domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Oficial e o Espião – O novo e exímio trabalho do polêmico Roman Polanski

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O berço das fake news

Em meio a discussões cada vez mais acaloradas sobre separar o homem do artista, chega o novo trabalho do prestigiado e muito polêmico diretor Roman Polasnki.

Para a maior parte do público, um filme é apenas o seu conteúdo – e sua procura irá resultar em se o tema apresentado em tal produção é de seu agrado ou interesse. Algo bem simples e até, de certa forma, puro.



Para quem busca aquele algo mais, e se interessa por cinema de uma forma um pouco mais aprofundada, saber dos bastidores de uma obra é praticamente tão interessante, ou até mais, do que assistir ao produto final de fato. A maioria dos cinéfilos começou assim, buscando mais informações sobre aquele filme que adora e, consequentemente, seus atores e diretor.

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Cabe também ao profissional que trabalha levando tais informações ao público, alimentá-lo com todos os fatos em relação aos mais diversos projetos. Há aqueles que acreditam que a concentração deve ser única e exclusivamente no trabalho, ou seja, no filme. Mas a verdade é que certas obras se entrelaçam tanto com seus autores (em especial dizendo respeito à fase em que se encontram na vida privada) que se torna quase impossível desassociá-los.

Woody Allen, por exemplo, outra figura polêmica, teve seu recente Um Dia de Chuva em Nova York (2019) adiado por um ano, quebrando assim uma tradição anual de lançamentos.  E o motivo? Adivinhou quem disse sua vida pessoal. Não deixa de ser curioso que seu trabalho anterior tenha sido Roda Gigante (2017), filme que falava, entre outras coisas, sobre uma mulher (Kate Winslet) disposta a eliminar sua enteada (Juno Temple), após esta se tornar um estorvo para a protagonista. A arte imitando a vida, ou vice versa?

Em O Oficial e o Espião, coincidentemente (ou não), Roman Polanski, julgado culpado pelo estupro de uma menor de idade ainda na década de 1970 (e desde então foragido dos EUA), decide contar a história de um homem injustamente perseguido e acusado de traição, até que um colega luta contra tudo e contra todos a fim de provar sua inocência.

Pelo filme, Roman Polanski, de 86 anos, veterano imortalizado pela sétima arte, levou o prêmio de melhor diretor no último e recente César, considerado o Oscar francês. O fato gerou protesto e fez com que diversas atrizes renomadas de seu país e jornalistas se pronunciassem contra, argumentando que a vitória para Polanski (e não para o filme) é um recado político de uma França machista e retrógrada, que deveria ser repensada.

Tudo isso pode estar certo, o que não muda o fato de Roman Polanski ser um gênio do cinema. Dono de um currículo de filmes como O Bebê de Rosamery (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002), o cineasta entrega com O Oficial e o Espião outro grande acerto em uma obra que beira a perfeição.

A produção é belíssima, a cada frame exalando suntuosidade. A atenção aos detalhes de cada pequena coisa que compõe a obra, nos faz lembrar o quanto vale o trabalho de pesos pesados como ele. E até nos faz esquecer as escorregadas recentes – em especial o anêmico Baseado em Fatos Reais (2017), seu filme anterior.

J’accuse no título original (algo como ‘Eu Acuso’), é a adaptação do livro de Robert Harris, que o próprio ao lado do cineasta transferem para o roteiro. A obra, é claro, baseada num dos mais famosos casos de erro envolvendo o exército francês, quando em 1894, o Capitão Alfred Dreyfus, um judeu, foi injustamente acusado e condenado de traição, tendo como pena a prisão perpétua numa ilha remota. A trágica vítima do sistema é interpretado com segurança pelo jovem talento Louis Garrel – que possui menos tempo em cena do que gostaríamos.

Quem assume indiscutivelmente o protagonismo é o Oscarizado Jean Dujardin, na pele do honesto paladino da justiça Coronel Georges Picquart. Logo de começo, o clima esquenta entre Picquart e seu aluno Dreyfus em um flashback, que o acusa de prejudicá-lo diminuindo sua nota simplesmente pelo fato deste ser um judeu. O protagonista responde honestamente que não morre de amores por sua herança, mas que o fato jamais o impediria de um discernimento justo. Esta cena serve para delinear a personalidade e o caráter de Picquart ao longo da projeção.

