quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | ‘O Mundo Sombrio de Sabrina’ chega ao fim com uma 4ª temporada divertida e complacente

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Está na hora de dar adeus a 2020 da melhor maneira possível: com novos episódios de O Mundo Sombrio de Sabrina, os últimos oito capítulos da saga que nos introduziu a Kiernan Shipka como a envolvente e rebelde bruxa adolescente Sabrina Spellman. Afinal, a Netflix resolveu cancelar a produção em meio às gravações do quarto ano da série, descontentando fãs ao redor do mundo que não aceitavam revisitar a mística Greendale pela última vez. De qualquer forma, chorar pelo leite derramado não adianta de muita coisa – e a plataforma de streaming fez o máximo para fornecer aos espectadores uma conclusão digna da divertida aventura ao lado da jovem feiticeira e de seu apaixonante e arrepiante universo.

A verdade é que, a princípio, a série causou certo impacto negativo naqueles que esperavam um reboot ou uma sequência inspirada em ‘Sabrina – Aprendiz de Feiticeira’, sitcom estrelada por Melissa Joan Hart. Entretanto, a ideia por trás de Roberto Aguirre-Sacasa, showrunner do popular drama teen Riverdale, era resgatar o teor melodramático e anfigúrico da Archie Comics para construir narrativas nostálgicas e atemporais o bastante para nos apresentar às criaturas que se escondem na escuridão. Ao longo de 36 episódios, nos assustamos com goblins, demônios e arautos do caos – e nada poderia nos preparar para a ameaça final que se levantaria contra Greendale no final deste ano. Para o bem ou para o mal, Aguirre-Sacasa reuniu o melhor de Sabrina para buscar um desfecho honroso, sem perceber que transformou essa iteração em um espetáculo circinal e apressado.



Depois de enfrentar Lúcifer Estrela-da-Manhã (Luke Cook), Lilith (Michelle Gomez), clãs de bruxos pagãos e até mesmo deuses seculares, está na hora de Sabrina se preparar para a batalha de sua vida: aproximando-se de seu aniversário de dezessete anos, a caçada pelo Padre Faustus Blackwood (Richard Coyle) continua na ativa, visto que seus objetivos ainda não foram totalmente revelados. Blackwood infligiu dor e discórdia entre as bruxas de seu próprio clã, até que elas se revoltassem contra a hierarquia misógina de Lúcifer e passassem a adorar o poder etéreo de Hécate, que se tornou a divindade conselheira e regente de uma nova Academia de Artes Ocultas. Aliando-se à Zelda (Miranda Otto), Hilda (Lucy Davis), Ambrose (Chance Perdomo) e outras pessoas de grande confiança, Sabrina agora deve enfrentar os Terrores do Sobrenatural, entidades mais antigas do que o próprio universo que são agouros do Vazio, um vórtice que consome a tudo e a todos sem escrúpulos.

Esse talvez seja o principal deslize da nova temporada de ‘Mundo Sombrio’. Aguirre-Sacasa ainda tem domínio sobre todos os protagonistas e coadjuvantes e cuida para que o microcosmos de Greendale não sofra expansões para além do necessário, mas sim seja guarnecido em explorações do que já existe. Em outras palavras, as novidades vêm conforme as personalidades dos personagens se transmutam e amadurecem impiedosamente perante a iminência do apocalipse, ainda que resvalem em certas fórmulas novelescas para ganharem movimento. Sabrina deve aprender que sua solidão não é nada mais que um impulso para compreender o lugar que deve ocupar na Terra e nas múltiplas realidades que existem além dela – incluindo seu “eu” que comanda o Inferno; procurando o tão sonhado amor em ocasiões impossíveis, leva algum tempo até que ela compreenda que a pessoa certa vai aparecer, mais cedo ou mais tarde.

