sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | O Pai – Um Sensível Filme sobre a Perlaboração da Perda

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Durante o período de reclusão social, o cinema Petras Belas Artes, de São Paulo, criou sua própria plataforma de streaming, o Petra Belas a la Carte, que em abril esteve com seus filmes disponíveis gratuitamente para novos assinantes e a partir de maio passará a disponibilizar quatro novos filmes semanais ao seu catálogo, especializado em filmes cults e línguas estrangeiras. É o caso de ‘O Pai’, da Bulgária, que chegou na última quinta-feira à plataforma de cinema em casa.

Previsto inicialmente para estrear em tela grande, o longa conta a história de um pai e um filho que não possuem um bom relacionamento, e essa relação é profundamente abalada pela morte repentina da mãe. Sem saber como lidar com a situação, Pavel (Ivan Barnev) viaja para a casa dos pais para assistir ao funeral da mãe. Só que a momento pelo qual sua família está passando fica ainda pior quando o pai, Vasil Angelov (Ivan Savov) rejeita sua presença e entra num estado de negação sobre a morte da esposa.

Com uma sensibilidade crua e realista, o roteiro de Kristina Grozeva (que também dirigiu o longa, conjuntamente com Petar Valchanov) trabalha o luto e a perlaboração de maneira direta e humana – e, portanto, cheia de defeitos e imperfeições. Ao colocar pai e filho juntos para atravessarem uma fatalidade inevitável, o roteiro retrata todo tipo de dificuldade que o ser humano pode vir a se deparar diante da morte: a dor da perda; a culpa pelas últimas palavras não ditas; a raiva de não poder fazer nada; a negação em aceitar o que aconteceu; a alienação, que nos faz querer se agarrar ao primeiro guru que se diz capaz de trazer mensagens dos parentes queridos; a rejeição a todo tipo de ajuda oferecida; a tristeza e a apatia, que vêm da saudade de não mais encontrarmos quem amamos.

Em vez de criar um clima pesado, ‘O Pai’ apresenta todas essas situações com pinceladas de humor e de drama. Através do turbilhão de sentimentos que o pai Vasil enfrenta para tentar perlaborar a dor da perda de sua esposa – somado às atitudes igualmente vertiginosas do filho Pavel, que tenta de todas as maneiras controlar os surtos do pai – o filme faz o espectador refletir sobre a pequenez humana diante do incontrolável, mostrando que, no final, tudo o que temos é o amor que cativamos nas pessoas que conhecemos na nossa vida.

Com uma hora e meia de duração e todo falado em búlgaro, ‘O Pai’ é um filme extremamente humano, com uma bonita mensagem para esses tempos difíceis. Vale a pena assistir.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Previsto inicialmente para estrear em tela grande, o longa conta a história de um pai e um filho que não possuem um bom relacionamento, e essa relação é profundamente abalada pela morte repentina da mãe. Sem saber como lidar com a situação, Pavel (Ivan Barnev) viaja para a casa dos pais para assistir ao funeral da mãe. Só que a momento pelo qual sua família está passando fica ainda pior quando o pai, Vasil Angelov (Ivan Savov) rejeita sua presença e entra num estado de negação sobre a morte da esposa.

Com uma sensibilidade crua e realista, o roteiro de Kristina Grozeva (que também dirigiu o longa, conjuntamente com Petar Valchanov) trabalha o luto e a perlaboração de maneira direta e humana – e, portanto, cheia de defeitos e imperfeições. Ao colocar pai e filho juntos para atravessarem uma fatalidade inevitável, o roteiro retrata todo tipo de dificuldade que o ser humano pode vir a se deparar diante da morte: a dor da perda; a culpa pelas últimas palavras não ditas; a raiva de não poder fazer nada; a negação em aceitar o que aconteceu; a alienação, que nos faz querer se agarrar ao primeiro guru que se diz capaz de trazer mensagens dos parentes queridos; a rejeição a todo tipo de ajuda oferecida; a tristeza e a apatia, que vêm da saudade de não mais encontrarmos quem amamos.

Em vez de criar um clima pesado, ‘O Pai’ apresenta todas essas situações com pinceladas de humor e de drama. Através do turbilhão de sentimentos que o pai Vasil enfrenta para tentar perlaborar a dor da perda de sua esposa – somado às atitudes igualmente vertiginosas do filho Pavel, que tenta de todas as maneiras controlar os surtos do pai – o filme faz o espectador refletir sobre a pequenez humana diante do incontrolável, mostrando que, no final, tudo o que temos é o amor que cativamos nas pessoas que conhecemos na nossa vida.

Com uma hora e meia de duração e todo falado em búlgaro, ‘O Pai’ é um filme extremamente humano, com uma bonita mensagem para esses tempos difíceis. Vale a pena assistir.

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