá durar.

Baseado no romance “Leave the World Behind” (Deixe o Mundo para Trás), de Rumaan Alam – que também é roteirista, junto com Sam Esmail –, o filme da Netflix mistura terror psicológico com suspense e ficção científica, tudo embalado pelo estado de constante ameaça que alimenta a teoria da conspiração, aspectos presentes na vida do cidadão estadunidense comum, com sua mania de achar que é o único capaz de salvar o mundo de si mesmo.

Com duas horas e vinte de duração, o longa de Sam Esmail vai se desenrolando ao ritmo de cozimento em banho-maria. Apesar disso, é um bocado viciante ficar observando como os personagens vão criando situações de repulsa mútua – comportamento que foi bastante estimulado nos espectadores de reality show ao vivo. Em ‘O Mundo Depois de Nós’ é quase isso: trancados na casa e tentando se conhecerem, ao mesmo tempo sem saberem o que está acontecendo fora da casa, nós, espectadores, ficamos vendo como as intrigas vão acontecendo entre os personagens e aguardamos, com certa ansiedade sádica, a coisa toda dar ruim.

O trio principal – Ethan Hawke, Mahershala Ali, Julia Roberts – encara o desafio com competência, entregando toda a experiência que possuem em personagens muito diferentes entre si. Mas o destaque mesmo é a jovem Myha’la, que constrói uma Ruth cínica, afrontosa e bastante decidida; é difícil debater com ela.

Com uma boa história e um bom elenco, impressiona também o orçamento e a qualidade dos efeitos visuais empregados no projeto, construindo animais e objetos quase reais. Soma-se a isso a bela fotografia em simetria com a paleta de cores do projeto, em tons de azul, cinza e branco, que imprimem emoções pacíficas no filme num contexto caótico e em constante ameaça. Por fim, a competência e a ousadia do diretor Sam Esmail se evidenciam com o jogo de câmeras, mergulhando nos personagens e trazendo outras perspectivas de observar o enredo por ângulos distintos; mesmo que no início seja um pouco demais, no todo é uma escolha interessante e que funciona.

O Mundo Depois de Nós’ é desses filmes que o desenvolvimento dos obstáculos é melhor do que a explicação em si – pois, independente de qual seja, sempre ficará abaixo da expectativa. Um bom filme para dar nó na cabeça, tal como ‘Não Olhe Para Cima’, que a Netflix lançou também num fim de ano e que, assim, começa a criar uma tradição curiosa de fim de ano.

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