Por enquanto, sua preocupação é salvar aqueles que ama. A cada capítulo, ela e seus fiéis companheiros encaram figuras misteriosas que usam de semblantes familiares para se materializarem e se mesclarem aos habitantes de Greendale – como é o caso do Indesejado ou do Estranho. Tais criaturas não unem forças para atacarem de uma vez, resolvendo espalharem-se numa preferência antológica que quebra o ritmo entre os capítulos e cai nas conhecidas inflexões fragmentadas de tantas outras produções fantásticas. O showrunner inclusive parece pegar emprestado os fracos roteiros das últimas temporadas de ‘Once Upon a Time’, forçando químicas inexistentes entre uma narrativa e outra para tentar uni-las em um bem comum.

A nova temporada da série deveria se concretizar polidamente, servindo como chave de ouro de um arco que ainda tinha muito para acabar – e faz isso, de certa forma. Apesar de não conseguir se sustentar por completo, esse aspecto coletâneo é bastante prático em episódios como “The Imp of the Perverse”, em que somos transportados para uma realidade alternativa; ou então de “The Endless”, em que o drama se funde com a comédia de situações e até mesmo abre espaço para a presença icônica de Caroline Rhea e Beth Broderick. Acrescentando algumas camadas de terror à irreverência estética, Aguirre-Sacasa e seu time criativo não pensa duas vezes antes de banhar as cenas com sangue, ódio e anarquia. Mesmo assim, é quase ridículo pensar que, valendo-se de quase uma hora por capítulo, ele não consiga contar tudo o que deseja e tenha que correr para não deixar pontas soltas.

Pela primeira vez, os exagerados caprichos estéticos não atrapalham os resplandecentes e melancólicos cenários, motivo pelo qual nossa atenção fica mais aguçada para as distorções de roteiro. O elenco permanece incrível, como sempre, e se deleita ao máximo antes de um grand finale que almeja a uma catarse reflexiva, mas a alcança em partes. Era de se esperar que um sacrifício viesse acompanhando a iteração; entretanto, sua obviedade é forte demais para nos causar o choque prometido.

O Mundo Sombrio de Sabrina tem elementos suficientemente espirituosos para levar a audiência numa calma e confortável jornada. Por mais que desejássemos algo um tanto quanto mais ousado, essas parcas centelhas logo se apagam em prol de agradar aos fãs em vez de arriscar qualquer coisa que fugisse do convencional. Todavia, Aguirre-Sacasa acredita que esse não era um momento para peripécias, então aposta numa comedida segunda opção: divertir – e mais nada.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A verdade é que, a princípio, a série causou certo impacto negativo naqueles que esperavam um reboot ou uma sequência inspirada em ‘Sabrina – Aprendiz de Feiticeira’, sitcom estrelada por Melissa Joan Hart. Entretanto, a ideia por trás de Roberto Aguirre-Sacasa, showrunner do popular drama teen Riverdale, era resgatar o teor melodramático e anfigúrico da Archie Comics para construir narrativas nostálgicas e atemporais o bastante para nos apresentar às criaturas que se escondem na escuridão. Ao longo de 36 episódios, nos assustamos com goblins, demônios e arautos do caos – e nada poderia nos preparar para a ameaça final que se levantaria contra Greendale no final deste ano. Para o bem ou para o mal, Aguirre-Sacasa reuniu o melhor de Sabrina para buscar um desfecho honroso, sem perceber que transformou essa iteração em um espetáculo circinal e apressado.

Depois de enfrentar Lúcifer Estrela-da-Manhã (Luke Cook), Lilith (Michelle Gomez), clãs de bruxos pagãos e até mesmo deuses seculares, está na hora de Sabrina se preparar para a batalha de sua vida: aproximando-se de seu aniversário de dezessete anos, a caçada pelo Padre Faustus Blackwood (Richard Coyle) continua na ativa, visto que seus objetivos ainda não foram totalmente revelados. Blackwood infligiu dor e discórdia entre as bruxas de seu próprio clã, até que elas se revoltassem contra a hierarquia misógina de Lúcifer e passassem a adorar o poder etéreo de Hécate, que se tornou a divindade conselheira e regente de uma nova Academia de Artes Ocultas. Aliando-se à Zelda (Miranda Otto), Hilda (Lucy Davis), Ambrose (Chance Perdomo) e outras pessoas de grande confiança, Sabrina agora deve enfrentar os Terrores do Sobrenatural, entidades mais antigas do que o próprio universo que são agouros do Vazio, um vórtice que consome a tudo e a todos sem escrúpulos.