É assim que o personagem de Dujardin irá bater de frente com o estabelecimento, seus superiores e tudo e todos para provar a inocência de Dreyfus, uma vez tendo reunido as provas que alegam o fato – além de outras evidências que apresentam o verdadeiro culpado da traição. A verdade, no entanto, seria muito inconveniente ao exército, já que provaria o claro erro do importantíssimo pilar da nação, fazendo o povo diminuir um pouco a fé em sua incontestabilidade.

O Oficial e o Espião é um filme de muita pompa. A parte técnica é simplesmente impecável. A direção de arte, figurinos e, em especial, o som da obra nos chama atenção a todo instante de que estamos diante de uma produção grandiosa.

Jean Dujardin, ator mais acostumado a comédias e farsas, mostra que é um intérprete de mão cheia, trabalhando bem um material sério como os grandes galãs protagonistas de outrora. O francês possui o semblante clássico das lendas.

A narrativa de Polanski pode ser um problema para alguns e se arrasta quase perdendo o ritmo na metade da projeção, com trechos levemente repetitivos, uma vez que entendemos para onde essa história está caminhando. Este é um filme investigativo e quase inerte, que depende muito de leituras de documentos e conversas em escritórios. Ou seja, recomendado a quem tem estômago para um cinema mais maduro e letárgico.

O dinamismo retorna no último ato, onde a máquina está em movimento com Dujardin preparado para travar uma batalha nos tribunais – e os incessantes artifícios do desenrolar (com direito a tentativas de assassinato, guerras de patentes, a importância de certos veículos jornalístico já naquela época e muito fervor em novos julgamentos).

Mais do que um atestado de clemência, O Oficial e o Espião é uma crítica ao militarismo cego – do cumprir ordens sem perguntas, e fazer qualquer coisa por um bem maior não importando a quem doer. Elementos ideológicos ainda muito presentes em nossa sociedade mundial (retornando com força inclusive).

Pode Polanski, um ser tão “perverso” servir de ponte para uma mensagem e causa tão necessárias e justas para nossos dias? Isso é com cada um…

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Para a maior parte do público, um filme é apenas o seu conteúdo – e sua procura irá resultar em se o tema apresentado em tal produção é de seu agrado ou interesse. Algo bem simples e até, de certa forma, puro.

Para quem busca aquele algo mais, e se interessa por cinema de uma forma um pouco mais aprofundada, saber dos bastidores de uma obra é praticamente tão interessante, ou até mais, do que assistir ao produto final de fato. A maioria dos cinéfilos começou assim, buscando mais informações sobre aquele filme que adora e, consequentemente, seus atores e diretor.

Cabe também ao profissional que trabalha levando tais informações ao público, alimentá-lo com todos os fatos em relação aos mais diversos projetos. Há aqueles que acreditam que a concentração deve ser única e exclusivamente no trabalho, ou seja, no filme. Mas a verdade é que certas obras se entrelaçam tanto com seus autores (em especial dizendo respeito à fase em que se encontram na vida privada) que se torna quase impossível desassociá-los.

Woody Allen, por exemplo, outra figura polêmica, teve seu recente Um Dia de Chuva em Nova York (2019) adiado por um ano, quebrando assim uma tradição anual de lançamentos.  E o motivo? Adivinhou quem disse sua vida pessoal. Não deixa de ser curioso que seu trabalho anterior tenha sido Roda Gigante (2017), filme que falava, entre outras coisas, sobre uma mulher (Kate Winslet) disposta a eliminar sua enteada (Juno Temple), após esta se tornar um estorvo para a protagonista. A arte imitando a vida, ou vice versa?

Em O Oficial e o Espião, coincidentemente (ou não), Roman Polanski, julgado culpado pelo estupro de uma menor de idade ainda na década de 1970 (e desde então foragido dos EUA), decide contar a história de um homem injustamente perseguido e acusado de traição, até que um colega luta contra tudo e contra todos a fim de provar sua inocência.