Esse talvez seja o principal deslize da nova temporada de ‘Mundo Sombrio’. Aguirre-Sacasa ainda tem domínio sobre todos os protagonistas e coadjuvantes e cuida para que o microcosmos de Greendale não sofra expansões para além do necessário, mas sim seja guarnecido em explorações do que já existe. Em outras palavras, as novidades vêm conforme as personalidades dos personagens se transmutam e amadurecem impiedosamente perante a iminência do apocalipse, ainda que resvalem em certas fórmulas novelescas para ganharem movimento. Sabrina deve aprender que sua solidão não é nada mais que um impulso para compreender o lugar que deve ocupar na Terra e nas múltiplas realidades que existem além dela – incluindo seu “eu” que comanda o Inferno; procurando o tão sonhado amor em ocasiões impossíveis, leva algum tempo até que ela compreenda que a pessoa certa vai aparecer, mais cedo ou mais tarde.

Por enquanto, sua preocupação é salvar aqueles que ama. A cada capítulo, ela e seus fiéis companheiros encaram figuras misteriosas que usam de semblantes familiares para se materializarem e se mesclarem aos habitantes de Greendale – como é o caso do Indesejado ou do Estranho. Tais criaturas não unem forças para atacarem de uma vez, resolvendo espalharem-se numa preferência antológica que quebra o ritmo entre os capítulos e cai nas conhecidas inflexões fragmentadas de tantas outras produções fantásticas. O showrunner inclusive parece pegar emprestado os fracos roteiros das últimas temporadas de ‘Once Upon a Time’, forçando químicas inexistentes entre uma narrativa e outra para tentar uni-las em um bem comum.

A nova temporada da série deveria se concretizar polidamente, servindo como chave de ouro de um arco que ainda tinha muito para acabar – e faz isso, de certa forma. Apesar de não conseguir se sustentar por completo, esse aspecto coletâneo é bastante prático em episódios como “The Imp of the Perverse”, em que somos transportados para uma realidade alternativa; ou então de “The Endless”, em que o drama se funde com a comédia de situações e até mesmo abre espaço para a presença icônica de Caroline Rhea e Beth Broderick. Acrescentando algumas camadas de terror à irreverência estética, Aguirre-Sacasa e seu time criativo não pensa duas vezes antes de banhar as cenas com sangue, ódio e anarquia. Mesmo assim, é quase ridículo pensar que, valendo-se de quase uma hora por capítulo, ele não consiga contar tudo o que deseja e tenha que correr para não deixar pontas soltas.

Pela primeira vez, os exagerados caprichos estéticos não atrapalham os resplandecentes e melancólicos cenários, motivo pelo qual nossa atenção fica mais aguçada para as distorções de roteiro. O elenco permanece incrível, como sempre, e se deleita ao máximo antes de um grand finale que almeja a uma catarse reflexiva, mas a alcança em partes. Era de se esperar que um sacrifício viesse acompanhando a iteração; entretanto, sua obviedade é forte demais para nos causar o choque prometido.

O Mundo Sombrio de Sabrina tem elementos suficientemente espirituosos para levar a audiência numa calma e confortável jornada. Por mais que desejássemos algo um tanto quanto mais ousado, essas parcas centelhas logo se apagam em prol de agradar aos fãs em vez de arriscar qualquer coisa que fugisse do convencional. Todavia, Aguirre-Sacasa acredita que esse não era um momento para peripécias, então aposta numa comedida segunda opção: divertir – e mais nada.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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