Pelo filme, Roman Polanski, de 86 anos, veterano imortalizado pela sétima arte, levou o prêmio de melhor diretor no último e recente César, considerado o Oscar francês. O fato gerou protesto e fez com que diversas atrizes renomadas de seu país e jornalistas se pronunciassem contra, argumentando que a vitória para Polanski (e não para o filme) é um recado político de uma França machista e retrógrada, que deveria ser repensada.

Tudo isso pode estar certo, o que não muda o fato de Roman Polanski ser um gênio do cinema. Dono de um currículo de filmes como O Bebê de Rosamery (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002), o cineasta entrega com O Oficial e o Espião outro grande acerto em uma obra que beira a perfeição.

A produção é belíssima, a cada frame exalando suntuosidade. A atenção aos detalhes de cada pequena coisa que compõe a obra, nos faz lembrar o quanto vale o trabalho de pesos pesados como ele. E até nos faz esquecer as escorregadas recentes – em especial o anêmico Baseado em Fatos Reais (2017), seu filme anterior.

J’accuse no título original (algo como ‘Eu Acuso’), é a adaptação do livro de Robert Harris, que o próprio ao lado do cineasta transferem para o roteiro. A obra, é claro, baseada num dos mais famosos casos de erro envolvendo o exército francês, quando em 1894, o Capitão Alfred Dreyfus, um judeu, foi injustamente acusado e condenado de traição, tendo como pena a prisão perpétua numa ilha remota. A trágica vítima do sistema é interpretado com segurança pelo jovem talento Louis Garrel – que possui menos tempo em cena do que gostaríamos.

Quem assume indiscutivelmente o protagonismo é o Oscarizado Jean Dujardin, na pele do honesto paladino da justiça Coronel Georges Picquart. Logo de começo, o clima esquenta entre Picquart e seu aluno Dreyfus em um flashback, que o acusa de prejudicá-lo diminuindo sua nota simplesmente pelo fato deste ser um judeu. O protagonista responde honestamente que não morre de amores por sua herança, mas que o fato jamais o impediria de um discernimento justo. Esta cena serve para delinear a personalidade e o caráter de Picquart ao longo da projeção.

É assim que o personagem de Dujardin irá bater de frente com o estabelecimento, seus superiores e tudo e todos para provar a inocência de Dreyfus, uma vez tendo reunido as provas que alegam o fato – além de outras evidências que apresentam o verdadeiro culpado da traição. A verdade, no entanto, seria muito inconveniente ao exército, já que provaria o claro erro do importantíssimo pilar da nação, fazendo o povo diminuir um pouco a fé em sua incontestabilidade.

O Oficial e o Espião é um filme de muita pompa. A parte técnica é simplesmente impecável. A direção de arte, figurinos e, em especial, o som da obra nos chama atenção a todo instante de que estamos diante de uma produção grandiosa.

Jean Dujardin, ator mais acostumado a comédias e farsas, mostra que é um intérprete de mão cheia, trabalhando bem um material sério como os grandes galãs protagonistas de outrora. O francês possui o semblante clássico das lendas.

A narrativa de Polanski pode ser um problema para alguns e se arrasta quase perdendo o ritmo na metade da projeção, com trechos levemente repetitivos, uma vez que entendemos para onde essa história está caminhando. Este é um filme investigativo e quase inerte, que depende muito de leituras de documentos e conversas em escritórios. Ou seja, recomendado a quem tem estômago para um cinema mais maduro e letárgico.

O dinamismo retorna no último ato, onde a máquina está em movimento com Dujardin preparado para travar uma batalha nos tribunais – e os incessantes artifícios do desenrolar (com direito a tentativas de assassinato, guerras de patentes, a importância de certos veículos jornalístico já naquela época e muito fervor em novos julgamentos).

Mais do que um atestado de clemência, O Oficial e o Espião é uma crítica ao militarismo cego – do cumprir ordens sem perguntas, e fazer qualquer coisa por um bem maior não importando a quem doer. Elementos ideológicos ainda muito presentes em nossa sociedade mundial (retornando com força inclusive).

Pode Polanski, um ser tão “perverso” servir de ponte para uma mensagem e causa tão necessárias e justas para nossos dias? Isso é com cada um…

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